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“A mudança é uma tendência mundial, baseada nos trabalhos científicos publicados nos últimos anos em vários centros mundiais especializados”, diz o presidente da SBU, Aguinaldo Nardi. Vinte e cinco especialistas – entre eles urologistas, oncologistas e radioterapeutas – se debruçaram por dois anos sobre pesquisas da doença para definir diretrizes a serem seguidas pelos médicos brasileiros. As últimas recomendações da entidade tinham mais de cinco anos e estavam defasadas.
Segundo Nardi, a alteração na idade mínima será feita porque há um excesso de diagnósticos de câncer de próstata que não se desenvolveriam de forma agressiva. “São os chamados cânceres indolentes. O homem tem câncer, mas ele não chega a ser invasivo, não sai da próstata. E ele se desenvolve tão lentamente que não traria problemas. Acredita-se que cerca de 20% dos tumores sejam indolentes”, explica. O urologista Carlos Corradi, chefe do Serviço de Urologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, diz ainda que o excesso de diagnóstico leva a exames e tratamentos desnecessários, que podem causar efeitos colaterais, como disfunção erétil e incontinência urinária.
O problema disso, reconhece Nardi, é que não existe um marcador de risco que aponte com segurança se o câncer diagnosticado no paciente será agressivo. Por isso, foram estabelecidos critérios para definir qual seria o câncer indolente. “Se a biópsia da próstata apontar no máximo dois fragmentos alterados que estejam menos de 50% comprometidos e o resultado do exame de PSA (proteína que, em níveis aumentados, pode indicar existência de câncer) for menor do que 10, a suspeita é de que esse será um câncer indolente”, diz. Nesses casos, a indicação será monitorar o PSA a cada três meses e refazer a biópsia a cada dois anos.
REFERÊNCIAS DO EXTERIOR
A nova indicação de aumento da idade para os exames no Brasil seguiu dois estudos desenvolvidos no exterior: um nos Estados Unidos e um na Europa (este, com 160 mil homens, acompanhados desde 1990), segundo Corradi. “O que essas pesquisas mostraram é que antes dos 40 anos o câncer de próstata é muito raro, e depois dos 45, muito frequente, em homens brancos. No Brasil, somos miscigenados, com forte descendência negra, etnia que tem alta prevalência de câncer. Então, quem tem pai, irmão ou tio com histórico de câncer de próstata tem risco maior de desenvolver a doença e deve estar muito atento a partir dos 45 anos”, acrescenta Carlos Corradi, que acaba de ser eleito presidente da SBU e toma posse em 15 dias.
Questionado sobre o porquê de o Brasil não desenvolver os próprios parâmetros médicos e usar, na maioria das patologias, referências do exterior – cujas populações são distintas, com hábitos alimentares e de vida diferentes dos nossos –, Corradi alega que a Sociedade Brasileira de Urologia tem buscado construir esses referenciais, mas estudos dessa magnitude levam anos. “O HC/UFMG está desenvolvendo um novo exame de câncer de próstata que pode ser revolucionário, mas que estará mais concreto em quatro anos”, cita.
Aguinaldo Nardi acrescenta que o “rastreamento oportunista” (quando o homem procura voluntariamente o médico para fazer exames a partir de uma certa idade) precisa existir como forma de prevenção do câncer de próstata, assim como as mulheres têm indicações para procurar o ginecologista e o mastologista para ser submetida a exames de Papanicolaou e da mama, respectivamente. “Todo homem com mais de 50 anos deve ir ao médico fazer os exames de PSA e de toque retal”, acrescenta Nardi.
No caso de homens de pele negra, obesos ou que tenham histórico familiar a recomendação muda de 40 anos para 45. Segundo explica o oncogeneticista Henrique Galvão, do Laboratório Hermes Pardini, de Belo Horizonte, a população negra entra no mesmo grupo de quem tem histórico familiar porque ela tem um conjunto de genes chamados de baixa penetrância, que isoladamente não apresentam riscos do desenvolvimento de tumores, mas juntos, sim. “Essa questão é mais teórica do que prática, pois não temos um exame específico que nos indique isso. Daí usamos a questão étnica como forma de prevenção maior”, diz.
