O processo seletivo para essa e outras áreas foi divulgado no início do ano e a fundação recebeu mais de 2.700 propostas de 14 países. Oitenta e uma delas irão receber US$ 100 mil para desenvolverem suas pesquisas, sendo que 11 vão investir em uma 'nova geração de preservativos'. O diferencial dos aprovados na categoria é de pensar não somente em como avançar a tecnologia do produto em si, mas também pensar propostas de design que melhorem o desempenho de seus usuários.
Uma das principais queixas sobre desempenho e motivo de resistência ao uso é a interrupção feita para pôr a camisinha. De acordo com a sexóloga Walkíria Fernandes, quem reclama está fazendo errado. “A maioria dos homens só coloca o preservativo quando vão fazer a penetração. Aí eles param para procurar e abrir o pacote. Isso gera uma pausa e, para alguns homens, uma insegurança. O ideal é que se coloque a camisinha durante as preliminares, para essa pausa não existir”, sugere.
Para quem reclama que esse momento 'quebra o clima', uma empresa sul-africana foi selecionada para testar um 'aplicador' desenhado para colocar o preservativo com apenas um movimento (veja o protótipo no vídeo). O 'Rapidom' promete inovar por ser de aplicação fácil e rápida, diminuindo assim o tempo de parada na hora 'H'.
Quem tem problemas com espessura ou tamanho também tem uma possível solução à vista. Um trabalho que vem sendo testado pelo Cambridge Design Partnership, na Inglaterra, promete desenvolver um produto com tamanho universal, desenhado para apertar gentilmente durante as relações sexuais, se ajustando ao tamanho do pênis, promovendo mais sensibilidade e menos chances de o preservativo escapar.
Para tanto, o látex, matéria-prima dos preservativos pelos últimos 80 anos, deverá ser ultrapassado ou, no mínimo, associado a outros produtos. O silicone é um material que pesquisadores já têm cogitado. Outra opção, que vai contar com o apoio do bilionário norte-americano, vai usar o colágeno extraído dos tendões de vacas. Algumas formas de preservativos primitivos era feitos de tripas de jacarés e ovelhas, então voltar à matéria-prima orgânica não é uma grande novidade. No entanto, a equipe de uma empresa norte-americana responsável pela proposta defende que o material se assemelha muito à uma mucosa, propiciando troca de calor e uma sensação mais 'natural'.
Na Universidade de Manchester, também na Inglaterra, pesquisadores estão estudando uma forma de tornar ainda mais difíceis ocorrências de gravidezes acidentais ou de infecção por doenças sexualmente transmissíveis. Uma combinação entre o grafeno e o látex é a escolha dos ingleses para utilizar na produção de preservativos mais finos e mais resistentes. Segundo os pesquisadores, a combinação vai resultar em um novo material “capaz de ser mais fino, forte, elástico, seguro e, talvez o mais importante, mais prazeroso”.
No Brasil
Uma pesquisa de 2012, realizada pela Caixa Seguros em parceria com o Ministério da Saúde e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), mostrou que quatro em cada dez jovens dispensa o uso de preservativos. A pesquisa ainda mostrou que 40% dos entrevistados não acredita que a camisinha é um método eficaz na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis ou gravidez.
De acordo com Steve Buchsbaum, líder do Grand Challenges Team, da Fundação Gates, aumentar o uso de preservativos é o principais objetivo do investimento. “Esse é o foco principal e ainda um desafio”, afirma. Para tanto, a Fundação não procura resolver um problema específico em relação ao uso, mas sim “um grupo de problemas de diferentes pessoas, de diferentes culturas e em circunstâncias diferentes”.
A sexóloga Walkíria Fernandes acredita que as pessoas estão mais conscientes sobre a importância da camisinha, o que não significa que todos usam. “O que vemos com muita frequência é que o uso da camisinha aparece no início do relacionamento e assim que se estabelece um vínculo entre o casal, ele é abolido, especialmente depois que as pessoas se testam. Mas sabemos que em relação ao vírus da Aids, por exemplo, o resultado negativo não garante que a pessoas não têm vírus”, comenta.