Pesquisadores identificaram um novo tipo de vírus da dengue na Malásia, o que pode adicionar, após 50 anos de estabilidade, um novo sorotipo — grupo que causa a mesma resposta imune no organismo — à doença viral. Até o momento, cientistas e médicos trabalham com quatro tipos do micro-organismo. A descoberta, portanto, impõe mais um desafio para o desenvolvimento de vacinas contra a dengue, que teriam que abordar um quinto elemento. Nikos Vasilakis, autor do trabalho, reforça, porém, que os resultados também podem ajudar os cientistas a compreenderem melhor como o vírus evolui.
O grupo liderado por Vasilakis é integrado por cientistas da Malásia e de universidades americanas e australianas. Eles descobriram o vírus enquanto analisavam amostras virais da dengue coletadas durante um surto da doença no estado de Sarawak, na Malásia, em 2007. Eles suspeitaram que o micro-organismo era diferente dos quatro outros sorotipos. Após sequenciarem o vírus, descobriram que ele é filogeneticamente distinto e evoluiu de forma diferente.
A descoberta foi anunciada nesta semana na Terceira Conferência Internacional sobre Dengue e Febre Hemorrágica da Dengue, realizada na capital tailandesa, Bankgok. O artigo científico com os detalhes da pesquisa deverá ser publicado em dois meses. “Não posso dizer muito sobre o vírus agora, mas posso adiantar que ele não se parece com os outros tipos conhecidos, embora seja capaz de causar a dengue”, disse Vasilakis ao Correio.
Paulo Sousa Prado, biólogo especialista em saúde do Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal (Lacen-DF), explica que, basicamente, o vírus da dengue é composto por 10 proteínas. As sequências do genoma viral é que definem em qual subtipo ele está inserido. A análise de quais anticorpos são ativados na resposta de defesa ao vírus também é levada em conta. Prado prefere cautela a falar sobre a existência de um quinto subtipo. “Por enquanto, a comunidade científica tem apenas indícios. Só após a publicação do artigo científico que cientistas do mundo inteiro poderão analisar os resultados”, afirma o especialista.
Segundo Prado, o cuidado é necessário porque cada subtipo tem variações genéticas próprias, as chamadas cepas virais, mas as diferenças não são grandes a ponto de mudar os micro-organismos de classificação. No entanto, caso a comunidade científica entre em consenso que há um novo subtipo, ainda é preciso saber quais implicações o sorotipo 5 terá no controle da dengue. “A informação divulgada até o momento é de que um novo tipo de vírus de dengue, detectado em espécies de macacos na Malásia, está associado a um único surto em seres humanos, nesse mesmo país, em 2007. Não há nenhuma informação de que esse surto tenha sido particularmente mais grave do que outros que acontecem na região”, observa Ricardo Palacios, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento Clínico do Instituto Butantan.
Palacios alerta que ainda é muito cedo para determinar como é o comportamento do vírus, particularmente em relação a pessoas que já foram expostas a outros tipos de vírus da dengue. “Os casos severos são geralmente de pessoas que já tiveram uma infecção por um subtipo e são infectadas pelos outros”, esclarece o especialista.
Entre macacos
Vasilakis suspeita que o vírus circula entre macacos nas selvas da Malásia e da Indonésia. De acordo com o Centro de Polícias e Pesquisas para Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, a investigação focou-se no ciclo de transmissão silvestre na região. As infecções humanas foram colaterais, apesar do registro de pacientes em estado grave.
Ainda não há evidências de que o sorotipo 5 infecte de forma rápida os mosquitos vetores capazes de transmitir a dengue ao homem. Prado explica que não é raro que vírus que atacam apenas animais passem a interagir com humanos. Ou então que vírus humanos ataquem animais, gerando novos sorotipos. “É o que aconteceu com a influenza. Ela se misturou a atacar um reservatório animal, no caso o porco, e dele saiu a gripe suína. Houve uma restruturação do vírus e nós não temos defesa contra ele. Talvez, esse seja um vírus comum entre símios que ainda não chegou até a gente”, especula o biólogo.
Caso se espalhe, o sorotipo 5 poderá prejudicar as pesquisas para a imunização contra a doença. “Seria um novo desafio porque, até o momento, não temos comercialização de nenhuma vacina da dengue. “Para ser eficiente, ela precisará combater todos os tipos de vírus. As que estão em testes são focadas apenas nos quatro sorotipos conhecidos. Caso se prove realmente que há um tipo 5, ele precisará entrar no cenário dessas pesquisas”, explica Prado.
