O presente é o que menos importa. Essa é a visão que a dentista Patrícia Carvalho, de 45 anos, compartilha com os familiares há alguns natais. “Aproveitamos essa época, em que estamos mais abertos e sensíveis, para promover uma reflexão”, conta Patrícia. Por meio de dinâmicas e leitura de textos levados espontaneamente pelos participantes da ceia, a interação é profunda. “Cada ano fazemos algo diferente. Tem uma dinâmica de identificação das virtudes e valores uns dos outros. As pessoas falam o que admiram no próximo e o que ele tem de melhor”, explica a dentista.
A proposta é estimular virtudes. “O que fica do Natal são esses momentos compartilhados. Passamos por experiências verdadeiras, nos aproximamos como família e valorizamos a qualidade das relações”, observa Patrícia. Perspectiva difundida pela organização internacional Brahma Kumaris, voltada para o estímulo à meditação e autoconhecimento. Coordenadora da Região Sudeste da ONG, Marli Medeiros alerta para a importância de se enaltecer o que toca o coração.
“Para mim, o presente é uma lembrança cujo sentimento é de doação, compartilhamento. Não é preciso se privar disso, mas há que se prezar também pelo desenvolvimento de valores”, afirma Marli. Por isso, até o amigo-oculto ganha uma dinâmica diferente. Em vez de ficar limitado ao sorteio e escolha do presente, o processo dura duas semanas e estimula novas experiências. “A pessoa cria um pseudônimo e começa a deixar recadinhos em uma caixinha de correio para seu amigo-oculto. Fala sobre as especialidades que enxerga nele e aguça a curiosidade”, conta Marli.
Com a troca de correspondências, muitos enxergam coisas em si que antes não reconheciam. “É o momento de as pessoas se tornarem mais amigas e companheiras. A vida está precisando disso”, garante Marli. No fim das contas, o presente se torna coadjuvante. Depois de tanta expectativa, o que todos querem mesmo é revelar o autor das palavras de carinho e afeto.
Festa tranquila e serena Seja por motivos religiosos, sociais, psíquicos ou existenciais, cada vez mais pessoas vão em busca de momentos carregados de significado. “O filósofo Jean-Paul Sartre já dizia que não devemos apenas aceitar as circunstâncias, mas devemos saber dar sentido novo às circunstâncias que nos são impostas”, cita o psicólogo e professor de filosofia da Faculdade dos Jesuítas (Faje), Carlos Roberto Drawin, em alusão ao consumismo exacerbado ao qual todos são bombardeados nesta época.
O Natal é apenas mais uma das datas comemorativas que foi esvaziada dos significados originais. “E passam a ter apenas o apelo do consumo. A partir daí, as pessoas constroem sua identidade baseadas nos ciclos de compras. O carro que tem, a roupa que veste e a disponibilidade de oferecer ao outro e mostrar que tem posses”, avalia Drawin. É a anunciada valorização do ter em detrimento do ser. “Não significa que as pessoas não devam adquirir bens, mas construir a identidade apenas baseada nesses sinais externos esvazia muito o sentido da vida”, reconhece o psicólogo.
Não apenas esvazia, como enfraquece. “Uma vida totalmente voltada para fora é fraca. A pessoa não cria recursos próprios, dentro de si, para se alimentar e suportar as adversidades. Encontra recursos apenas vindos de fora e que, neste caso, são muito precários”, alerta Drawin. Se não bastasse isso, o momento de festa é desvirtuado e, em vez de alegria, traz, para muitos, estresse, conflito e agressividade, seja na busca do presente de última hora, seja na preparação da ceia. “Reagir contra isso é iniciativa de uma minoria que prefere ter um Natal mais tranquilo e sereno, repleto de momentos de reflexão”, observa Drawin.
Também é tempo de renovação, que pode emergir a partir de gestos simples. “Que seja cedendo parte do tempo para conversar com um amigo que gosta. São formas de fazer brotar a renovação dentro das pessoas”, aconselha Drawin. Época de maior sensibilidade, o Natal permite, mais do que qualquer outra data, reflexões como essas e a possibilidade de recordar o verdadeiro significado desse momento.
saiba mais
“Para mim, o presente é uma lembrança cujo sentimento é de doação, compartilhamento. Não é preciso se privar disso, mas há que se prezar também pelo desenvolvimento de valores”, afirma Marli. Por isso, até o amigo-oculto ganha uma dinâmica diferente. Em vez de ficar limitado ao sorteio e escolha do presente, o processo dura duas semanas e estimula novas experiências. “A pessoa cria um pseudônimo e começa a deixar recadinhos em uma caixinha de correio para seu amigo-oculto. Fala sobre as especialidades que enxerga nele e aguça a curiosidade”, conta Marli.
Com a troca de correspondências, muitos enxergam coisas em si que antes não reconheciam. “É o momento de as pessoas se tornarem mais amigas e companheiras. A vida está precisando disso”, garante Marli. No fim das contas, o presente se torna coadjuvante. Depois de tanta expectativa, o que todos querem mesmo é revelar o autor das palavras de carinho e afeto.
Festa tranquila e serena Seja por motivos religiosos, sociais, psíquicos ou existenciais, cada vez mais pessoas vão em busca de momentos carregados de significado. “O filósofo Jean-Paul Sartre já dizia que não devemos apenas aceitar as circunstâncias, mas devemos saber dar sentido novo às circunstâncias que nos são impostas”, cita o psicólogo e professor de filosofia da Faculdade dos Jesuítas (Faje), Carlos Roberto Drawin, em alusão ao consumismo exacerbado ao qual todos são bombardeados nesta época.
O Natal é apenas mais uma das datas comemorativas que foi esvaziada dos significados originais. “E passam a ter apenas o apelo do consumo. A partir daí, as pessoas constroem sua identidade baseadas nos ciclos de compras. O carro que tem, a roupa que veste e a disponibilidade de oferecer ao outro e mostrar que tem posses”, avalia Drawin. É a anunciada valorização do ter em detrimento do ser. “Não significa que as pessoas não devam adquirir bens, mas construir a identidade apenas baseada nesses sinais externos esvazia muito o sentido da vida”, reconhece o psicólogo.
Não apenas esvazia, como enfraquece. “Uma vida totalmente voltada para fora é fraca. A pessoa não cria recursos próprios, dentro de si, para se alimentar e suportar as adversidades. Encontra recursos apenas vindos de fora e que, neste caso, são muito precários”, alerta Drawin. Se não bastasse isso, o momento de festa é desvirtuado e, em vez de alegria, traz, para muitos, estresse, conflito e agressividade, seja na busca do presente de última hora, seja na preparação da ceia. “Reagir contra isso é iniciativa de uma minoria que prefere ter um Natal mais tranquilo e sereno, repleto de momentos de reflexão”, observa Drawin.
Também é tempo de renovação, que pode emergir a partir de gestos simples. “Que seja cedendo parte do tempo para conversar com um amigo que gosta. São formas de fazer brotar a renovação dentro das pessoas”, aconselha Drawin. Época de maior sensibilidade, o Natal permite, mais do que qualquer outra data, reflexões como essas e a possibilidade de recordar o verdadeiro significado desse momento.