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Para alcançar esse resultado, os cientistas uniram propriedades de dois hormônios produzidos naturalmente pelo organismo humano, o GLP-1 e o GIP, de grande importância para a regulação do metabolismo. “A ação combinatória integrada desses dois hormônios fisiológicos oferece uma abordagem única e benéfica para o tratamento da síndrome metabólica”, declarou Brian Finan, um dos autores do estudo e membro do Instituto de Diabetes e Obesidade da Alemanha. “Ela representa um passo importante em nossa busca de opções terapêuticas mais eficazes”, complementou em um comunicado à imprensa.
Os pesquisadores justificam a escolha do GLP-1 e do GIP pela capacidade que eles têm de estimular a secreção de insulina e suprimir a liberação de glucagon, um contrarregulador que dificulta a produção da substância que falta aos diabéticos. Além dessas tarefas auxiliares, os dois hormônios usados na nova droga desaceleram o esvaziamento do estômago, fazendo com que o indivíduo se sinta saciado por mais tempo e ingira menos alimentos, o que contribui para a diminuição de peso.
“Os resultados demonstram que o GLP-1 e o GIP, quando incorporados numa única molécula, proporcionam uma atividade sinérgica para o controle da glicose e menor peso corporal”, declarou Richard DiMarch, do laboratório da Universidade de Indiana.
Com os resultados positivos obtidos no experimento, DiMarch acredita que o remédio poderá auxiliar tratamentos de diabetes, substituindo os medicamentos que não conseguem atender todas as necessidades no combate a doença. “As drogas atualmente aprovadas são bastante eficazes, mas não são suficientes para normalizar a glicose e certamente não provocam diminuição de peso corporal”, acrescentou.
Cautela
Especialistas que não participaram do estudo consideram a droga promissora, mas lembram que os autores do artigo ainda têm um caminho a percorrer para provar que a novidade é mesmo eficaz e segura. “Essa molécula mostrou resultados bastantes positivos, porém outros testes precisam ser feitos. Os voluntários foram testados por apenas seis semanas, mas o controle de glicose precisa ser monitorado por meses, já que o tratamento do diabetes é algo constante. Precisamos ter certeza do sucesso de um medicamento antes de colocá-lo no mercado”, diz Daniel Benchimol, endocrinologista do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O endocrinologista Mauro Schars indica outra questão importante: o número de pessoas que já experimentou o remédio. O teste com humanos, realizado depois do sucesso com animais, envolveu apenas seis pessoas.
“A busca por novos medicamentos é constante. Esse é um exemplo. No entanto, esses trabalhos precisam usar um número maior de pacientes para que possamos observar se sua eficácia é realmente comprovada. Esse é um caminho normal, que todos os medicamentos seguem. A estratégia de utilizar uma molécula com duas funções importantes, vindos desses hormônios, é algo interessante, mas que precisa de mais comprovações”, frisa.
Benchimol explica que o combate à obesidade caminha ao lado do tratamento do diabetes, já que a maioria dos pacientes acaba tendo problemas com aumento de peso. Isso tem feito com que muitos grupos de pesquisa busquem desenvolver drogas com duplo efeito, como a apresentada pelo grupo internacional. “Cerca de 80% de diabéticos adultos são obesos. É claro que existem estratégias para que eles consigam escapar desse problemas, como dietas saudáveis e a prática de exercícios, mas ainda assim é difícil para esses pacientes se manter em forma”, destaca.
Um cuidado que Mauro Schars acha fundamental é evitar que drogas desse tipo sejam usadas por quem deseja emagrecer, mas não sofre de diabetes. “O uso indiscriminado desse produto por quem não tem resistência a insulina poderia gerar outras complicações. É preciso tomar cuidado para evitar que outros problemas sejam provocados e prejudiquem a saúde”, alerta.