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Josef Parvizi, professor do Departamento de Neurologia e Ciências Neurológicas da instituição de ensino californiana, explica que o experimento realizado por ele e sua equipe foi feito com duas pessoas que sofriam com epilepsia. Com eletrodos implantados nos cérebros dos pacientes, que já serviam para tratar a doença, os médicos puderam estudar o que acontecia quando uma região chamada córtex anterior cingulado era estimulada pelos impulsos elétricos. “ Em dois pacientes com eletrodos intracranianos implantados no mesmo local, trabalhamos com a hipótese de que as mudanças de percepção e de comportamento poderiam ser provocadas pela estimulação”, conta Parvizi.
Ao receber a carga, os pacientes descreveram uma sensação descrita como “expectativa de desafio”, como se assumissem uma atitude de determinação que os ajudaria a enfrentar algum problema que viessem a ter. Ao mover o eletrodo para um ponto a apenas 5mm de distância do alvo anterior, os pesquisadores não tiveram o mesmo resultado.
“Nosso estudo aponta as coordenadas anatômicas precisas das populações neuronais que suportam os estados psicológicos e comportamentais complexos associados à perseverança”, diz Parvizi, em um comunicado à imprensa. “Poucos pulsos elétricos entregues a uma população de células do cérebro dão origem a um conjunto de emoções e pensamentos que nós associamos à perseverança, e isso nos diz que nossas qualidades humanas únicas estão ancoradas na operação de nossas células cerebrais”, complementa o pesquisador.
Terapias
O principal autor da pesquisa, publicada recentemente na revista Neuron, também esclarece que os resultados obtidos sugerem que a função de perseverança obtida com a estimulação do córtex anterior cingulado pode estar ligada à capacidade das pessoas de enfrentar situações difíceis em suas vidas. Isso pode levar a novos tratamentos de distúrbios psicológicos, como, por exemplo, por meio da eletroestimulação da área estudada.
Segundo Ronaldo Maciel Dias, neurologista do Hospital Santa Luzia de Brasília, o trabalho americano foca em uma área cerebral muito estudada nos últimos anos. “Essa região é muito sensível a estímulos. Os cientistas realizaram o experimento em pessoas com epilepsia porque elas têm uma alta atividade ali”, explica o médico, que não participou do estudo.
Dias também acredita que a pesquisa pode ajudar a pensar novas formas de tratamento. “A perseverança é algo ausente em muitas doenças psicológicas. Acredito que, caso surjam mais estudos que comprovem realmente essa área como ligada a essa habilidade, outros tratamentos psicológicos possam surgir”, afirma. “Mas, claro, ainda precisamos de muito mais pesquisa.”
Mente
Coordenador do Grupo de Neuromodulação da Neurologia da Santa Casa de São Paulo, Maciel Simis alerta que, apesar de o artigo de Stanford mostrar de forma eficaz uma região do córtex como relacionada à perseverança, é necessário levar em conta todo o cérebro para entender seu funcionamento. “Hoje, temos um conceito mais moderno, que trata o cérebro como uma grande rede de conexões que precisa de um ‘terminal’ para que tudo o que esse órgão complexo tenha que fazer funcione”, destaca. “Por conta disso, precisamos ter cuidado ao falar que uma área seria responsável por uma atitude específica. Outras regiões podem fazer parte dessa função também”, defende.
O especialista acredita que tratamentos com eletrodos, como o utilizado no estudo, possam ser úteis. “Trabalho em uma área que utiliza estímulos elétricos para tratamentos e acredito que, dessa forma, conseguiremos tratar problemas específicos, como a falta de perseverança. Contudo, temos de levar em conta que um problema como esse pode vir acompanahdo de outros fatores”, ressalta. “Devemos estudar esses casos com cuidado. A mente é parte do cérebro ou não? Muita gente critica esse tipo de estudo por achar que isso minimiza o cérebro, como se a mente fosse simplesmente uma coisa biológica. De qualquer modo, esses trabalhos nos ajudam a seguir em busca de tratamentos mais eficazes”, conclui.