Depois de 16 anos de dedicação integral aos negócios, o geofísico Celso Magalhães, de 55 anos, se despede, na véspera do ano novo, dos cargos de presidente do Conselho e diretor de Novos Negócios do Grupo Georadar. O papel de executivo dará lugar, em 2014, às funções de pai e marido, que Celso reconhece que, durante os últimos anos, deixou um pouco de lado. “Sinto que agora está na hora da família e de mim mesmo. Essa área da minha vida estava um pouco de lado e é preciso buscar esse equilíbrio”, admite.
Sem saber quando tirou as últimas férias de 30 dias, ele já prepara a bagagem para passar o próximo mês em uma longa viagem por Dubai e países asiáticos na companhia das filhas, do enteado e da mulher. “Preciso de tempo para reciclar e renovar minhas energias”, afirma. A decisão foi tomada entre setembro e outubro, quando Celso percebeu que o grupo de empresas que fundou poderia caminhar com as próprias pernas. “Era então o momento de me dedicar a algumas atividades particulares”, afirma.
As mudanças não param por aí. O empreendedor já planeja, inclusive, passar uma temporada fora do Brasil. “Talvez more no exterior a partir do segundo semestre. Isso será discutido com a família, mas a intenção é ficar entre os Estados Unidos e Dubai, dois polos mundiais em tecnologia”, antecipa. O objetivo é dedicar tempo e esforços a projetos embrionários que poderão dar origem a negócios no futuro. “Preciso ter um pouco menos de compromisso para criar”, avalia.
Para a psicóloga empresarial Adriana Prates, uma característica importante das pessoas bem-sucedidas e realizadoras como Celso é a capacidade que têm de tomar as rédeas da própria vida. “A grande maioria vive em inércia. Vê os sinais passando e não reage a eles. Adquire comportamento de vítima e esquece da capacidade de livre arbítrio e do poder de escolha”, afirma. O executivo soube observar o momento certo de abandonar o cargo com a segurança e consciência de que estava tomando a decisão amparado por uma conjuntura que, ajudou a criar ao longo de vários anos de dedicação. “A empresa já está profissionalizada, com executivos que foram formados lá dentro. Estava preparada para viver sem mim”, garante Celso.
COISAS DA VIDA Mas nem sempre as mudanças são previstas. O engenheiro de controle e automação Lúcio Matos, de 34 anos, e a funcionária pública Paula Carvalho Rocha Neves, de 32, receberam a notícia de que ele seria transferido para Vitória (ES) na mesma época em que estavam tentando ter o primeiro filho. Organizados e sempre empenhados em atingir os objetivos traçados, mantiveram o planejamento inicial, mesmo sabendo que Paula não poderia acompanhá-lo por causa da dificuldade em conseguir transferência no serviço público. “Em abril fiquei grávida da Helena e a mudança do Lúcio está prevista para janeiro. Nunca uma virada de ano teve tanto significado em nossas vidas como a de 2014”, conta Paula, que deu à luz Helena em 18 de dezembro.
Para Lúcio, além de uma provação, a separação é encarada como uma experiência que vai proporcionar o crescimento do casal e fortalecimento da relação. “Mantivemos a calma. Até porque, se se perde o controle, é mais difícil raciocinar em busca de uma saída”, afirma. A forma como os fatos são encarados é outro aprendizado que pode ser mais bem absorvido nesta época do ano, momento em que as pessoas estão mais reflexivas, abertas a avaliações e dispostas a encarar desafios.
“O ideal é fazer a gestão dos riscos, acompanhar de perto o desenrolar dos acontecimentos e agir proativamente de forma a evitar que os impactos sejam tão negativos”, orienta Adriana. Postura que o casal adotou desde o princípio e por isso agora tem serenidade para curtir os primeiros dias da primogênita, sabendo que aos finais de semana o pai estará sempre ao lado delas para o que for preciso.
Comemoração merecida
Preparar-se para o novo ano inclui um projeto de médio e longo prazo, ao contrário das previsões imediatistas que dominam a data. “Normalmente, as grandes mudanças ocorrem porque as pessoas se dedicaram a isso durante anos e até décadas. Os discursos podem ser eternos, mas sonhar com ação é realidade e acaba virando meta”, reconhece Adriana.
A contadora Ioná Mara Moura Leão é um grande exemplo de que objetivos claros podem ser conquistados com muito empenho. Durante três anos abriu mão de viagens, de confraternizações com amigos e da vida pessoal para mergulhar nos livros que a levariam para o cargo que sempre almejou – auditora técnica de tributos. “Fui aprovada na Prefeitura de Belo Horizonte e estou aguardando a nomeação. Enquanto isso, vou tomar posse como analista contadora da Polícia Civil de Minas Gerais, cargo que também conquistei este ano”, comemora. Preparada para abandonar os estudos e colher os frutos da dedicação, ela não vê a hora de viver, a partir de 2014, uma nova rotina. “Quero viajar e encontrar meus amigos. Estou ansiosa para viver esse ano”, afirma.
A intenção agora é recuperar o tempo que foi muito bem empregado na realização do maior objetivo profissional de Ioná. “Quem estabelece planejamento apenas para um ano está agindo de forma arcaica. O ideal é pensar num prazo de três a cinco anos e executar ações progressivas em direção à grande meta”, aconselha Adriana. A cada ano é preciso avançar um pouco mais, e 2014 bate à porta ávido por novas conquistas.