Saúde

Leitora compartilha experiência do diagnóstico de câncer de mama

Todos os dias, milhares de mulheres recebem o diagnóstico de câncer de mama

Revista do CB

“O mês de outubro é rosa, mas nem sempre foi assim... Há pouco mais de quatro anos, recebi o diagnóstico que ninguém deseja: câncer na mama direita. Estava tão desarmada que fui sozinha à médica, embora a repetição da mamografia e a realização da punção já tivessem acendido uma pequena luz de dúvida. Ainda assim, jamais poderia imaginar que aos 44 anos teria de lidar com aquela sentença. Sim, porque, no início, o resultado do exame já é o fim do mundo.


A minha primeira reação, nem poderia ser diferente, foi chorar e chorar... Mas não por muito tempo. Na realidade, não podia desperdiçar tempo e lágrimas, era necessário agir e rápido.

Procurei um médico especialista que me recomendou uma cirurgia o mais breve possível. Menos de um mês depois, fiz uma mastectomia radical — coloquei um expansor no seio para amenizar o impacto da mutilação. Dez dias depois, uma nova cirurgia para realizar um esvaziamento axilar. O tumor, que antes aparecia nas imagens como algo singelo, de cerca de 18 milímetros, na realidade, tinha 3cm por 4cm. E as más notícias não acabam por aí, houve uma invasão no linfonodo sentinela. Era necessário retirar todo o material linfático da axila.

Fui para a nova cirurgia e administrei todos os inconvenientes da recuperação, muita drenagem linfática e fisioterapia para recuperar o braço direito. Mas tudo isso perde importância quando vem o diagnóstico de que tudo o que foi retirado estava livre de contaminação. Ufa!

"Neste Outubro Rosa, resolvi falar, uma espécie de catarse interior. Se as minhas palavras puderem ajudar alguém que esteja vivendo esse momento de aflição e sofrimento, estarei satisfeita."
Um mês depois dessa intervenção, tem início o tratamento de quimioterapia. Novamente, a escolha do médico fez toda a diferença. Apesar da preparação emocional para essa nova etapa, foi muito difícil suportar tantos enjoos, fraqueza, mal-estar. Não era fácil se alimentar, mas era necessário. Seguiu-se um período de reclusão de aproximadamente sete meses. E, para mim, o pior — talvez algumas pessoas possam ficar chocadas — foi a perda do cabelo. É difícil praticar o desapego...

Meu Deus! Não bastam as cirurgias, a medicação, a imunidade baixa, a clausura, e ainda temos que ver o cabelo caindo, após o primeiro mês, aos poucos, até não sobrar quase nada. Seguindo o conselho médico, eu cortei bem curto e fiz uma peruca com o meu próprio cabelo. Tudo para tentar manter minimamente a autoestima. Também lancei mão de lenços coloridos e chapéus — como esquenta a peruca!

Depois do tratamento quimioterápico, é hora de se recuperar física e emocionalmente. O cabelo volta a crescer de mansinho, aos poucos também você volta a se alimentar melhor e ter mais disposição para sair de seu casulo e ver o mundo, que parece que ficou congelado.

Depois da longa licença, retornei ao trabalho também devagar, como se o mundo exterior tivesse ficado sobrestado, à sua espera, na torcida.

Hoje, administro a pequena sequela do meu braço, que requer cuidados especiais para evitar infecções, além dos sintomas da medicação para bloqueio hormonal e a grande dificuldade de gerir tudo isso sabendo que o conceito de cura é algo mais volátil que o desejado. Ainda estou em tratamento e diariamente tenho de lidar com essa realidade, com a ansiedade que nos acompanha a cada exame médico para o controle da doença.

A questão estética foi resolvida há menos de dois anos com a cirurgia de reconstrução da mama — o resultado é extraordinário, especialmente para a autoestima feminina. Mas como reconstruir a alma depois daquele diagnóstico?

Na realidade, posso afirmar com certeza que tudo que passei me fortaleceu como pessoa, mãe, esposa e filha. Desde o primeiro momento que tive de lidar com essa doença, procurei apoio psicológico e psiquiátrico e formei uma imensa rede de apoio.

Da família, não poderia receber mais amor e compreensão. Meu filho, então com 4 anos, acompanhava tudo ao meu lado, me dando força. Contava tudo que iria acontecer para ele, numa espécie de A vida é bela, com termos que poderiam ser digeridos por uma criança. E ele continuou me achando uma mãe linda, apesar de frágil e careca.

