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Empresário, José da Trino – esse era seu nome – dizia atender um chamado. Largou tudo depois do trágico incêndio num circo norte-americano em Niterói, em 1961, no qual morreram 400 pessoas. Deixou tudo para trás e foi consolar as famílias das vítimas. Virou ícone. A partir de 1980, cobriu as 55 pilastras do Viaduto do Caju, na capital fluminense, com inscrições nas cores verde e amarelo criticando o mundo e dando conselhos. Ensinava que no lugar de “por favor” o correto seria “por gentileza”. Se de profeta e louco todos temos um pouco, por que não seguir um dos mandamentos de José da Trino?
Gentileza na alma e, consequentemente, na atitude. Assim é a matemática, física, professora e profissional atuante há 32 anos na área de direito previdenciário Joana Angélica de Oliveira. Um ser gentil na essência que quem tem a sorte de conhecer, conversar ou despertar sua atenção por instantes vai se sentir bem. Cantora, é contralto em festivais de coral, se aventura como atriz, fez curso de teatro, costura, pinta, tece. Ela se define como uma “pessoa que gosta da vida”.
Para Joana, “tudo tem um lugar na vida e devemos aprender com os lugares de cada um. O por favor, com licença, muito obrigada sempre foram regras dos meus pais, Nailza e Clemente. Gentileza é ter gratidão pelo processo da vida, que precisa ser compreendida. Ela não é boa nem má em si mesma, nós a fazemos boa, ainda que haja momentos de limitação para descobrirmos novas possibilidades”.
Joana enfatiza que a vida é um tabuleiro e não reclama. Sempre busca pelo espiritual em um tempo material. “Tenho de transcender. É muita correria, imediatismo e procuro ter gosto pelas coisas.” Ela reconhece que ser gentil não é fácil porque requer alguma renúncia. “Mas quem se autoconhece, que sabe que o outro tem os mesmos desejos, sonhos, vontades e direitos é gentil com naturalidade. É um aprendizado. Tem de querer e ter vontade de ser. Para isso, é preciso ser tocada pela vida, que é bela.”
A falta da gentileza, justamente no fim de ano, é interpretada por Joana de maneira sábia. Ela diz que as pessoas não reconhecem a festa interna e a grande angústia de todos nós é ver que o ano acabou e não fizemos nada do que queríamos. Aí, a compensação passa a ser material. “É preciso fazer uma terapia breve para perceber que somos iguais no trânsito parado, no supermercado abarrotado ou na imensa fila do banco. Tudo na vida é escolha e uma forma de crescimento.” Ela lembra que não vale viver aos borbotões e que a vida é um processo de autodesenvolvimento e autoevolução. “Conhecer e amadurecer as emoções é o desafio. Conviver em sociedade é aprimorar.”
Para Joana, tudo tem uma função na natureza. “Gentileza é um viés. O que tenho e posso ser e o que levo ao outro para ser tocado. Fácil? Para mim é, porque faço isso a vida toda. É até referência, é normal. Quem não é gentil não conhece a paz que essa atitude traz.” O recado de Joana é: em vez de reclamar, doe cinco segundos para refletir e perguntar a Deus, a si ou a quem quiser: o que preciso aprender. “É se colocar diante dos desafios e ver como pode resolvê-los. Querer mudar e enxergar o outro.”
CORAÇÃO
A gerente comercial Andréa Cleilia Raydan assegura que gentileza se aprende no berço. “A lição veio dos meus pais, Dalmo e Lia. Eles me ensinaram a fazer o bem porque seria bom para mim. Sempre me falaram para ser gentil e sou assim desde pequena. Ainda criança, na minha cidade, Várzea da Palma, fazia questão de acompanhar os mais velhos ao posto de saúde. Carrego essa atitude ao longo da vida. Em casa até me chamam de ‘Madre Tereza de Calcutá’ por ajudar moradores de rua, mendigos, famílias carentes. Mas faço por prazer. Gosto, não tenho medo, converso, escuto, ajudo no que posso, tenho paciência. Penso no próximo.”
Andréa conta que não se deixa contaminar pelo mau humor, estresse e falta de educação das pessoas, seja pela desculpa da correria e pressão do fim do ano, ou em qualquer outro dia da sua vida. “Procuro me manter tranquila, apesar de ser agitada no trabalho. Não trato ninguém mal e me coloco no lugar do outro. Acho importante ser gentil não só com quem tem necessidade especial, idoso, cego, grávida, mas com todos, sem distinção. Não é obrigação. Faço para me sentir feliz e melhor. E não espero nada em troca. Às vezes, as pessoas não respondem ao meu bom-dia. Não me importo e não fico chateada, porque fiz a minha parte. É o meu jeito. Acredito que para praticar a gentileza é preciso ter o coração aberto.”