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As bonecas são lavadas, os cabelos penteados, as partes que estão faltando – como pernas, braços e acessórios – são providenciadas em um pronto-socorro de bonecas. Enfim, tudo que é possível Wanda faz. “Pego rodas de outros carrinhos para consertar aqueles que estão quebrados. Limpo e ainda passo silicone. Vejo salvação em qualquer coisa”, conta. Em média, ela chega a arrecadar 100 brinquedos, que este ano serão distribuídos no dia 21. “Já cheguei a me vestir de Mamãe Noel. Foi muito gratificante”, lembra.
Para ela, limitar o data à compra de presentes para os mais próximos é muito pouco. “As pessoas querem esbanjar, mostrar para os outros uma situação. Mas isso não adianta se você não se lembra das pessoas o ano todo”, afirma. Mas é fato que, com a chegada no Natal, os sentimentos ficam mais aflorados. É justamente em momentos de revisão e reflexão como esse que novas perspectivas surgem sobre o próximo. “As pessoas acabam assumindo responsabilidade pelas questões sociais, antes designadas ao Estado”, observa o professor de ciências sociais da PUC Minas, Ricardo Ferreira Ribeiro.
Integrante de um grupo de amigos de infância que se reúne anualmente, Renato Magno dos Santos, de 39, resolveu em 2010 que era hora de dar um novo sentido para o reencontro da turma em dezembro. “Abrimos uma conta no banco onde depositamos dinheiro todos os meses para fazer um festa de confraternização no fim do ano. Então, pensei que seria interessante também darmos um caráter social a esse momento”, conta. A proposta foi aceita e a busca por doações começou. No primeiro Natal, 50 crianças foram alegradas. Hoje, 300 devem fazer a festa.
Mais do que beneficiar quem precisa, Renato já vê o retorno para as atitudes que tomou. “Minha filha participa comigo desde a primeira festa, quando tinha 6 anos. Na época, distribuiu balas”, lembra Renato. Hoje com 9 anos, Elisa Soares de Souza dos Santos não vê a hora do grande dia. “Ela já pega brinquedos próprios que não usa mais e separa para doá-los. No dia, se diverte com as crianças e me mostra que ela está crescendo de uma forma mais afetiva, de amor ao próximo. Poder passar esses valores para ela me engrandece”, conta emocionado.
NOVO PARADIGMA
Para a psicóloga e autora do livro Educar para o consumo, Maria Tereza Maldonado, atitudes como a de Renato devem ser vistas como inspiração. “O que a gente vê hoje são muitas famílias trabalhando para dar um bom padrão de vida para os filhos, que se resume a comprar-lhes as coisas que têm vontade”, observa. Espelhados na postura dos pais, as crianças são motivadas a ver as pessoas por aquilo que elas têm, esvaziando as relações sociais. “A noite de Natal se torna um momento de abrir embrulhos. Mais preocupadas com o que vão ganhar, as pessoas não pensam na reunião em si, do prazer em estar junto, no encontro ou no exercício da solidariedade”, observa.
O exemplo tem que partir dos pais, para que, no futuro, os filhos tenham um olhar diferente sobre a vida. “Ele poderá perceber que não precisa se matar de trabalhar para conquistar sempre mais. Que pode ter tempo para a família e para os amigos”, exemplifica Maria Tereza. Começar pelo estímulo à produção das próprias lembrancinhas de Natal pode ser um primeiro passo. “Ela gastará um tempo para materializar um sentimento. Atitude muito mais interessante do que sair às pressas no último fim de semana para comprar uma coisa qualquer para simplesmente aparecer com o presente”, garante Maria Tereza. A maior doação se torna o afeto.