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“O médico me disse que se eu tivesse tido um diagnóstico precoce, eu poderia ter sido um tumor benigno. Os que me atenderam antes não entenderam o que eu tinha”, conta Jenifer, que teve que largar os estudos e passou meses internada devido a complicações da quimioterapia. Recentemente, o câncer apareceu nos ossos de um ombro. Ela faz tratamento no Hospital das Clínicas, onde trabalha a oncologista pediátrica e professora da UFMG Karla Emília de Sá Rodrigues, que conduziu a pesquisa. Segundo ela, a demora é consequência de diversos fatores. O principal empecilho é a raridade de câncer em crianças e adolescentes. Como a maioria das queixas iniciais é comum em outras doenças, o médico não cogita a possibilidade de um tumor rapidamente. Febre, dor de cabeça, dor abdominal e aumento de gânglios podem estar relacionados até mesmo a viroses. “Não é a primeira hipótese que um médico levanta. Grande parte das doenças virais tem essas manifestações também”, diz Karla.
Um pediatra ou generalista diagnostica um tumor a cada sete anos em sua carreira. Com isso, há um atraso no encaminhamento de pacientes a centros de referência. “No interior é mais complicado ainda porque esperamos um ano para conseguir uma consulta. Ainda bem que Deus pôs um anjo para diagnosticar minha filha. Muitos perdem a vida por falta de um médico bom”, desabafa a diarista Elicássia Martins Abreu, de 33 anos. O Conselho Regional de Medicina (CRM-MG) confirma a falta de experiência dos médicos não especializados em oncologia. O presidente da entidade, Itagiba de Castro Filho, que é pediatra, diz que há dificuldade em distinguir os sintomas. “É possível que o médico deixe de fazer o diagnóstico por uma incapacidade técnica”, diz.
Tratamento
O governo federal determina que o tratamento do câncer infantil comece até dois meses depois do diagnóstico. A doença, no entanto, é diferente da que aparece em adultos, com prevalência de leucemia e tumores cerebrais e ósseos. A origem de câncer em crianças, segundo o coordenador da Oncologia Pediátrica do Hospital da Baleia e coordenador interino do Hospital das Clínicas, Eduardo ribeiro Lima, também é diferenciada. “O tratamento geralmente é mais intenso porque eles toleram melhor. Proporcionalmente, usamos doses maiores”, afirma. Ele explica que o caso de oito anos de atraso no diagnóstico é um extremo, mas é perceptível o papel do paciente e do médico no atraso do diagnóstico na atenção básica. “Eles chegam aos centros de referência tardiamente, muitas vezes com metástase, o que diminui a chance de cura.”