Saúde

Pesquisadores revelam o mistério da evolução da cólera

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que há de três a cinco milhões de novos casos de cólera por ano no mundo, que causam mais de 100 mil mortes

AFP

Mulher vende vegetais às margens do lago Linh Quang, no Vietnã, que foi declarado como área de contaminação pela cólera. Até o momento, os cientistas não haviam conseguido identificar as primeiras cepas da bactéria Vibrio clolerae, que se desenvolve na água
Pesquisadores canadenses e australianos conseguiram identificar a cepa da bactéria da cólera, responsável por uma pandemia que causou milhões de mortes no século XIX, e conseguiram, pela primeira vez, sequenciar o genoma deste patógeno. Ao analisar uma amostra bem preservada do intestino de uma vítima, os cientistas puderam desvendar o mistério da bactéria que continua a causar estragos nos países mais pobres do mundo.


Suas descobertas foram publicadas esta semana na prestigiada revista médica americana New England Journal of Medicine. A pesquisa é importante porque, até o momento, os cientistas não haviam conseguido identificar as primeiras cepas da bactéria Vibrio clolerae, que se desenvolve na água.

"Esse avanço pode melhorar significativamente a compreensão das origens dessa bactéria e abre o caminho para melhores tratamentos e, potencialmente, uma (forma de) a prevenção", explicaram os autores do estudo. Os pesquisadores também foram capazes de confirmar o primeiro dos dois tipos de cólera, classificado como "clássico", e que foi, provavelmente, responsável por cinco das sete epidemias mais mortais do século XIX.

Quase todas são originárias do Golfo de Bengala. "Compreender a evolução de uma doença infecciosa representa um enorme potencial para compreender a sua epidemiologia, como ela evoluiu ao longo do tempo e os fatores que facilitam a transmissão entre humanos", explica Hendrik Poinar, professor de genética e diretor do centro de estudos de DNA da Universidade de McMaster, no Canadá, um dos co-autores.

A origem da bactéria responsável pela cólera foi por muito tempo um mistério, porque os cientistas não podiam investigar amostras antigas. Este patógeno se aloja nos intestinos de suas vítimas e nunca atinge os dentes ou ossos, o que torna praticamente impossível traços de DNA bacteriano.

Para esta pesquisa, os geneticistas tiveram acesso a uma gama de tecidos humanos conservados em um museu de história médica criado pela Faculdade de Medicina da Filadélfia em 1858. A cidade havia sido vítima da cólera, poucos anos antes. O DNA da bactéria utilizado neste estudo foi extraído a partir do intestino de um homem morto de cólera em 1849.

Os pesquisadores foram capazes de determinar que o biotipo da bactéria chamada "clássica" e a segunda, chamado de El Tor, coexistiram nos seres humanos em águas paradas durante séculos, talvez milhões de anos antes do surgimento de pandemias do século XIX. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que há de três a cinco milhões de novos casos de cólera por ano no mundo, que causam entre 100.000 a 120.000 mortes. A cólera provoca diarreia significativa levando à desidratação grave e, eventualmente, a morte se não for tratada rapidamente.