Uma pesquisa feita pela Proteste Associação de Consumidores mostrou que a composição de alguns produtos que levam o nome de azeite no rótulo é tão alterada que, na prática, nem poderiam ser enquadrados nessa categoria. Mais preocupante ainda é o fato de que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) não mantém fiscalização dos produtos comercializados no país.
A associação testou 19 marcas de azeites extravirgens e descobriu que quatro delas oferecem produtos que nãpo podem ser destinados ao consumo humano (veja aqui as marcas que não passaram no teste de qualidade). De acordo com a entidade, que testou a qualidade das amostras quanto ao aroma, à textura e ao sabor, os produtos nem deveriam estar na prateleira de azeites.
Teoricamente, todo produto que entra ou é produzido no Brasil deveria ter sua qualidade atestada. Ao menos é isso o que estabelece uma Instrução Normativa do Mapa que entrou em vigência em 2012. Em nota, o Ministério informou ao Saúde Plena que “vem se empenhando em ações que visam à implementação do referido Regulamento Técnico, capacitando classificadores, equipando e credenciando laboratórios para a realização das análises de Azeite de Oliva”. No entanto, os laboratórios necessários para as averiguações ainda não estão prontos.
Devido a esse atraso, é possível que as divergências apontadas pela pesquisa do Proteste permaneçam irremediadas por tempo indeterminado. Por meio de sua assessoria de imprensa, o Mapa informou que o departamento responsável pela fiscalização nem sequer decidiu qual providência tomar diante da denúncia.
A assessora técnica do Conselho Regional de Nutricionistas de Minas Gerais Beatriz Carvalho, alerta que o azeite lampante, nome usado pela Proteste para classificar os produtos oferecidos por essas marcas reprovadas, também é um produto da oliveira, contudo não é destinado para consumo humano. “Tanto é que a Anvisa só regulamenta o azeite virgem e o extravirgem. Chamar esse tipo de produto de azeite é fraude e a rotulagem incorreta deve ser punida. Esse resultado é importante para o consumidor e também preocupante”, afirma.
Outras sete marcas, algumas delas muito conceituadas no mercado nacional, foram rebaixadas de extravirgem para virgem. Beatriz explica que a classificação muda segundo o nível de acidez do produto. Quanto menor o índice de acidez, mais benéfico ele será para a saúde de quem o consumir.
Segundo a classificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) azeites extravirgens devem ter acidez de, no máximo, 0.8, enquanto que a acidez dos virgens pode alcançar 2. Quanto menor esse número, maior será a concentração de ácidos graxos.
“Não é que a pessoa vá desenvolver uma doença caso consuma um azeite fraudado, mas esse consumo é sim um risco na medida que não vai trazer o benefício esperado. Por exemplo, se você estiver em uma dieta para diminuir seu colesterol e conta com o azeite para ajudar nisso, a dieta não vai dar certo”, pontua a nutricionista.
Uma das principais diferenças do azeite para outros óleos é que sua proporção de ácidos graxos insaturados é maior. Esses componentes ajudam a diminuir o colesterol LDL, considerado 'ruim', assim como a elevar os níveis de colesterol HDL, chamado de 'bom'. Outra vantagem é que ele não acumula placas de gordura nos vasos sanguíneos como fazem outros óleos e suas características anti-oxidantes combatem os radicais-livres, prevenindo o envelhecimento.
Vale destacar que o azeite perde suas vantagens para outros tipos de óleo quando o uso for para frituras. “O óleo de cozinha tradicional pode ser submetido a temperaturas altas sem queimar, já o azeite perde suas características mais rápido, então seu uso é aconselhado somente para o consumo cru”, comenta Beatriz.