Saúde

Novo medicamento, prestes a chegar ao Brasil, promete revolucionar tratamento da artrite reumatoide

Autoimune, doença tende a progredir para deformidades nas articulações. Nova droga tem como desvantagem o alto custo

Carolina Samorano

Entre 0,5% e 1% da população mundial sofre de artrite reumatoide, uma doença autoimune, crônica e sistêmica caracterizada, principalmente, pela inflamação das juntas. No Brasil, os especialistas calculam que exista 1,3 milhão de pacientes e, embora a maioria seja de mulheres, os homens também são acometidos pela doença.


O diagnóstico é difícil e, diante da demora, o indivíduo se resignava com o uso de analgésicos e de cadeira de rodas. Sem tratamento, a doença tende a progredir para deformidades nas articulações. “O paciente que chega ao consultório já deformado teve, em algum momento, a oportunidade de ser diagnosticado”, observa o reumatologista Ricardo Xavier, um dos especialistas brasileiros presentes no American College of Rheumatology Meeting — congresso ocorrido no mês passado, em San Diego, Estados Unidos. “Com certeza, antes de apresentar as deformidades, essa pessoa teve algum sintoma, procurou um médico e não teve o encaminhamento adequado”, complementa.

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Felizmente, com o avanço da medicina, a qualidade de vida dos doentes hoje pode ser bem próxima à de pessoas saudáveis. Nos últimos 30 anos, os pacientes tiveram acesso a novas drogas, como o metotrexato, ainda hoje a primeira escolha de muitos médicos, ou os chamados “modificadores do curso da doença”. Mais recentemente, foram os biológicos, cujo mecanismo de ação é bem mais específico, diretamente nas citocinas que desencadeiam a reação inflamatória, que trouxeram novo fôlego ao tratamento da artrite reumatoide nos casos em que os modificadores não surtem efeito.

Agora, médicos, cientistas e pacientes comemoram uma nova alternativa de tratamento. O tofacitinib, já em uso em diversos países e em vias de ser aprovado no Brasil pela Anvisa, é considerado um medicamento alvo específico, assim como os biológicos. A diferença é que, por ser uma molécula menor, ele consegue entrar na célula em vez de agir do lado de fora dela. Além disso, o fato de que o novo tratamento pode ser ministrado via oral, em comprimidos, facilita muito. “Tomar um comprimido é diferente de se deslocar até um centro médico para tomar a medicação na veia. Muda a qualidade de vida do paciente, a aderência ao tratamento e até a percepção de gravidade da doença dele”, enumera a imunologista Maysa Silva, gerente médica da Pfizer.

Embora animadora, a novidade custa caro: nos Estados Unidos, por exemplo, uma caixa, suficiente para um mês, sai por US$ 2.055 (cerca de R$ 4.685). A esperança é de que o governo distribua o medicamento gratuitamente para a população. “O entendimento é de que bancar o tratamento e garantir uma vida mais saudável e produtiva para o paciente custa para o governo menos do que arcar com a aposentadoria precoce dele e possíveis internações decorrentes da doença”, analisa o reumatologista Ivânio Pereira, também presente no simpósio.