Assim como eles, formadores de opinião de diversas áreas do conhecimento têm há muito tempo disputado um cabo de guerra no que diz respeito a possibilidade ou não da coexistência pacífica de ciência e religião. A disputa ficou mais acirrada, especialmente, com o aparecimento do Criacionismo, doutrina que lê a Bíblia literalmente – incluindo os dois primeiros capítulos de Gênesis, que narram a criação do mundo em sete dias por Deus. Mito, fato ou poesia, a discussão causa frisson no meio intelectual, filosófico e teológico. Em meio a tudo isso, resta ao censo popular o sentimento de que se posicionar a favor de uma teoria necessariamente nos faz contrários à outra. Mas afinal de contas, é possível ter fé e, ao mesmo tempo, acreditar no que a ciência nos ensina sobre a vida?
Leia a reportagem completa:
Parte 2 - Deus fez o Big Bang? Documentário defende a ideia de que ciência e fé podem coexistir
Parte 3 - Seria Deus um delírio? Para alguns cientistas posturas pacíficas sobre fé e ciência são incoerentes
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Parte 3 - Seria Deus um delírio? Para alguns cientistas posturas pacíficas sobre fé e ciência são incoerentes
Em entrevista ao jornal espanhol El Mundo, Higgs afirmou que acredita, apesar de não ser religioso, que ciência e fé não são incompatíveis. “O crescimento da nossa compreensão do mundo por meio da ciência enfraquece a motivação que faz de algumas pessoas religiosas. Mas isso não é a mesma coisa que dizer que religião e ciência são incompatíveis. Eu simplesmente penso que algumas das razões tradicionais para a fé estão bem minadas. Contudo, isso não encerra a questão. Qualquer um que é convencido, mas não é um crente dogmático, pode continuar com suas crenças. Isso significa que eu acho que você tem de ser mais cuidadoso sobre todo o debate entre ciência e religião do que algumas pessoas foram no passado”, disse Higgs ao El Mundo.
A premissa indica que não é impossível para uma pessoa acreditar em ambas as coisas. No entanto, muitos especialistas pontuam que não há como contestar o que uma diz, com base na outra, como seria possível entre outras áreas do conhecimento.
Para o historiador e professor do Departamento de Ciências da Religião da PUC Minas, Rodrigo Coppe Caldeira há uma incomensurabilidade entre ciência e religião. “Cada uma tem o seu lugar como fenômeno humano", afirma. Assim como defendem outros teóricos, Coppe acredita que essas áreas do conhecimento não se anulam, mas buscam responder perguntas diferentes da psiquê humana: o "como" e o "por quê". "A ciência busca conhecer e explicar como a vida existe, já a religião fala sobre o sentido da vida", comenta.
Coppe ainda ressalta que as origens do pensamento científico estão intrinsecamente ligadas a pensadores religiosos. “Na verdade, quem buscou os avanços físicos e filósofos, no século XVII, eram de religiosos, como René Descartes, Isaac Newton, entre outros nomes, que contribuíram de maneira muito importante para a ciência e não por isso deixaram de se considerar crentes”.
Entender que desde a epistemologia da palavra religião já tem definições diferentes é, na opinião do professor emérito da Universidade de Brasília, Jorge Ponciano Ribeiro, um dos primeiros passos para a discussão. Segundo ele, os grupos religiosos se dividem, assim como os significados da palavra. Religare, vem de ligar, e segundo Ponciano, designa o grupo que tem Deus a priori. Relegere, vem de reler, e é associado a um grupo que busca Deus, mesmo que não intencionalmente.
O primeiro, que usa de rituais religiosos para se aproximar desse Deus, é composto por pessoas, em sua maioria, mais simples, de religiosidade natural e tradicional. “Elas podem ser um pouco alienadas mesmo e acabam colocando a religião acima da realidade”, afirma. Do outro lado temos pessoas como Sartre e Einstein, que tiveram a impressão de terem descoberto ser possível sim a existência de Deus. São pessoas que tem Deus à sua imagem e semelhança e têm uma profunda relação de intimidade e cumplicidade com ele”.
Contudo, ele destaca: “dizer que Deus não existe porque não conseguimos o provar é uma infantilidade acadêmica e querer dizer que o cientista não pode acreditar em Deus é uma ignorância absoluta”.
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