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O trabalho, publicado sexta-feira na revista americana Cell Stem Cell, é fruto dos experimentos conduzidos por pesquisadores do Centro de Regulação Genômica de Barcelona. Salvador Aznar Benitah, professor do centro e um dos cientistas envolvidos no projeto, defende a importância da descoberta. “Isso é significante porque podemos observar que os tecidos precisam de um relógio interno para se manterem saudáveis”, justificou, em um comunicado à imprensa.
Na primeira etapa da pesquisa, os cientistas observaram o funcionamento das células-tronco da pele de ratos. Usando marcadores, notaram que, durante a noite, ocorria a duplicação do DNA dessas estruturas por meio da divisão celular. Esse processo resulta na substituição da pele velha por nova. Os pesquisadores desconfiaram que o mesmo sistema poderia ser detectado em humanos e conseguiram, também em laboratório, comprovar a suspeita. “Nosso estudo mostra que as células-tronco humanas de pele, assim como a dos ratos, têm um relógio interno que lhes permite saber com muita precisão a hora do dia e isso as ajuda a saber qual é o melhor momento para executar a função correta”, relatou Benitah.
Desajustes
Para o professor Alfredo Miranda Goes, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o trabalho tem um potencial promissor no combate a problemas na pele, mas é preciso um maior detalhamento desse calendário de atividades celular. “Ao manipular essas células, eles conseguiram provar que, no ciclo de 24 horas, elas trabalham à noite e se resguardam durante o dia, mas eles mostraram também que esse ciclo sofre leves arritmias, pequenas interrupções de funcionamento, o que dificulta ditar um nível fixo”, detalha.
Segundo Goes, o estudo espanhol mostra que existe uma homeostasia na pele, um conjunto de fenômenos de autorregulação em busca da integridade da função fisiológica. O fenômeno pode servir de base para monitorar como devemos lidar com o tecido epitelial. “Com essas informações, é possível contribuir para o tratamento do envelhecimento da pele, das formações de tumor, além de criar estratégias de proteção”, diz, lembrando, em seguida, a recomendação já consolidada de que os raios solares da manhã são mais benéficos que os da tarde.
Dermatologista e coordenador do Departamento de Biologia Celular, Imunologia, Genética e Medicina Regenerativa da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Marco Andrey Cipriani Frade avalia que o estudo ajuda a enriquecer investigações na mesma área. Mas o especialista não acredita que o estudo deverá contribuir para outras estratégias além das já usadas atualmente para “defender” a pele.
“A comprovação desses efeitos em células-tronco humanas apenas esclareceram os mecanismos de proteção e diferenciação dos queratinócitos (células da pele que produzem queratina) frente aos estímulos do ambiente. No entanto, o retardamento do envelhecimento e a prevenção do câncer cutâneo continuam relacionados às ações preventivas já bem estabelecidas na literatura, como evitar o tabagismo e o sedentarismo, e a proteção solar precoce”, detalha.
Maior incidência
O câncer de pele é o mais frequente no Brasil. Corresponde a 25% de todos os tumores malignos registrados, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca). O melanoma cutâneo tem origem nas células produtoras de melanina, os melanócitos, e é mais comum em adultos brancos. No ano passado, foram diagnosticados 6.230 casos da doença. Mais frequente, o câncer de pele não melanoma tem baixa mortalidade e tumores de diferentes linhagens. O carcinoma basocelular, responsável por 70% dos diagnósticos, começa com uma lesão (ferida ou nódulo) e evolui lentamente. Já o carcinoma epidermoide, que representa 25% dos casos, também surge por meio de uma ferida, mas progride com velocidade e vem acompanhado de secreção e coceira. Ao todo, foram diagnosticado 134.170 casos de câncer de pele não melanoma no ano passado no Brasil.
Ações externas e naturais
O envelhecimento da pele é provocado pela passagem natural do tempo ou por fatores ambientais, como a exposição ao sol, tabagismo e falta de exercícios físicos. No primeiro caso, a pele acompanha o processo ocorrido em outros órgãos do corpo humano. Ao longo dos anos, as células têm a capacidade de renovação reduzida e cai a produção das fibras de colágeno e elastina, que dão firmeza e tonicidade. A pele, então, perde elasticidade e fica mais fina e flácida. As glândulas sudoríparas também têm a atividade reduzida, o que torna a pele mais seca, e há uma redução da microcirculação sanguínea, causando mudanças na vitalidade e na luminosidade.No caso do envelhecimento provocado por fatores externos, o efeito sobre o tecido epitelial é cumulativo e potencializa, principalmente, o surgimento de rugas e manchas. As rugas de expressão ficam mais evidentes devido ao envelhecimento natural da pele. Diariamente, uma pessoa faz em média 1.500 contrações faciais, que marcam a epiderme na forma de linhas finas.
Fonte: Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica