Saúde

Cirurgia de retirada das amígdalas em crianças estão em queda no Brasil

Tecidos que ficam no fundo da garganta são espécie de barreira de defesa

Sara Lira

Diva Pimenta, com os filhos Arthur e Davi, que passaram pela cirurgia de retirada de amígdalas. Segundo a mãe, a qualidade de vida dos meninos mudou
A universitária Diva Pimenta Magalhães, de 25 anos, retirou as amígdalas aos 15, numa época em que a cirurgia era indicada com menos rigor do que atualmente. Ela lembra que o pós-operatório foi complicado. "Foi muito doloroso e eu não conseguia comer nada. Perdi quase 15 quilos em apenas dois meses", conta. Anos depois, já mãe, ela precisou reviver a história com o filho mais velho, Davi, hoje com 4 anos. "As amígdalas dele eram enormes e quase fechavam a garganta. Ele roncava muito durante à noite e dormia mal. Como ele respirava pela boca, sua dentição estava ficando comprometida. Além disso, ele tinha dor de garganta com febre altíssima frequentemente", recorda-se.


A cirurgia trouxe benefícios para o garoto e a surpresa foi que a recuperação foi mais tranquila do que a dela. "Ele melhorou na escola, ficou mais ativo e um dos maiores benefícios foi que Davi não acordou mais à noite", comemora Diva. No mês passado, o caçula da família, Arthur, também teve que passar pelo procedimento cirúrgico, pelos mesmos problemas do irmão: dificuldade para respirar, engolir, além de ele adoecer com frequência. Apenas dois dias depois da operação o garoto já estava brincando e começando a comer alguns alimentos.

As amígdalas, ou tonsilas palatinas, ficam na região próxima à base da língua denominada orofaringe e fazem parte do sistema imunológico do nosso organismo, pois têm a função de produzir substâncias de defesa, como as imunoglobulinas, que funcionam como anticorpos e no controle bacteriano local. Em muito casos, as amígdalas – que são duas massas de tecido, uma de cada lado da garganta no fundo da boca – não geram complicações, mas para muitas pessoas elas se tornam um verdadeiro problema. As amígdalas, assim como as adenoides, são parte de um "anel" de tecido glandular que envolve internamente a garganta. As adenoides, no entanto, estão localizadas na parte superior da garganta no fundo do nariz, por onde passa o ar que respiramos pelo nariz, portanto não é visível pela boca sem instrumentos especiais.

Clique na imagem para ampliá-la e saiba mais


Quando o esquema de defesa das amígdalas não funciona de forma adequada, elas podem infeccionar e o tratamento geralmente é feito com antibióticos. Porém, há situações em que esse processo ocorre com frequência, como em vários momentos do ano. "Há casos de infecções de repetição por queda de imunidade, geralmente causada por estresse, má qualidade de vida ou predisposição pessoal", afirma o diretor da Academia Brasileira de Laringologia e Voz, entidade da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial, João Batista de Oliveira Andrade.

Às vezes, as amígdalas se desenvolvem muito e podem provocar obstrução das vias aéreas, comprometendo a respiração, a qualidade de vida e o sono, causando ronco e a apneia. Nesse caso, elas vêm acompanhadas da adenoide, que é o aumento das tonsilas faríngeas, localizadas na transição do nariz com a faringe. "As amígdalas têm um crescimento a partir dos 2 anos, com redução da sua evolução a partir dos 6 anos, culminando com redução quase total, ou involução, a partir do décimo ano de vida. Há casos em que não ocorre essa involução, mas sim uma hipertrofia, levando até mesmo a obstrução das vias aerodigestivas", explica João Batista.

QUEDA EM CIRURGIAS

Segundo o médico João Batista, a cirurgia era mais comum há alguns anos, mas, atualmente há mais rigor para indicá-la. Em uma comparação do Ministério da Saúde entre os anos de 2011 e 2012, o número de procedimentos feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) caiu de 41.435 para 41.241. "As cirurgias foram muito comuns antigamente, mas houve redução devido aos estudos da fisiologia das amígdalas, descobertas sobre as defesas locais e melhor compreensão sobre as funções delas no organismo", afirma o otorrinolaringologista.

A professora do curso de medicina da Universidade de Brasília (UnB) e chefe do Serviço de Otorrinolaringologia da instituição, Alessandra Ramos, acrescenta que a modernização dos medicamentos também contribuiu para a redução do número de cirurgias. "Hoje existem mais antibióticos e é possível controlar, do ponto de vista clínico, muitos casos de infecções que antes a gente não conseguia", diz. De acordo com a especialista, há o mito de que pacientes que passaram pela amigdalectomia podem sofrer queda da imunidade ou ter mais facilidade de desenvolver faringite. "Hoje, a cirurgia só é indicada nos casos que o médico tem absoluta certeza de que ela vai resolver o problema. A retirada das amígdalas não causa deficiência imunológica, pois quando ela é removida é porque o tecido estava doente e não fazia o papel de defesa de forma adequada", afirma Alessandra.