Com sobrevida curta, de alguns minutos até poucas horas, os marcadores, traçadores ou radiofármacos devem ser produzidos próximos à área de aplicação. O desafio é enorme se considerado um país continental como o Brasil, discussão que fecha a série de reportagens "Tecnologia contra o câncer", que abordou as novidades no campo da radiologia e medicina nuclear no país e no mundo. Em Minas Gerais, somente o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN) – instituição vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – produz os traçadores usados nesses exames.
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"Em câncer de próstata e aqueles localizados no cérebro, por exemplo, o FDG não é capaz de identificar com precisão a localização do tumor. Por isso, o ideal é fazer estudos com radiofármacos mais seletivos", reconhece Juliana. Empenhado em novas alternativas e atento à demanda da própria comunidade médica, o CDTN desenvolveu a colina radioativa destinada à detecção mais segura e confiável do câncer de próstata. "Já fizemos a parte pré-clínica, aplicada em animais, e estamos aguardando autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para liberação dos exames clínicos em humanos", afirma a pesquisadora. Cerca de 300 pessoas devem participar dos testes que devem começar no início de 2014.
PULMÃO E CÉREBRO
Outros órgãos também requerem marcadores mais precisos, como o pulmão. Para isso, o CDTN já estuda a produção do flúor tinidina (FLT). Para estudos cerebrais, a metionina já está em fase pré-clínica e é o único radiofármaco produzido com carbono 14 no Brasil, material que tem meia-vida de apenas 20 minutos. Os períodos muito curtos para utilização dos materiais radioativos obrigam alguns hospitais a concentrar uma área própria de produção de traçadores.
É o caso do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), que já tem estudos avançados na produção de uma substância para tumores neuroendócrinos. "Essa necessidade de muitos marcadores serem desenvolvidos dentro do próprio centro foi um dos fatores limitantes para a chegada dos aparelhos no Brasil. Hoje, temos cerca de 10 centros de distribuição desse material no país e, com isso, devemos ganhar escala", reconhece Marcelo Livorsi da Cunha, médico do serviço de medicina nuclear e PET/CT da Medicina Nuclear do HIAE.
Rigor em excesso
"A legislação estipulada pela Anvisa para se colocar um radiofármaco no mercado é tão grande que há três anos não sai nada de novo. A agência baseou as normas brasileiras nas americanas e europeias, nas quais agências reguladoras classificam os radiofármacos de maneira semelhante a antibióticos, o que não é verdade. É uma das substâncias mais seguras na medicina. Mais de 50 milhões de doses já foram distribuídas no mundo e nunca houve um caso de morte ou doença. Não há motivos para regras tão rigorosas. Em nível de pesquisa, os processos continuam, mas a população não está tendo acesso a essa tecnologia de ponta. Já fizemos várias reuniões com a Anvisa e existe boa vontade em entender os problemas do setor, mas oficialmente ainda não sabemos de nenhuma mudança prevista."
Celso Darío Ramos - presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear e professor na Unicamp