Palacios ressalta que os pesquisadores estão atentos às informações que virão dos futuros estudos a respeito do novo sorotipo. “Hoje, só conhecemos um surto (causado pelo subtipo 5) que aconteceu há seis anos em seres humanos numa região da Malásia, contudo, continuamos a ter milhares de casos no Brasil e na América Latina com os quatro tipos de dengue tradicionais conhecidos”, ressalta o pesquisador. A vacina contra a dengue do Instituto Butantan (leia Para saber mais) contempla os quatro tipos de vírus. Neste mês, foram iniciados os testes com humanos.
O grupo liderado por Vasilakis é integrado por cientistas da Malásia e de universidades americanas e australianas. Eles descobriram o vírus enquanto analisavam amostras virais da dengue coletadas durante um surto da doença no estado de Sarawak, na Malásia, em 2007. Eles suspeitaram que o micro-organismo era diferente dos quatro outros sorotipos. Após sequenciarem o vírus, descobriram que ele é filogeneticamente distinto e evoluiu de forma diferente.
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Paulo Sousa Prado, biólogo especialista em saúde do Laboratório Central de Saúde Pública do Distrito Federal (Lacen-DF), explica que, basicamente, o vírus da dengue é composto por 10 proteínas. As sequências do genoma viral é que definem em qual subtipo ele está inserido. A análise de quais anticorpos são ativados na resposta de defesa ao vírus também é levada em conta. Prado prefere cautela a falar sobre a existência de um quinto subtipo. “Por enquanto, a comunidade científica tem apenas indícios. Só após a publicação do artigo científico que cientistas do mundo inteiro poderão analisar os resultados”, afirma o especialista.
Segundo Prado, o cuidado é necessário porque cada subtipo tem variações genéticas próprias, as chamadas cepas virais, mas as diferenças não são grandes a ponto de mudar os micro-organismos de classificação. No entanto, caso a comunidade científica entre em consenso que há um novo subtipo, ainda é preciso saber quais implicações o sorotipo 5 terá no controle da dengue. “A informação divulgada até o momento é de que um novo tipo de vírus de dengue, detectado em espécies de macacos na Malásia, está associado a um único surto em seres humanos, nesse mesmo país, em 2007. Não há nenhuma informação de que esse surto tenha sido particularmente mais grave do que outros que acontecem na região”, observa Ricardo Palacios, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento Clínico do Instituto Butantan.
Palacios alerta que ainda é muito cedo para determinar como é o comportamento do vírus, particularmente em relação a pessoas que já foram expostas a outros tipos de vírus da dengue. “Os casos severos são geralmente de pessoas que já tiveram uma infecção por um subtipo e são infectadas pelos outros”, esclarece o especialista.
Entre macacos
Vasilakis suspeita que o vírus circula entre macacos nas selvas da Malásia e da Indonésia. De acordo com o Centro de Polícias e Pesquisas para Doenças Infecciosas da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, a investigação focou-se no ciclo de transmissão silvestre na região. As infecções humanas foram colaterais, apesar do registro de pacientes em estado grave.
Ainda não há evidências de que o sorotipo 5 infecte de forma rápida os mosquitos vetores capazes de transmitir a dengue ao homem. Prado explica que não é raro que vírus que atacam apenas animais passem a interagir com humanos. Ou então que vírus humanos ataquem animais, gerando novos sorotipos. “É o que aconteceu com a influenza. Ela se misturou a atacar um reservatório animal, no caso o porco, e dele saiu a gripe suína. Houve uma restruturação do vírus e nós não temos defesa contra ele. Talvez, esse seja um vírus comum entre símios que ainda não chegou até a gente”, especula o biólogo.
Caso se espalhe, o sorotipo 5 poderá prejudicar as pesquisas para a imunização contra a doença. “Seria um novo desafio porque, até o momento, não temos comercialização de nenhuma vacina da dengue. “Para ser eficiente, ela precisará combater todos os tipos de vírus. As que estão em testes são focadas apenas nos quatro sorotipos conhecidos. Caso se prove realmente que há um tipo 5, ele precisará entrar no cenário dessas pesquisas”, explica Prado.
Palacios ressalta que os pesquisadores estão atentos às informações que virão dos futuros estudos a respeito do novo sorotipo. “Hoje, só conhecemos um surto (causado pelo subtipo 5) que aconteceu há seis anos em seres humanos numa região da Malásia, contudo, continuamos a ter milhares de casos no Brasil e na América Latina com os quatro tipos de dengue tradicionais conhecidos”, ressalta o pesquisador. A vacina contra a dengue do Instituto Butantan (leia Para saber mais) contempla os quatro tipos de vírus. Neste mês, foram iniciados os testes com humanos.