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A ação que tramita em Passo Fundo é de iniciativa de uma associação de defesa do consumidor, mas surgiu a partir de uma solicitação do pediatra Rui Locatelli, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). “Em 2009, atendi um caso em que a criança caiu do andador, fez uma hemorragia e um hematoma cerebral e morreu. Naquela época, fiz denúncia ao Ministério Público de Passo Fundo, que recomendou a não utilização do equipamento em escolas, creches e hospitais da cidade”, conta Locatelli. Pelo menos mais dois casos de morte relacionada ao uso do andador são conhecidos: um em Jequié (BA), em 2009, e outro em Belo Horizonte (MG), no ano passado.
“Não é preciso morrer mais nenhuma criança para que a gente proíba isso. Não há benefício nenhum com o uso do andador”, opina o pediatra. Locatelli explica que, no aparelho, a criança se locomove a uma velocidade muito superior a que teria com as próprias pernas — o que pode tornar as quedas mais graves. “A caixa craniana de uma criança de até um ano de idade não tem a dureza do crânio de um adulto. Uma batida na cabeça leva a lesões graves e hemorragias cerebrais, que podem deixar sequelas ou levar à morte”, alerta. O médico também aponta problemas para o desenvolvimento dos bebês. “A criança aprende a caminhar sentada. Essa inflexão das pernas faz com que haja um encurtamento de tendão.”
“De jeito nenhum”, diz Joana Carvalho sobre a possibilidade de comprar um andador para a filha Maya, de 6 meses. “Sou favorável ao desenvolvimento natural das crianças”, explica a servidora pública, de 35 anos. Para ela, a ilusão de que o bebê está seguro no equipamento acaba levando ao descuido com a segurança da criança. “Só quem já cuidou de um bebê sabe que não dá para ficar atento 24 horas por dia. É muito fácil de se distrair”, argumenta. “É lógico que criança cai, isso é normal, mas no andador ela pega um embalo muito grande”, relata a gerente de vendas Cíntia Nogueira, de 36 anos, mãe de Isadora, de 6 meses, que também crescerá sem usar o aparelho.
A segurança infantil lidera o ranking do Banco Nacional de Dados de Acidentes de Consumo, do Inmetro, com 14% dos registros. Desde agosto, o instituto trabalha na criação de um selo de qualidade brasileiro para o produto. Somente o Canadá proíbe totalmente os andadores, enquanto nos Estados Unidos e na Europa as exigências de qualidade são rígidas. Dois projetos de lei tramitam no Congresso Nacional para proibir a fabricação, a venda e a importação dos equipamentos no Brasil, mas estão parados em comissões da Câmara e do Senado.
“Independentemente de normas ou certificações, o andador não faz bem para a criança. Peço desculpas por ser incisivo, mas vi uma criança morrer por usá-lo”, insiste Locatelli, que propõe um “banimento moral” do aparelho. Procurada pela reportagem, a Associação Brasileira de Produtos Infantis, que representa os fabricantes, não se manifestou.