Uma resolução do Conselho Federal de Medicina impede a realização do diagnóstico remoto, sem a presença de um médico. Porém, a tecnologia proporciona exames, procedimentos e estudos que possibilitam que o profissional tenha acesso aos dados dos pacientes sem precisar se deslocar até lugares distantes. Em Viçosa, na Zona da Mata mineira, pesquisadores do Núcleo Interdisciplinar de Análise de Sinais da Universidade Federal de Viçosa (UFV) finalizam a criação de um aparelho que permite enviar dados de um eletrocardiograma pela corrente elétrica. "A palavra é capilaridade. A vantagem é que vamos usar a própria rede elétrica e posso chegar aonde a internet não chegou", avalia o professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UFV Leonardo Bonato. A corrente elétrica está presente em 98% das localidades brasileiras e, mesmo com a internet, continua sendo a alternativa de comunicação mais democrática.
Bonato desenvolve, em parceria com alunos, o equipamento chamado Power Line Comunication, que possibilita a transmissão dos resultados de eletrocardiogramas pela rede elétrica. O professor compara a rede elétrica com o ar para transmissão de ondas eletromagnéticas. "Pegamos o aparelho de eletrocardiograma, aplicamos nele algumas manipulações eletrônicas para o processamento de sinal, modulamos as altas frequências e passamos o sinal para a rede elétrica", detalha o professor. Para o sinal ser captado foi montado um decodificador. Segundo Bonato, o projeto está sendo desenvolvido para o mercado e se houver interesse pode ser comercializado. Alguns estudantes já passaram pelo projeto, que é acompanhado, atualmente, pela mestranda Joyce Olivia Galo.
Se a internet não abrange todos os rincões do país, é essencial para ajudar em diagnósticos. Várias pesquisas apontam a importância da rede mundial de computadores como uma ferramenta de auxílio para a saúde populacional. Estudo realizado no Center for Studying Health System Change (HSC) provou que 58% dos adultos americanos procuraram por informações médicas na internet. Cerca de 60% deles consideram que o que descobriram afetou a forma como cuidam de sua saúde e aprenderam a tratar corretamente alguma enfermidade. Outra pesquisa, essa do Manhattan Research, registrou que o cidadão dos Estados Unidos procura esses dados em média três vezes por mês.
O médico Leonardo Florêncio, CEO da ePrimeCare, aposta no conhecimento a distância e, para isso, desenvolve bancos de dados com consumidores de planos de saúde e programas de governo, entre eles o programa Mães de Minas, que promove ações de educação em saúde para gestantes e mães de bebês na primeira infância. Por meio de um site, distribuição de folders e publicação de conteúdo educativo em jornais, revistas e TV, a iniciativa orienta essas mulheres sobre o autocuidado.
CONTEÚDO DE PREVENÇÃO
No site estão disponíveis várias opções de conteúdo, como dicas de médicos ginecologistas, pediatras, clínicos gerais e enfermeiras. A gestante ou mãe pode interagir com outras mães e profissionais de saúde por meio da rede social do Mães de Minas. Na rede, é possível compartilhar, curtir e comentar notícias, imagens de ecografias, fotos do bebê, além de participar de fóruns de discussão com grupos temáticos: etapas da gravidez, amamentação, cuidados com o bebê. Esse tipo de iniciativa é interessante, mas está restrito a quem acessa computador.
"A população não é orientada sobre medidas de prevenção e cuidados. É muito difícil esperar que a pessoa saiba o que ela precisa fazer sendo leiga", acrescenta Leonardo Florêncio. Para o médico, o serviço de saúde (governo ou plano privado) deve assumir o papel de coordenador da saúde da população. Nos últimos anos, o setor privado passou a gastar muito dinheiro com o cuidado com a saúde e há mais de uma década já estão em discussão maneiras de implementar o cuidado proativo. Uma das maneiras, segundo Florêncio, é fazer análise de bancos de dados epidemiológicos e, dessa maneira, entender os riscos de um determinado grupo de pessoas.
CONTATO VIRTUAL
O passo seguinte, segundo Florêncio, é chegar até essa pessoa. "Enviamos e-mails e mensagens de texto no celular. Existem vários tipos de mensagens que podem ser encaminhadas e quando a pessoa recebe cria um gatilho, que é diferente de ver uma propaganda na televisão", compara Florêncio. "A pessoa recebe e pensa: ‘legal a preocupação’". Com isso, entende Florêncio, há grande chance de um exame ser feito.
Depois dessa primeira abordagem, a empresa manda outras mensagens oferecendo um web site com informações sobre a doença. "Uma plataforma persuasiva, com conteúdo multimídia, vídeos, infográficos e artigos que explicam sobre os riscos de não fazer o exame", detalha.
Há ainda uma rede social criada para as pessoas postarem dúvidas. "Médicos, enfermeiros e nutricionistas acompanham e dão explicações", afirma Florêncio, que ressalta que não é uma consulta remota, modalidade proibida pelo Conselho Federal de Medicina, e o suporte não tem custo para o cliente. "Quem paga para ele é a instituição", explica. O sistema começou a ser feito recentemente e, segundo o executivo, ainda não é possível mensurar os resultados.
Mesmo sem dados em mãos, Florêncio tem grande expectativa. "Conseguimos até mesmo prevenir epidemias com sistemas de infovigilância nas redes sociais", afirma. "Tem-se discutido o assunto conceitualmente. Existem iniciativas isoladas, mas o paradigma atual é de não participação do Big Data para o contexto de soluções em saúde", lamenta Florêncio. De acordo com o médico, a tecnologia não substitui os profissionais, mas ajuda muito no gerenciamento das ações. "Ela proporciona um benefício de apoio e gera mais conhecimento para auxiliar médicos e organizações nas tomadas de decisão", explica.
O que diz a lei:
O Código de Ética Médica prevê:
Capítulo V - Relação pacientes e familiares
É vedado ao médico:
Artigo 37 - Prescrever tratamento ou outros procedimentos sem exame direto do paciente, salvo em caso de urgência ou emergência e impossibilidade comprovada de realizá-lo, devendo, nesse caso, fazê-lo imediatamente após cessar o impedimento.
Capítulo XIII - Publicidade médica
É vedado ao médico:
Artigo 114 - Consultar, diagnosticar e prescrever por qualquer meio de comunicação de massa