Saúde

Olhos vermelhos, irritados ou com sensação de ardor? Você pode ser portador da Síndrome dos Olhos Secos

Cerca de 10% da população do país pode ter a doença, que se manifesta de duas maneiras: na forma evaporativa, quando a produção do filme lacrimal perde-se por evaporação; ou por deficiência aquosa, caracterizada por uma disfunção na qualidade e quantidade de lágrimas produzidas.

Alessandra Alves

A Síndrome dos Olhos Secos causa ressecamento na superfície do olho, na córnea e na conjuntiva e, se não tratada corretamente, pode levar à perda da visão.

Na música Lágrimas e Tormentos, gravada pela brasileira Marisa Monte, a cantora celebra o fim da sua dor ao dizer que suas lágrimas secaram e seus tormentos terminaram. Se interpretada ao pé da letra, a canção demonstra que quando finalmente conseguiu parar de chorar, a personagem da música encontrou a felicidade. Afinal, no imaginário popular, as lágrimas são muito mais uma ferramenta de escape das emoções que um hidratante para os olhos. Elas representam, para a maioria das pessoas, uma resposta imediata ao choro ou a gargalhada. Quase nunca são vistas como um privilégio. Mas para Ana Lúcia Ferreira, de 60 anos, conseguir produzir lágrimas naturalmente seria um grande presente.


Desde que tinha 34 anos, Ana Lúcia é portadora da Síndrome dos Olhos Secos. A doença surge quando há algum problema na produção de lágrimas ou nas suas características de origem, alterando assim sua qualidade. O fenômeno causa ressecamento na superfície do olho, na córnea e na conjuntiva e, se não tratado, pode levar à perda da visão. Ela descobriu que sofria da doença quando tratava um problema de hipotireoidismo. Ana Lúcia passou a enxergar com dificuldade e por isso consultou um oftalmologista. Desde então, faz o tratamento diário com o uso de colírio lubrificante.

“Às vezes, tenho a impressão de ter areia nos olhos. Eles ficam vermelhos, geralmente ardem um pouco, mas só quando esqueço de pingar o colírio”, diz. A cada duas horas, ela precisa usar o remédio, mas apesar disso, afirma que a rotina não a deixa abalada. “Não sou de me abater com doença. Temos que enfrentar o que aparecer em nosso caminho e seguir em frente, ao invés de ficar chorando”, ressalta.

O Dr. José Álvaro Pereira Gomes, médico oftalmologista e presidente científico da APÓS (Associação Brasileira de Portadores de Olho Seco), explica que os sintomas relatados por Ana Lúcia estão entre os principais da doença e a pessoa que apresentar qualquer um destes sinais deve procurar imediatamente um médico. “Geralmente, quem sente ardência nos olhos tem duas atitudes: ir à farmácia e pedir um colírio ou ir a um médico. A receita de um colírio incompatível com o problema pode piorar o quadro e aumentar os sintomas. Somente um médico oftalmologista poderá fazer o diagnóstico correto”, alerta.

Além do olho seco por deficiência aquosa, que é o caso de Ana Lúcia, existe também o olho seco evaporativo. O primeiro está ligado a doenças sistêmicas e autoimunes e é caracterizado pela disfunção na qualidade e quantidade do filme lacrimal. Este último acontece quando há aumento da perda do filme lacrimal por evaporação, e pode surgir em diversas situações do cotidiano, seja por conta do ar condicionado, da poluição ou da exposição frequente em frente à TV e ao computador.

Uma das causas do olho seco evaporativo é a exposição excessiva em frente à TV ou ao computador
Piscar ajuda


Assim, se você estiver exposto a qualquer uma dessas situações, faça um exercício de prevenção: pisque mais vezes. Uma das causas do olho seco evaporativo está ligada à diminuição no número de piscadas. É muito comum, por exemplo, o ressecamento dos olhos quando se está concentrado em alguma atividade em frente ao computador. “Quando você abre o olho, a lágrima cobre a superfície, mas conforme o tempo passa, ela vai secando. Ao piscar, você manda essa lágrima velha embora e traz uma nova. É um processo de renovação”, alerta o doutor.

Apesar da maior causa do olho seco ainda ser o processo natural de envelhecimento, toda a população está sujeita a desenvolver a doença. Um estudo inédito na América Latina, que está sendo realizado pela após, indica que cerca de 10% da população do país pode ser portadora da doença, número que no Brasil, representaria algo em torno de 18 milhões de pessoas. O cuidado em pessoas mais velhas, no entanto, deve ser redobrado, principalmente nas mulheres, que passam a produzir menos lágrimas após a menopausa.

Portanto, se você sente os olhos vermelhos, irritados ou com ardor, tem a sensação de areia nos olhos, enxerga embaçado ou com dificuldade, procure imediatamente um oftalmologista.

Tratamento


Normalmente, existem quatro tipos de tratamento para o olho seco. O uso de colírios lubrificantes, colírios anti-inflamatórios, medicamentos orais que aumentam a produção de lágrima ou medicamentos nutritivos para melhorar a qualidade da lágrima (uso de substâncias ricas em ômega 3, óleo de peixe ou óleo de linhaça). Se nenhum destes tratamentos surtirem efeito pode haver o tamponamento do canalículo lacrimal, um canal bem pequeno que fica no canto da pálpebra, perto do nariz. Este método evita que a lágrima escorra e deixa o olho permanentemente umedecido. Para outros casos, existe a cirurgia. O transplante de glândula salivar tem surtido efeitos positivos nos pacientes com casos mais graves da síndrome.

Uma das opções de tratamento para o olho seco é o tamponamento dos canais lacrimais. Este método evita que a lágrima escorra e,assim, o olho permanece hidratado.

Abaixo, alguns fatores que podem contribuir para o olho seco:

Ambiente:
O contato constante com o ar-condicionado, a poluição ou a exposição por um longo período em frente à TV ou ao computador podem causar a evaporação excessiva da lágrima.

Medicamentos:
A utilização contínua de descongestionantes e anti-histamínicos, tranquilizantes, antidepressivos, pílulas para dormir, diuréticos, pílulas anticoncepcionais, alguns anestésicos, medicamentos para tratamento da hipertensão arterial (betabloqueadores) e para transtornos digestivos (anticolinérgico).

Lentes de Contato: as lentes de contato diminuem a quantidade de oxigênio sobre a córnea, podendo causar irritação e sensação de olho seco.

Doenças Sistêmicas: Algumas doenças sistêmicas e autoimunes podem contribuir com a diminuição da quantidade de lágrimas, pois erroneamente as células de defesa atacam as glândulas produtoras de lágrimas e saliva do organismo.