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A aposentada Noêmia Ferreira do Nascimento, 75 anos, acompanha o mestre Gilvan desde que ele começou a desenvolver a capoterapia no Distrito Federal. “Conheci ele no Centro de Saúde 5, de Taguatinga, em 1998. Ele chegou montando uma roda de capoeira, mostrando movimentos simples e eu fiquei impressionada. Hoje, tenho mais saúde e me sinto muito melhor do que há 15 anos”, conta. Assim como Noêmia, vários alunos exercitam a musculaturas ao som dos berimbaus desde que a projeto foi iniciado. Mestre Gilvan conta que mais de 50 mil pessoas praticam a modalidade ao redor do mundo. “O sedentarismo é o mal do século e a promoção de uma atividade que estimule o idoso a ter vontade de sair de casa garante qualidade de vida àqueles que podem ter perdido o gosto pelo bem-estar.”
Zilda Pessoa, coordenadora do Centro de Convivência do Idoso (CCI), da Universidade Católica de Brasília, onde o mestre promove encontros às quartas-feiras, diz que impressiona a fidelidade com que os alunos tratam a atividade. Segundo ela, essa participação é consequência dos resultados alcançados pelos praticantes. “A modalidade trabalha mente e corpo em paralelo, trazendo de volta a alegria muitas vezes perdida por aqueles que já atingiram uma idade relativamente avançada”, avalia.
O grupo coordenado pelo mestre Gilvan atende mais de 2.500 pessoas gratuitamente em diversas localidades do Distrito Federal e do entorno. Além disso, existem atividades em cidades do Piauí e Maranhão. “É raro ter alunos tão fiéis durante tanto tempo, em uma mesma modalidade. A questão é que a capoterapia tem um rendimento muscular fantástico. Tenho alunos que passaram três anos em fisioterapia tentando recuperar determinados movimentos, e que só atingiram o objetivo com a capoterapia”, garante.
Sobre o lago
Outra opção para os idosos que procuram trabalhar as noções de equilíbrio e postura é um esporte que, apesar de mais antigo que o surfe, começa a se popularizar agora. O stand up paddle, ou SUP, é praticado com uma prancha — maior e mais larga do que a de surfe — e um remo — mais comprido e leve do que dos do caiaque. A ideia é exatamente trabalhar as valências físicas de forma equilibrada, como força, flexibilidade, resistência e coordenação.
Andrade considera o SUP uma ótima alternativa para trabalhar a consciência corporal. Em cima da prancha, segundo o professor de educação física, o aluno acaba trabalhando os músculos das pernas, do glúteo, das costas, dos pés, dos braços e do abdômen; tudo isso combinando força, coordenação e equilíbrio. “Atualmente, muitos idosos são encaminhados ao treinamento funcional quando procuram algum exercício. O equilíbrio necessário para se manter sobre uma prancha é bem similar a esse treinamento”, diz.
Outra vantagem do SUP em relação a outros esportes é exatamente o fato de ele poder ser praticado por qualquer pessoa, independentemente da idade. Sérgio Braga, 52 anos, nasceu no Rio de Janeiro e é adepto o surfe desde a infância. Naturalizado brasiliense, como se define, o bancário conta que conheceu o SUP pela curiosidade. Hoje, o esporte se tornou um hábito. “O interessante é que, ao mesmo tempo que oferece bem-estar e saúde física, ele te cobra isso. É uma via de mão dupla, onde você acaba sempre dando mais e recebendo mais ainda”, garante Sérgio.
Com música
Se falta coragem para se manter em pé em cima de uma prancha, reconquista da postura e do equilíbrio perdidos com o tempo pode vir com a dança. É o que relata a psicoterapeuta Ângela Maria Mugnatto, 66 anos. Ao se aposentar, há 14 anos, ela resolveu estudar aquilo que tanto lhe dava prazer. Entrou em curso de balé na Universidade de Brasília, onde permaneceu por 10 anos. “Depois, abriram o curso de licenciatura em dança aqui no Instituto Federal de Brasília e eu me candidatei. Procurava algo que me completasse, até mesmo profissionalmente, e foi o que encontrei”, conta.
Ângela pretende unir a dança à terapia para ajudar seus pacientes. “Eu não comecei a dançar com um objetivo específico. A dança não é só para o corpo físico, é para o organismo como um todo, para a pessoa completa. É a união entre corpo e mente que se torna uma questão de vida, vital”, opina. “A dança aumentou a minha consciência corporal assim como aumentaria de qualquer pessoa. Em qualquer idade, você vai pode sentir os benefícios dessa prática”, diz.
No ritmo contrário, o tai chi chuan também ajuda os idosos a venceram as limitações. Na entrequadra da 104/105 da Asa Norte, desde 1974, o mestre Moo Shong Woo oferece aulas abertas e gratuitas visando exclusivamente o bem-estar físico e mental. “No começo, eu chegava sozinho à praça e muita gente ficava observando. Algumas pessoas começaram a me seguir e, hoje, realizamos encontros diários, sempre lotados, no que virou um costume e até uma necessidade de alguns dos participantes”, conta.
O espaço utilizado há tanto tempo pelo mestre Woo é conhecido como Praça da Harmonia Universal. A professora aposentada de 67 anos Maria de Jesus Coutro acompanha as atividades realizadas na praça há mais de 10 anos. “No começo, eram menos pessoas e os objetivos se confundiam. Hoje, tenho um grupo de amigos que vai diariamente às aulas do mestre Woo e posso garantir: a qualidade de vida das pessoas que eu convivo e que se preocupam em se movimentar e se exercitar é muito superior à daqueles que simplesmente aceitam a idade”, afirma.
Inspirado pelo avô
Joseph Moo Shong Woo nasceu em Chiayi, Taiwan, em 3 de março de 1932. Formou-se em arquitetura e, inspirado pelo avô paterno, começou a se dedicar à medicina e às artes marciais. Estudou medicina ocidental em uma universidade do Alabama, nos Estados Unidos, em 1955 e 1956. Em março de 1961, mestre Woo mudou-se para o Brasil e, desde 1974, orienta a prática de tai chi chuan na Praça da Harmonia Universal.
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Origem controversa
Há várias versões para o surgimento do stand up paddle. Uma delas remeta à era pré-colombiana. Os moches peruanos remavam ajoelhados e em pé sobre cabalitos de totora — uma espécie de surfboat feita de junco — em busca de peixes. Na volta da pescaria, vinham surfando as ondas. Há relatos de que, na década de 1930, dois pioneiros surfistas de Santos, em São Paulo, cansados dos intermináveis dias sem ondas do verão, tiveram a ideia de usar remos em grandes pranchas para trabalhar a preparação física e o equilíbrio, além de desfrutar da natureza e da sensação de liberdade. Outra versão vem do Havaí, nos Estados Unidos. Na década de 1940, professores da escola de surfe Beachboys de Waikiki começaram a usar os enormes pranchões estáveis de madeira naval com remos improvisados para acompanhar e fotografar os alunos.