TABU
Diferentemente da mulher, que busca a primeira consulta com um ginecologista quando tem as primeiras relações sexuais, o homem raramente procura um especialista antes de sentir alguma coisa. “O governo não liga para a saúde do homem, na rede básica de atendimento não há um direcionamento. Em Belo Horizonte mesmo, o exame de PSA não está mais sendo feito nos centros de saúde. A mulher tem mamografia, campanha do Outubro Rosa, e o homem nada. Outro fator é que a maioria se acha super-homem, que nada vai lhe ocorrer. O homem só pensa em trabalhar. Isso sem contar com o machismo e o tabu sobre sexo. E ele não gosta de falar disso. Então, quando vai descobrir um câncer, a doença já está muito avançada. Muitos homens preferem morrer da doença a passar pelo exame do toque, que é simples e rápido”, acrescenta Carlos Corradi. (Com agência Estado)
Medicina personalizada ganha espaço
Uma nova medicina que vem sendo desenhada, a medicina personalizada, baseada nos exames genéticos de cada indivíduo para esmiuçar as predisposições da pessoa a determinadas doenças, tem sido usada para identificar casos de câncer, não apenas de próstata, mas, principalmente, de mama. Henrique Galvão, do Laboratório Hermes Pardini, trabalha investigando síndromes familiares, entre elas marcadores de cânceres. Ele explica que diferentemente do câncer de mama em mulheres, que têm marcadores genéticos já definidos para indicação de um possível tumor – mutação nos genes BRCA 1 e BRCA 2, por exemplo –, no câncer de próstata eles não são tão transparentes.
“Nas famílias que têm vários casos de tumor de próstata, indicamos que o homem faça um rastreamento mais estrito, não apenas com os exames de PSA e toque retal, mas um aconselhamento genético, que é uma consulta médica que engloba toda a história familiar. A partir daí, pode haver a indicação de exames de predisposição genética. Normalmente, a sugestão é que o paciente com registro do tumor de próstata na família faça acompanhamento com um urologista anualmente”, indica. Segundo Galvão, esse pode ser, em breve, um forte ramo de prevenção na medicina. “Estamos ainda no começo dessa era. Há muita coisa para ser desenvolvida, como os marcadores. Alguns são bons, outros precisam ser mais bem apurados ao indicar um resultado”, diz.
Frente parlamentar é lançada
A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) conseguiu sensibilizar o legislativo federal para a saúde do homem brasileiro. Na segunda-feira, senadores e deputados federais homenagearam a entidade pelas ações de esclarecimento sobre o câncer de próstata. Os parlamentares lançaram, um dia depois, a Frente Parlamentar de Atenção Integral à Saúde do Homem, liderada pelo deputado Jorge Silva (Pros-ES) e com mais de 200 deputados. “Avançar no combate ao câncer de próstata é a primeira ação da frente”, disse. Uma das tarefas mais importantes da frente é atuar fortemente para melhorar as dificuldades de acesso do homem brasileiro ao sistema de saúde pública e as informações sobre os exames necessários para evitar a doença. Diagnósticados no início, 90% dos tumores são curáveis.
A doença
Fatores de risco:
Pacientes obesos
Homens sedentários, que não praticam exercícios físicos
Estresse
Alimentação rica em gordura
Depressão
Perda de autoestima
O câncer de próstata é uma doença silenciosa, e é o segundo mais comum entre os homens (atrás apenas do câncer de pele não melanoma). Em valores absolutos, é o sexto tipo mais comum no mundo e o mais prevalente em homens, representando cerca de 10% do total de cânceres, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que estimou 60 mil novos doentes em 2012 e registrou cerca de 12,8 mil mortes em 2010.