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“Embora manipulações anatômicas e neurofarmacológicas diretas no LH produzam alterações profundas em uma variedade de comportamentos motivados, eles fornecem uma visão mecanicista limitada das discretas conexões dos circuitos que regulam comportamentos precisos, tais como a alimentação”, afirma Joshua Jennings, principal autor do estudo, publicado recentemente na revista Science.
Em estudos anteriores, percebeu-se que o hipotálamo lateral abriga um circuito de neurônios que pode tanto fazer com que indivíduos saciados continuem comendo quanto levar as cobaias a recusarem comida mesmo depois de muito tempo sem se alimentar. Para descobrir o processo que desencadeia esse controle neuronal sobre a fome, Jennings e colegas focaram uma outra região cerebral, chamada núcleo leito da estria terminal (NLET), cujos neurônios influenciam o LH.
No experimento, os cientistas ativaram o NLET dos ratos enquanto observavam o que ocorria no cérebro dos bichos com uma moderna técnica que mescla luz e genética. Como esperado, a ação se refletiu no hipotálamo lateral, mas os autores do estudo conseguiram ver que essa influência se dá especificamente nos chamados neurônios glutamatérgicos, que são bloqueados. Segundo os cientistas, a interrupção dessas células em particular é que levou os animais a não só comerem em excesso como apresentarem preferência por alimentos de alto teor calórico.
A partir desse achado, os pesquisadores tentaram uma nova experiência e impediram que as células do NLET bloqueassem os neurônios glutamatérgicos do hipotálamo lateral. Quando isso foi feito, as cobaias se recusaram a comer qualquer coisa. “Até agora, os elementos precisos do neurocircuito responsável pela alimentação e os fenômenos motivacionais de comportamentos observados há cinco décadas por estimulação elétrica do LH eram um completo mistério”, comemora Jennings.
Terapias
Segundo ele, as entradas inibitórias do NLET inervam e suprimem especificamente os neurônios glutamatérgicos de LH para promover a alimentação. Jennings e sua equipe acreditam que, ao revelar os padrões de expressão genéticos e projetar alvos para essas estruturas, será possível identificar novos pontos para a intervenção terapêutica dentro desses circuitos e criar tratamentos para distúrbios alimentares e para a obesidade.
Para o neurologista do Hospital Sírio-Libanês, Eduardo Mutarelli, o trabalho abre a perspectiva de outras abordagens terapêuticas para pessoas obesas, como, por exemplo, a modulação por estimulação cerebral, como acontece para o Parkinson. “Seria um marca-passo implantado na área onde está localizado o circuito neuronal. Poderia atingir pessoas com outros tipos de desordens alimentares, mas a aplicabilidade estaria em grande parte voltada ao obeso.”
A vantagem de uma abordagem desse tipo é a possibilidade de definir os momentos de sua aplicação. “Você liga e desliga o marca-passo. O paciente não teria a vontade de comer eliminada, o que levaria a condições de inanição. A palavra certa é modular o apetite.” Segundo o neurologista, existe uma intenção do Departamento de Neurologia do Hospital em iniciar testes com o marca-passo cerebral em pacientes com obesidade.
O estímulo permanente desses circuitos do hipotálamo lateral também já é um caso conhecido da clínica médica. Segundo o neurocientista Ricardo de Oliveira, do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, no Rio de Janeiro, lesões nesse ponto são raras, mas existem. Elas causam a obesidade hipotalâmica ou anorexia, quando o resultado é inverso. “Dentro do hipotálamo, existem sistemas que trabalham em oposição, um pela saciedade e outro pelo apetite. Se você tem um funcionando mais, como o da saciedade, por exemplo, nós vamos ter uma pessoa ficando sem apetite.” O inverso também acontece. Se o sistema que regula o apetite estiver hiperativo, ele vai ter uma obesidade patológica, afirma o neurocientista. “Mas o que acontece é que a maior parte da obesidade não se deve a uma doença hipotalâmica.”
Ele reforça que a maioria das pessoas acima do peso não possuem uma doença ou lesão cerebral. Na pessoa normal, esses dois sistemas funcionam em equilíbrio. “Quando você come, o sistema de apetite é atenuado. Conforme o tempo passa, o sistema de saciedade vai diminuindo a força, e o de fome aumenta.” Para Oliveira o processo é exatamente um equilíbrio dos dois, que se alternam durante todo o dia. “Há uma abertura de perspectiva para o surgimento de métodos terapêuticos e, por isso, esse trabalho ganhou projeção.”
Estimulação
A terapia de estimulação cerebral profunda (DBS, em inglês) é um tratamento cirúrgico que pode reduzir alguns dos sintomas associados à doença de Parkinson. A técnica usa um dispositivo médico cirurgicamente implantado semelhante a um marca-passo cardíaco para fornecer estimulação elétrica a regiões específicas do cérebro. A ativação dessas regiões bloqueia os sinais que causam os sintomas motores incapacitantes do mal, permitindo ao paciente maior controle dos movimentos corporais.
Lesões
A obesidade hipotalâmica pode ser definida como extensas lesões no hipotálamo que causam alterações metabólicas. Essa condição pode ser observada especialmente em pacientes com craniofaringioma, um tumor embrionário de natureza benigna.