Segundo o coordenador do projeto, professor Sabri Saeed Mohamed Al Sanabani, do Instituto de Medicina Tropical da USP, existem dois tipos (1 e 2) de vírus causadores da aids. O tipo 2 é praticamente restrito ao continente africano. O tipo 1, que prevalece no restante do mundo, se divide em vários grupos, sendo os principais M, N, O e P. O grupo M, que causa a grande epidemia conhecida atualmente, por sua vez, possui subtipos. "Há ainda as formas recombinantes, que são a mistura genética de subtipos de vírus", explicou à Agência Brasil.
Estudo publicado em 2011 pelo mesmo grupo de cientistas mostra que o subtipo B é o mais frequente no país. Isso foi atestado com a análise de 113 amostras sanguíneas de homens soropositivos com média de idade de 31 anos e também por meio da análise do DNA viral. Mais de 80% dos pacientes estavam infectados com esse subtipo do vírus. A pesquisa mais recente feita com a faixa etária de 4 a 20 anos, por outro lado, apontou uma prevalência de apenas 52,4%.
As crianças e os adolescentes que participaram do estudo, coordenado pela professora Regina Succi, eram acompanhados pelo Centro de Atendimento da Disciplina de Infectologia Pediátrica da Unifesp. Em todos os casos, a transmissão ocorreu durante a gestação, parto ou amamentação. Quase 40% deles estavam infectados com o subtipo BF1 Mosaico, uma mistura genética dos subtipos B e F1. Outros 9,5% apresentaram o subtipo F1.
Al Sanabani destaca que esse resultado não era esperado inicialmente. "A gente pensava que fosse encontrar um tipo genético igual ao dos adultos. Fomos surpreendidos com essa alta diversidade", declarou. O pesquisador explica que essa variabilidade genética pode ser justificada pelo fato de a maior parte das mães serem de um grupo de risco, com muitos parceiros sexuais e histórico de uso de drogas. "Esses fenômenos de recombinação que, no caso das crianças, chega a 40%, é resultado dessa mistura de vírus. As mães foram infectadas, provavelmente, por mais de um vírus", declarou.
O professor explica que, quanto maior a diversidade do HIV, mais difícil será desenvolver uma única vacina para o combate à doença. Há consequências também na definição de uma terapia, já que a mutação genética pode fazer com que o vírus adquira resistência ao tratamento. Além disso, pode haver falhas no diagnóstico da doença, pois a mudança nos códigos genéticos pode levar à não identificação do vírus. "A gente precisa saber o que está circulando no nosso ambiente. Se o HIV tem capacidade de mudar ou recombinar, ele pode, inclusive, constituir outro tipo de aids", alertou.
Embora a mutação genética faça parte do ciclo de vida do vírus, um tratamento eficiente diminui bastante a carga viral no paciente e reduz o risco de transmissão. "Estamos baseando os nossos casos em crianças e adolescentes de São Paulo e sabemos que aqui há tratamento de qualidade disponível. É preciso fazer isso chegar dessa forma a outras regiões, para não agravar o problema", defendeu.
O coordenador informou que um novo estudo está em curso para caracterizar os tipos de HIV circulantes em quatro estados, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. "Por meio do sequenciamento de alta escala do genoma do HIV, vamos enxergar o vírus de ponta a ponta. É uma forma de saber quem está recombinando e quem está puro", declarou.