O marido, que chorava no quarto ao lado, achando que eu não perceberia, sempre esteve presente, paciente, atencioso e dedicado. Da minha mãe, vem uma força sobrenatural própria das mulheres: nunca a vi chorar, ela preferia estar ao meu lado, segurando minha mão e orando. Com certeza, ela ficou o tempo todo agradecendo a Deus pela minha vida e pela minha saúde.

Os amigos formam um capítulo à parte: foram tantas as manifestações de amor e carinho que cheguei a duvidar se eu merecia tudo isto: eram orações de todos os credos, missas, novenas, cultos, presentes, mensagens... Os colegas de trabalho, então, acompanhavam tudo, vibravam positivamente pela minha pronta recuperação e me receberam com rosas quando voltei ao trabalho. Não há palavras para agradecer...

Além da rede de apoio, sem a qual acho difícil suportar essa prova, outro ponto que me dava ânimo incondicional era a fé. Exercitava diariamente a minha fé porque sabia que Deus tinha um propósito ainda maior para mim. E essa compreensão veio logo depois das primeiras lágrimas. Claro que me fiz as perguntas clássicas: por que eu? O que eu fiz? Onde foi que eu errei? Posso garantir que essas dúvidas duraram pouco tempo; eu não tinha tempo a perder...

E assim fui para a primeira cirurgia confiante e consolando meu marido. A segunda, então, já era previsível, fui até maquiada. O importante era tirar o mais rápido possível qualquer vestígio dessa doença do meu corpo.

Durante todo o tratamento, as pessoas mais próximas perguntavam de onde eu tirava tanta força, como poderia me manter com resignação e humor. A resposta era sempre a mesma: eu simplesmente não poderia fraquejar, tinha de ter esperança porque estava viva e iria passar, com certeza, por aquela tormenta. Essa confiança foi construída desde o primeiro momento, e para ela concorreram todas as pessoas que me ajudaram, a medicina, a terapia, a religião, o amor que recebi dos amigos e de pessoas que sequer conhecia, mas que oraram por mim.

De tudo isso, fica a lição possível. O câncer é uma doença sorrateira, um inimigo astuto, que deve ser respeitado, mas pode ser combatido. E, para esse embate, temos de agir em várias frentes: a medicina — a importância do diagnóstico precoce e do tratamento rápido; a terapia e a medicação para ansiedade e depressão, é imprescindível preparar o terreno do nosso emocional para lidar com tantas dúvidas e estresse; a fé, e nem falo de uma religião, porque nesse hora a corrente de energia é tão importante que até hoje não liberei meus amigos e familiares: podem continuar orando por mim. Eu agradeço a Deus todo dia ter passado por tudo isso e ter pessoas tão especiais ao meu lado.

Se, depois dessa breve síntese da minha vida nos quatro últimos anos, alguém perguntar se eu tenho vontade de chorar, eu respondo sem hesitação: às vezes. E isso não significa que estou deprimida ou que estou tendo alguma recaída. Nada disso, apenas decorre da minha condição humana e feminina, mas tenho sobrevivido muito bem a esse cenário.

Daqui a pouco, terão passado cinco anos da mastectomia. Vou comemorar, lógico, como tenho comemorado a vida diariamente. Algo vai mudar depois disso? Não sei porque qualquer um de nós pode vir a ter câncer. O importante é manter os hábitos saudáveis, o controle médico, os exercícios físicos. Enfim, o importante é fazer a nossa parte e viver com prazer e alegria.

A minha vaidade — deveras combalida durante o tratamento — hoje está recuperada. Vejo como fui privilegiada de ter recebido o tratamento adequado e poder afirmar que olhar no espelho não é algo dolorido. Triste é a situação de tantas e tantas mulheres que ficam alijadas de boa parte dos aspectos positivos que descrevi num momento tão delicado da vida.

Neste Outubro Rosa, resolvi falar, uma espécie de catarse interior. Se as minhas palavras puderem ajudar alguém que esteja vivendo esse momento de aflição e sofrimento, estarei satisfeita. Devemos partilhar nossas experiências para ajudar cada vez mais a desmitificar a doença e conscientizar as mulheres da importância dessa campanha, que é mundial. É nossa obrigação moral, nosso dever cívico, mas, acima de tudo, é uma forma de olhar para trás e se sentir mais forte.”