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O TDS, sigla em inglês para tongue drive system (sistema de condução pela língua), é apresentado em um artigo na edição de hoje da revista Science Translational Medicine. Para usá-lo, a pessoa só precisa ter um piercing preso à lingua, que, ao ser movida, envia comandos para os aparelhos a serem utilizados. Segundo os autores da tecnologia, 34 pessoas, sendo 11 com tetraplegia e 23 com movimentos normais, conseguiram movimentar uma cadeira de rodas por uma pista de obstáculos depois de apenas 30 minutos de treinamento.
O segredo do modelo está em um marcador magnético incorporado à esfera superior da joia de titânio presa à língua. Conforme o movimento que a pessoa faz com o órgão, o campo magnético é alterado e percebido por um equipamento semelhante a um headphone preso à cabeça do usuário. Por meio de um sinal sem fio, esse mecanismo envia o dado para um computador ou smartphone, que se encarrega de passar o comando para a cadeira de rodas ou para outro equipamento, como um videogame, telefone ou interruptor de luz.
Os pesquisadores compararam a performance dos participantes à alcançada por meio da tecnologia sip-and-puff (em que o usuário deve soprar ou sugar o ar em um canudo para mover a cadeira de rodas). Em média, os voluntários completaram as tarefas com a mesma precisão e com velocidade três vezes maior quando usaram o novo método.
Os resultados preliminares são muito promissores, e tudo indica que esse sistema poderá adicionar mais autonomia a essa população de pacientes, que enfrenta muitas limitações. Acredito que o TDS os tornará mais independentes”, diz Maysam Ghovanloo, um dos principais autores do projeto. Segundo ele, o preço seria comparável a outras tecnologias de assistência disponíveis no mercado, custando em torno de US$ 7 mil.
Intuitivo
Alguns tetraplégicos (pessoas com o movimento dos quatro membros prejudicados) ainda conseguem realizar gestos com os braços, o que lhes permite manusear joysticks e até mesmo dirigir carros adaptados. Contudo, muitos perdem totalmente o movimento dos braços, e não é raro que outros percam a força nas cordas vocais, o que dificulta o uso de sistemas de reconhecimento de voz. A maioria, no entanto, consegue mover a língua, o que torna o TDS útil praticamente a todos esses pacientes.
De acordo com Ghovanloo, o tamanho da área dedicada à língua e à boca no córtex motor, bem maior que à dos dedos e da mão, proporciona um controle mais sofisticado e maior capacidade de manipulação. Além disso, o movimento da língua é intuitivo e não exige muita concentração.
O trabalho norte-americano é mais um exemplo do que os especialistas chamam de interfaceamento homem-máquina. Essa proposta é uma das alternativas mais estudadas atualmente e promete dar origem a vários dispositivos que melhorem não apenas a mobilidade de pessoas paralisadas mas também a sua capacidade sensorial dos pacientes (estão em desenvolvimento, por exemplo, braços mecânicos que dão a sensação de tato).
Para os pacientes com limitação de movimentos, existem diferentes abordagens, que vão de comunicação direta com o cérebro (seja com a instalação de eletrodos no cérebro ou sensores externos) até o acompanhamento de movimentos dos olhos (eye-tracking).
Mario Gaziro, professor da Universidade Federal de São Carlos, explica que cada método tem seus prós e contras. “Uma interface cerebral é invasiva e mais difícil de controlar, mas permite, após treinamento, um maior grau de liberdade dos movimentos. Já a proposta apresentada é muito simples de ser controlada, porém apresenta um grau de liberdade muito pequeno. Não é suficiente para controlar uma mão robótica, por exemplo”, avalia o pesquisador em cibernética avançada.