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A dor de dente é uma de suas manifestações, mas a neuralgia do trigêmeo pode atingir outros pontos da região anterior da cabeça, como testa, maxilar e mandíbula. Trata-se de uma dor que beira o insuportável e, apesar da curta duração, pode se repetir ao longo do dia ou a pessoa convive com o problema por muitos anos. “A doença é caracterizada por qualquer dor no nervo que atinge a face em área que vai desde o queixo até a testa. Esse nervo trigêmeo sai de dentro do tronco encefálico – região muito importante do corpo, pois liga o cérebro à medula e é dessa área que se propagam todos os nervos cranianos. São muitos nervos em região muito pequena e com muitas estruturas importantes”, diz a médica, que atua no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG).
O tratamento da neuralgia do trigêmeo, segundo especialistas, pode ir de medicação, passando por infiltrações diretas no local e até mesmo intervenção cirúrgica. Segundo Elizabeth, os remédios atuam diretamente na membrana do nervo, tornando-o menos sensível. Eles são anticonvulsivantes desenvolvidos com a intenção de coibir a dor do nervo. “Já a intervenção cirúrgica envolve mais riscos, com a abertura do crânio. Se for esse o procedimento acordado entre médico e paciente, geralmente coloca-se uma película entre o nervo e a artéria afetados para desfazer a pressão”, explica. A neurologista recomenda que o paciente passe por um exame rigoroso, precisando a origem da dor, para que se possa decidir sobre o melhor procedimento.
De acordo com o neurocirurgião coordenador do Centro de Dor do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, Cláudio Fernandes Corrêa, a cura ou alívio por tempo mais prolongado, na maioria das vezes, ocorre por meio da cirurgia. Segundo o médico, os medicamentos considerados mais eficazes para o tratamento – cujos princípios ativos são o carbamazepin e o oxcarbamazepin)–, em doses elevadas, podem afetar a parte cognitiva do paciente e é preciso monitorar o sangue onde pode ocorrer diminuição dos leucócitos. “São efeitos colaterais consideráveis e há também aquelas pessoas que não toleram a medicação, pois apresentam algum tipo de alergia”, diz ele, ressaltando que nesses casos, a cirurgia é um caminho.
Especialistas são unânimes em dizer que não há tratamento preventivo, mas pode haver um controle adequado no grupo de maior risco, como a glicemia nos diabéticos ou pressão arterial dos hipertensos. O problema não evolui para patologias graves, entretanto, segundo Cláudio Corrêa a dor é cada vez mais insuportável.
Tratamentos mais comuns
- Acupuntura: O tratamento com a técnica de medicina milenar chinesa pode ajudar a resolver o problema sem uso de medicamentos ou intervenções cirúrgicas, garante a médica acupunturista Chirley Costa Lima, para quem o resultado é muito bom. “O tempo para eliminar a dor depende de cada paciente porque a acupuntura trabalha com a reação individual de cada pessoa”.
- Cirúrgico: São cinco técnicas cirúrgicas adotadas, sendo que três não exigem corte ou pontos.
1. “Em um dos procedimentos, usamos um raio X lateral para nos orientar ao local exato para fazer uma punção, que é feita injetando vários tipos de medicamentos, dependendo do diagnóstico. Pode-se usar inclusive álcool. Esse procedimento pode levar a uma remissiva (volta do problema) em 50% dos pacientes em até dois anos.
2. A outra técnica é uma punção por meio de eletrodos, onde não se injeta nenhuma substância e provoca-se uma lesão térmica (causada por frio ou calor, e feita por uma aplicação que atinge o local que origina a dor). Essa lesão diminui a sensibilidade que provoca a dor. Essa técnica não deve ser usada em casos que envolvam nervos óticos, sob risco de se perder a visão. É indicada somente para dores na mandíbula e no maxilar. Em torno de 30% dos pacientes submetidos a essa técnica podem ter o problema de volta em até cinco anos.
3. Um dos procedimentos considerados eficazes e que têm mostrado resultados satisfatórios é a cirurgia de compressão do gânglio de Gasser. Um catéter com um balão é introduzido na região da nervatura atingida e inflado por 50 segundos, pressionando o gânglio do nervo. “É um dos procedimentos mais executados no mundo, com 1.611 casos operados, sendo a primeira delas realizada em 1990. Acreditamos que há 98% de solução para o problema, suspendendo a dor de imediato”, diz o médico Cláudio Corrêa. No entanto, há remissiva em 30% dos pacientes.
4. A cirurgia com abertura do crânio é mais complexa e arriscada e é executada onde nasce o nervo trigêmeo, junto ao sistema troncal. O índice de remissão da dor está entre 30% e 35%.
5. Outra opção seria a radiocirurgia, modalidade de tratamento não invasiva que usa radiação ionizante (aparelho de radioterapia) em alta dose, numa única sessão e de forma extremamente precisa, ou seja, toda a radiação é dirigida para a área a ser tratada. As células do tecido expostas à radiação ionizante são destruídas devido a modificações que ocorrem no DNA. O procedimento é ambulatorial, não necessitando de internação. Essa técnica é indicada para tratar várias patologias neurológicas, como dor crônica (do trigemeo e de origem oncológica), distúrbios do movimento (pacientes com doença de Parkinson ou tremor); distúrbios do comportamento; e alguns casos de epilepsia refratária.