A cor da cinta que prende o quimono, contudo, não foi a maior conquista alcançada. O convívio com os rebentos trouxe inúmeros benefícios. “É muito prazeroso ver os meninos evoluindo e se desenvolvendo. Se, antes, eu sempre vencia, eles hoje vão me superando”, conta. Para o comerciante, a presença dos pais nas atividades físicas e esportivas é muito importante para que os filhos se sintam seguros e amparados. “Com a presença de um adulto, da família, é mais fácil. É importante ter alguém para acompanhar, dar ânimo, contribuir, porque, às vezes, é preciso ter muita perseverança”, explica Anderson.
A principal satisfação dele é ver que a atividade pode auxiliar na educação. Disciplina, compromisso e pontualidade, por exemplo, são alguns dos valores que o judô forneceu a Mateus e Gabriel. “A grande alegria é a de colocar bons cidadãos, pessoas melhores, na sociedade. E eu tenho certeza de que muito que passei aos meus filhos foi por causa do esporte.” E o convívio se estendeu a outras práticas. Correr, nadar e andar de bicicleta são outras atividades realizadas em conjunto. “A gente, às vezes, até joga futebol, apesar de ser todo mundo muito ruim de bola”, conta o torcedor do Flamengo — esse, sim, um gosto transmitido aos filhos, que também se tornaram rubro-negros.
Influência positiva
Segundo o psicólogo do esporte Rodrigo Scialfa Falcão, treinos coletivos são uma excelente forma de os pais estimularem hábitos saudáveis nos filhos. “Pode ser muito importante no sentido de educar para as práticas esportivas, como um estímulo à saúde e à qualidade de vida”, diz o especialista. “Os pais que possuem o hábito de se exercitarem já influenciam seus filhos. As crianças são muito mais motivadas por ações e atitudes do que por palavras”, completa Falcão.
Professora do Centro de Desportos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Larissa Galatti explica que, nos últimos anos, acontece um crescimento significativo de novas maneiras de se exercitar. Além disso, a visão sobre qual a função da prática também mudou. “Hoje, ela é estimulada como um hábito de vida para objetivos além da profissionalização, recebendo novos significados sociais relacionados à saúde, à estética, ao lazer, à socialização e à educação”, explica.
De acordo com Galatti, essas mudanças contribuem para que os responsáveis se sintam mais motivados a realizar as atividades com os pequenos. “Se, antes, os adultos apenas estimulavam a iniciação esportiva dos filhos, hoje é comum que se envolvam na mesma prática”, constata. “Essa relação tende a ser positiva, em especial para as crianças, que têm nos pais as pessoas mais importantes e de maior influência em suas escolhas.”
O autônomo Francisco Martins, 46 anos, pratica caratê desde a adolescência e conta que os filhos, Amanda, 15, e Lucas, 13, acabaram seguindo seus passos. “Eu dei aulas durante um tempo e eles sempre iam comigo. Aprenderam a gostar”, lembra. Hoje, diz, é Amanda quem mais o estimula a seguir com os treinos. A garota decidiu levar a atividade a sério e já acumula mais de 300 medalhas.
A relação do trio também teve ganhos importantes. “É muito bacana. A gente se respeita muito. Em casa, não temos brigas, discussões”, afirma Francisco, para quem o esporte pode contribuir muito para a formação dos jovens. “Sempre pensei que, se eles fossem criados praticando esporte, aprendendo os valores e o respeito, seriam pessoas melhores.”
Prática adequada
Larissa Galatti ressalta a importância de os pais adequarem a prática às possibilidades dos filhos. Tanto fisicamente quanto mentalmente, a atividade deve ser pensada de acordo com as capacidades de cada idade. “Fundamentos, princípios, regras e táticas do esporte devem ser, aos poucos, apresentados de maneira simples e num nível de exigência apropriado.” É fundamental, segundo a professora, que os filhos gostem das atividades, pois só assim terão vontade de continuar. “O esporte na infância deve educar e, sobretudo, ser prazeroso, já que é a satisfação que manterá a criança no ambiente esportivo.”
A idade certa para se dedicar a algum exercício é uma dúvida comum. Rodrigo Falcão afirma que, desde que com acompanhamento, atividades e esportes que não envolvam competição podem ser realizados a partir de qualquer idade. “Todos os esportes permitem parceria entre pais e filhos, desde que seja saudável, e os pais não obriguem os filhos a fazerem atividades apenas porque eles (os pais) gostam.”
Sem carro por opção e ciclista inveterado, o biólogo e servidor público Uirá Lourenço, 35 anos, leva os filhos, Cauã, 5, e Iuri, 4, para pedalarem desde que os meninos estavam na barriga da mãe, Ronieli, que pedalou até os seis meses de gravidez. “Quando o Iuri era recém-nascido, íamos os quatro na mesma bicicleta. Ele com a mãe em uma bolsa canguru, e o Cauã na cadeirinha”, lembra.
A partir dos 3 anos, os meninos aprenderam a conduzir a bicicleta com rodinhas, e, hoje, até conseguem ir para a escola pedalando alguns dias, escoltados por Uirá. No caminho, aproveitam para conversar, cantar e fazer brincadeiras. “É um momento de integração, sem estresse”, reforça o pai. Cauã e Iuri se tornam, a cada dia, mais interessados pela atividade. Pedem para pedalar e reclamam quando é preciso ir nas cadeirinhas. “Eles cobram poder ir na bicicleta deles, mas, em alguns momentos, pelas condições das ciclovias ou do tempo, é melhor irem comigo”, conta Uirá.
O biólogo acredita que, além dos benefícios para a saúde e para a integração da família, a atividade contribui para criar uma visão de mundo distinta nas crianças. “Eles já têm mais consciência e gostam. Como sabem da minha paixão, sempre querem me dar presentes relacionados a bicicletas.” A professora Larissa Galatti acredita que um dos benefícios importantes das atividades físicas e esportivas em famílias é a possibilidade de que as crianças aprendam com o exemplo dos pais e repassem o modo de viver mais saudável que receberam. “Com o crescente estímulo a um estilo de vida saudável e ativo por toda a vida, espera-se que os jovens mantenham a prática do exercício físico também quando pais e mães”, pondera.