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O oncologista André Márcio Murad, professor e coordenador do serviço de oncologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Centro Avançado de Tratamento Oncológico (Cenantron) explica que existem três tipos comuns de câncer de pele. O carcinoma basocelular e o carcinoma espinocelular são os mais frequentes e menos graves, correspondendo a cerca de 80% dos casos brasileiros. “O terceiro tipo é o melanoma, forma menos comum da doença, mas que pode levar à morte”, alerta.
Segundo Murad, o tipo de câncer de pele descrito pelo ator australiano é o mais comum e, felizmente, o que oferece consequências menos graves. O carcinoma basocelular é caracterizado por uma lesão rosada, perolada e com relevo. Muito raramente oferece risco de metástase. “Pode haver alguma dificuldade estética para o paciente, porque os dois primeiros tipos afetam principalmente as áreas expostas ao sol – ou seja – visíveis o tempo todo, como a face. A lesão deve ser removida com uma margem de segurança, ou seja, temos que garantir que a remoção foi completa. Em alguns casos, é necessário fazer uma cirurgia plástica reconstrutiva e até usar enxerto de pele para preencher o local”, explica o médico.
Já o carcinoma espinocelular apresenta o aspecto de lesão com crosta, ou seja, com uma casquinha e sangramento frequente. “Há risco de atingir a circulação linfática, formando ínguas, mas os casos de metástase são raros também neste casos. Dizemos que são situações resolvidas com cirurgia e que têm bom prognóstico”, explica o especialista.
O terceiro tipo – o melanoma – é o mais preocupante. Geralmente, ele é identificado pela observação das pintas na pele do paciente. Pintas que surgem onde antes não havia nada, crescem, são irregulares e assimétricas, sangram ou apresentam diversas cores dentro da mesma mancha são sinais de alerta para o acompanhamento. “Existe uma regra que usamos como critério: se colocarmos uma régua imaginária no meio da pinta, a parte de cima deve ser idêntica à parte de baixo”, explica Murad.
Se não houver o diagnóstico precoce e a remoção do tumor, o melanoma pode evoluir, atingir a circulação linfática e sanguínea, caracterizando um quadro de metástase. “Há cinco anos, a situação era ainda mais trágica para esses casos, porque não havia bons tratamentos. Hoje, existe a possibilidade do uso de medicação alvo molecular, que prolonga a vida do paciente, mas não significa a cura. A cura só é possível em casos descobertos em fase inicial”, pondera. A quimioterapia ou radioterapia são utilizadas nos casos mais graves.
É necessário, portanto, detectar o tumor antes que ele atinja as camadas mais profundas da pele. Murad explica que quanto mais clara for a pessoa, maior o risco. “Mas o que muita gente esquece é que, além disso, o cigarro favorece o aparecimento desse tipo de câncer”, lembra o oncologista.
Bronca
Apesar de os pacientes terem responsabilidade sobre a própria saúde (evitar sol entre 10h30 e 15h30, aplicar filtro solar todos os dias e ao longo do dia, além de utilizar chapéus e camisetas), André Murad chama a atenção dos colegas médicos. “O autoexame da pele é importante, todos devemos tirar um tempo para olhar no espelho com cuidado. Mas o dermatologista tem obrigação de fazer o exame completo da pele, do couro cabeludo à ponta dos dedos do pé, passando pela região perianal. Não fazer isso é uma má prática médica”, defende.
André Murad conta que já encontrou manifestações de melanoma até entre os dedos dos pés. “Infelizmente, é raro um médico que pede ao paciente que tire os sapatos e a roupa em uma consulta de rotina. Mas esse rastreamento deveria ser procedimento padrão, da mesma forma que um oftalmologista não pode tratar apenas de uma conjuntivite, por exemplo. Ele deve fazer o exame completo, verificar fundo de olho, pressão, degeneração macular”, exemplifica. “Não é porque a pessoa chegou ao consultório preocupada apenas com as rugas e o botox que eu posso deixar de cumprir o check-list. Nós aprendemos isso na faculdade de medicina, mas depois alguns esquecem, em função do tempo de consulta determinado pelo plano, da correria, do stress. Mas nada disso justifica. O paciente não pode correr esse risco e o dermatologista tem que se preocupar com a estética e também com a saúde”, argumenta o professor.
Prevenção
Apesar de evitável, o câncer de pele é o tipo mais comum no Brasil, correspondendo a 25% de todos os tumores malignos registrados, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Somente em Belo Horizonte, em 2013, são esperados 2.150 casos, sendo 80 do tipo melanoma e 2.070, não melanoma. No próximo dia 30/11, o país recebe a Campanha Nacional de Combate ao Câncer de Pele, promovida pela Sociedade Brasileira de Dermatologia.
O grupo mais propenso ao desenvolvimento da doença são as pessoas de pele clara, com sardas, cabelos claros ou ruivos e olhos claros. Pessoas com histórico da doença na família, queimaduras solares, incapacidade para bronzear e pintas também são mais propensas. “Sem os cuidados básicos, qualquer pessoa pode desenvolver o tumor ao longo da vida”, alerta o oncologista.
Entretanto, é possível que o câncer, principalmente o melanoma, manifeste-se em uma área não exposta ao sol. “Isso é um recado que reforça a necessidade do exame completo anual e também que não devemos demonizar o sol. A vitamina D ingerida por meio de cápsulas é mal absorvida e a radiação é importante para fixar a vitamina D e evitar a osteoporose, entre outros benefícios. A questão é que devemos ser inteligentes até para tomar banho de sol”, define Murad. Segundo ele, a caminhada de manhã bem cedo é muito benéfica.
A reaplicação de filtro solar deve ser feita a cada duas horas. O ideal é que o Fator de Proteção Solar (FPS) seja, no mínimo, 15. Além de evitar a exposição entre 10h e 16h (quando no horário de verão), as barracas de praia devem ser de algodão ou lona, que absorvem 50% da radiação ultravioleta. As barracas de nylon formam uma barreira pouco confiável: 95% dos raios UV ultrapassam o material.
Murad completa que o câncer de pele só não mata tanto no Brasil quanto no país de Hugh Jackman porque aqui há uma miscigenação protetora. “Mas todos os pacientes devem exigir do seu médico um exame completo periodicamente. Descobrir o problema na fase inicial é a chance que você tem de não ter complicações”, conclui o oncologista.
Colaborou Valéria Mendes