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Entre críticas e aplausos, essa mudança de cultura e ideal de beleza motivou, nos últimos dias, o resgate de um estudo publicado pela Universidade de Oxford e pelo Hospital Churchill, no Reino Unido, em 2010.
Segundo os pesquisadores, pessoas que concentram gordura corporal nas coxas e nádegas contam com proteção extra contra diabetes, doenças cardíacas e outras co-morbidades associadas à obesidade. Essa proteção seria explicada porque, nessa região, a gordura absorve ácidos graxos e contém um agente anti-inflamatório que impede a obstrução das artérias. O artigo, publicado na revista científica 'International Journal of Obesity', afirma ainda que ter bumbum grande é preferível à gordura na região da cintura, que não oferece esse tipo de proteção. O corpo em forma de pera – com mais gordura nas coxas, quadris e bumbum – seria muito mais saudável que o corpo em forma de maçã – com gordura concentrada na barriga e cintura.
De acordo com os pesquisadores, que avaliaram dados de mais de 16 mil mulheres, em contrapartida, pouca gordura nos quadris pode levar a problemas metabólicos sérios, como a Síndrome de Cushing, uma desordem causada por altos níveis de cortisona do sangue e que causa aumento de peso. "O que importa é a forma e onde a gordura se acumula", disse Konstantinos Manolopoulos, principal autor do trabalho.
Para quem se encaixa no perfil, vale procurar mais informações antes de sair comemorando. O médico e diretor da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Frederico Peret, explica que existem, sim, vários tipos de acúmulo de gordura e obesidade; e que a composição do corpo feminino acentua essa diferenças. “O que é considerada uma verdade científica, atualmente, é que a obesidade central, ou seja, a gordura acumulada no tronco e no abdômen, associa-se a um risco maior de doença cardiovascular. Isso quer dizer que o acúmulo na parte inferior do corpo traz um risco menor, mas não uma 'proteção' extra”, explica Peret.
De acordo com o médico, a obesidade central vincula-se também a problemas metabólicos importantes, relacionados tanto ao colesterol e aos triglicérides quanto à resistência à insulina, favorecendo o aparecimento de diabetes e aumentando os riscos durante a gravidez. “Uma série de mecanismos associados à atividade inflamatória explica esse processo. As mulheres que acumulam mais gordura na parte inferior do corpo têm, a longo prazo, resultados um pouco melhores em relação a doenças crônicas do que aquelas com obesidade central. O que não quer dizer que elas estão isentas dessas complicações e não precisam se cuidar. Obesidade não é bom para ninguém”, resume o especialista.
Peret acredita que o estudo queira mostrar, na verdade, o seguinte: caso você apresente acúmulo de gordura no corpo, será menos maléfico para o organismo se ele estiver nas coxas e bumbum. “Mas daí a isso significar uma 'proteção' ou uma 'vantagem' em relação a todo o restante da população, ainda há há um longo caminho a ser percorrido em pesquisas. Essa conclusão é muito controversa”, alerta o médico, lembrando que mesmo uma pessoa com composição corporal adequada, alimentação saudável e praticante de exercícios pode apresentar problemas metabólicos e cardiovasculares. O acompanhamento médico é necessário em todos os casos.
Obsessão
O estudo é consequência de uma 'obsessão' entre parte da comunidade científica: a de esclarecer que nem toda gordura é igual ou nociva. Trabalhos anteriores demonstraram que é mais difícil queimar a gordura concentrada em torno das coxas e do bumbum do que a situada na região da cintura. Essa dificuldade teria benefícios: quando a gordura é quebrada muito depressa, ela libera substâncias que podem levar a inflamações no corpo.
A gordura em torno do quadril também seria responsável, segundo o estudo britânico, por maiores quantidades do hormônio adiponectina, que protege as artérias e promove melhor controle da taxa de açúcar no sangue e da queima de gordura. Sobre o trabalho, Manolopoulos chegou a dizer que quanto mais gordura em torno das coxas, melhor - desde que a barriga permaneça magra. "Infelizmente, geralmente uma coisa não existe sem a outra", destacou o pesquisador.
A equipe responsável pelo estudo chega a sugerir que tratamentos futuros poderiam tentar aumentar deliberadamente a quantidade de gordura no quadril de pacientes para 'protegê-los'.
Para o diretor da Sogimig, sem uma avaliação do perfil metabólico e glicêmico de cada pessoa, não é possível afirmar que essa gordura seja benéfica. “É muito perigoso generalizar essa indicação para toda a população. Os dados analisados não permitem chegar à conclusão de que a gordura concentrada na parte de baixo seja, de fato, uma proteção contra doenças”, pondera.
Bebês mais inteligentes?
Outro trecho da pesquisa motivou piadinhas com North West, a filha de apenas três meses que a celebridade de TV Kim Kardashian teve com o rapper Kanye West. “Se isso for verdade, essa menina vai ser um gênio”, disse o portal de notícias Huffington Post na última semana.
Segundo o trabalho publicado pela Universidade de Oxford, as mulheres com este tipo de corpo tendem a produzir hormônios para metabolizar o açúcar. Só que isso está relacionado a outro fator – um aumento dos níveis de Ômega 3, tipo de lipídio apontado como catalisador do desenvolvimento do cérebro. Os filhos dessas mulheres teriam a tendência de ser mais inteligentes, portanto.
Para Felipe Peret, este é outro ponto controverso e bem mais complexo do que se imagina. “Já está estabelecido na comunidade científica e médica que existe uma 'programação' intrauterina que ajuda a determinar o desenvolvimento de doenças crônicas, por exemplo”, afirma o médico.
Segundo Peret, quando um bebê, ainda na gestação, é exposto às condições características de mães obesas, recebendo mais glicose, triglicérides e colesterol em sua corrente sanguínea, por exemplo, ele pode ter alterações no desenvolvimento. “Ainda que ele estivesse geneticamente programado para ser saudável, as condições adversas no útero expõem o bebê a uma carga hormonal muito alta, principalmente de cortisol. Esse ambiente pode alterar o DNA e transformar para sempre a vida daquele indivíduo”, esclarece o médico mineiro.
Daí a grande preocupação com a alimentação das grávidas – se ela estiver desnutrida ou obesa, pode haver um prejuízo para o filho a longo prazo. “É o que nós chamamos da perpetuação de uma doença crônica na sociedade – uma mãe obesa gera um feto obseso, que futuramente poderá ter filhos obesos. Portanto, sabe-se que as condições de saúde da mãe interferem na genética do bebê. Mas daí a dizer que uma mulher com determinado tipo de corpo gera filhos mais inteligentes, temos uma distância muito grande”, ressalva o especialista.
O médico alerta que é preciso cuidado com essas comparações. “Dizer que as características de uma pessoa são muito melhores em comparação com outros indivíduos que estão em péssimas condições é muito diferente de dizer que algo é simplesmente melhor. Ninguém pode, a partir desta pesquisa, pensar: 'tenho o quadril largo, meu filho vai ser mais inteligente, não preciso me cuidar, faço o que eu quiser”, pontua Peret.
O diretor da Sogimig lembra ainda que quadril largo não é sinônimo de mais gordura nessa região do corpo. E que são necessários outros estudos para definir se esse tipo de gordura pode configurar, futuramente, um fator de proteção. “Um indivíduo saudável que não se cuida pode passar pelos mesmos problemas que uma pessoa propensa a problemas cardíacos, por exemplo. Para viver muito e viver bem, é preciso ter cuidados básicos, e nenhum tipo de corpo escapa disso”, finaliza Frederico Peret.