Saúde

Mais da metade da população adulta brasileira está acima do peso ideal

Hoje, Dia Nacional de Prevenção à Obesidade, especialistas falam da importância de seguir um estilo de vida mais equilibrado

Humberto Rezende

Hoje é o Dia Nacional de Prevenção da Obesidade, mas a cautela diante da balança precisa ser adotada diariamente. Embora as informações sobre o que leva a um ganho de peso estejam mais difundidas e aprofundadas, a luta contra o ganho de peso excessivo tem se tornado parte da vida de um número cada vez maior de brasileiros. Dados do Ministério da Saúde revelam que no ano passado, pela primeira vez, o percentual de pessoas com excesso de peso foi maior do que aquelas dentro do preceituado. A pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2012) mostra que 51% da população adulta está acima do peso ideal. Entre os homens, o excesso de peso atinge 54% e entre as mulheres, 48%. Em 2006, o índice médio era de 43%. Entre os brasileiros com excesso de peso, há os obesos, parcela da população que aumentou de 11,6% para 17,1% entre 2006 e 2012.


A obesidade é maior entre as pessoas com menor tempo de estudo
Se a herança genética é um fator considerável, os ambientes socioeconômico, cultural e familiar também influenciam. A mesma Vigitel detectou que a obesidade é maior entre as pessoas com menor tempo de estudo. Enquanto os obesos somam 21,7% entre aqueles que estudaram até oito anos, na população com mais de 12 anos de estudo o índice cai para 14,4%. O consumo de frutas e hortaliças reflete essa situação. Elas estão presentes regularmente no cardápio de 45% dos brasileiros que estudaram no mínimo 12 anos. O percentual cai para 29% entre as pessoas que estudaram até oito anos.

Para o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, como o Vigitel apontou menores frequências de obesidade e excesso de peso entre pessoas com mais anos de estudo, o crescente aumento da escolaridade dos brasileiros registrado nos últimos anos pode representar uma expectativa positiva em relação ao controle a esses fatores de risco. “De 2000 a 2010, a tendência foi um grande crescimento do nível educacional. É uma condicionante importante para a redução da velocidade do crescimento da obesidade e do sobrepeso na população”, avalia.

Na opinião da vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), Virginia Nascimento, a alimentação do brasileiro mudou muito nos últimos anos. “Já comemos melhor, quando obedecíamos às influências locais, regionais, climáticas, ou seja, a disponibilidade dos alimentos era controlada por leis da natureza. Hoje existem técnicas de aceleração na produção de todos os tipos de alimentos e a disponibilidade de alimentos industrializados, de preparo rápido aumentou”, pondera.

Para ela, o brasileiro tem abusado de carboidratos e gordura saturada. “Os carboidratos, como arroz branco, batata, farinha de mandioca e massas, têm rápida absorção e logo a fome reaparece. A gordura saturada contribuiu para o aumento de colesterol e triglicerídeos no sangue. Precisamos retomar o hábito de comer em casa ou levar a comida de casa para o trabalho. Assim podemos controlar melhor o que se come. Outro cuidado é avaliar a presença de farinhas, no que se come ao longo do dia, pois hoje as pessoas ingerem muitos biscoitos, massas e pães”, ensina.

HÁBITOS
Os hábitos alimentares, evidentemente, são decisivos para o controle na balança. Pais obesos e com alimentação inadequada têm 70% de chances de ter um filho obeso, enquanto pais magros têm apenas 10% de risco de verem o filho enfrentar problemas com a balança. Afinal, em última análise, o ganho de massa gorda está sempre associado a uma ingestão calórica maior do que o gasto energético. Há, entre tanto, pessoas com baixo gasto energético por uma questão metabólica, decorrente de fatores clínicos e endócrinos ou distúrbios hormonais.

O médico René Berindoague indica a cirurgia bariátrica para quem tem obesidade mórbida
Se na faixa etária entre 18 e 24 anos 28% da população está acima do peso ideal, a proporção quase dobra na faixa etária dos 35 anos aos 44 anos, atingindo 55%. O percentual de obesidade acompanha este crescimento e mais que dobra se comparados os dois grupos: 7% e 19%, respectivamente. Com o passar dos anos, os brasileiros também tendem a diminuir a prática da atividade física: 47% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos se exercitam regularmente. Índice que cai para 31% entre 35 e 44 anos.

Aos pacientes, a vice-presidente da Asbran aconselha a diminuir a quantidade de ingestão de comidas que têm tendência a fazer engordar, como farinhas, massas e pães, gradativamente, e não se ficar com mais do que três horas sem comer. Se a fome bater, a recomendação é beber água, que hidrata, sacia e adia a fome. “É preciso lembrar que as células de gordura não morrem com a adequação de quantidade e qualidade dos nutrientes. Elas diminuem de tamanho, mas continuam desejosas de comida. Por isso, se a cabeça não entender bem as novas recomendações, fica fácil voltar a engordar, se a pessoa volta a comer em excesso”, esclarece. E é preciso se cuidar, pois a obesidade abre a possibilidade de novas doenças surgirem. A hipertensão costuma surgir sorrateiramente. Com o tempo, outras doenças cardíacas, renais, hepáticas e a diabetes também podem ser desenvolvidas.

Prevenção e controle são fundamentais
Para prevenir que as pessoas se tornem obesas e venham a sofrer com doenças associadas, o Ministério da Saúde criou a Linha de Cuidados da Atenção Básica para excesso de peso. A atenção básica proporciona diferentes tipos de tratamentos e acompanhamentos ao usuário, inclusive atendimento psicológico. A pessoa com sobrepeso pode ser encaminhada a um polo da Academia da Saúde de sua cidade para a realização de atividades físicas e a um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) para receber orientações para adotar uma alimentação balanceada. Atualmente, 77% dos 2,1 mil Nasfs no país contam com nutricionistas; 88,6% com psicólogos; e 50,4% com professores de educação física.
Em parceria com o Ministério da Educação, há o programa Saúde na Escola, em que 17 milhões de crianças foram medidas, pesadas e receberam orientação nutricional e aconselhamento para as atividades físicas a serem praticadas.

CIRURGIA BARIÁTRICA

Quando a dieta associada à atividade física não funciona, a cirurgia bariátrica pode ser uma alternativa para os casos mais extremos de obesidade. E o Brasil é o segundo país no ranking dessa intervenção, atrás apenas dos Estados Unidos. René Berindoague, diretor técnico do Instituto Mineiro de Obesidade e cirurgião geral especializado em aparelho digestivo, atesta que a alternativa da cirurgia é indicada para quem tem obesidade mórbida, com índice de massa corporal (IMC) acima de 40. “Essa população vem aumentando muito. Faço de seis a oito cirurgias de segunda a sexta-feira, o ano todo. Por outro lado, as técnicas melhoraram muito. Hoje usamos a videolaparoscopia. É uma cirurgia minimamente invasiva, em que o médico faz pequenos orifícios no abdômen para executar o procedimento. A segurança aumenta muito dessa forma e o paciente tem alta no dia seguinte”, explica.

A técnica, que desvia o trânsito alimentar do estômago, provoca também uma acentuada queda do hormônio da fome, a grelina. O paciente tem menos impulso de comer, além de uma restrição mecânica, já que o estômago será reduzido. A cirurgia também traz benefícios no combate às doenças associadas, em especial o diabetes. Mas a operação ainda não é livre de riscos. Um a cada mil pacientes morrem, 70% dos pacientes apresentam queda parcial de cabelo e, principalmente as mulheres, devido à menstruação, precisarão fazer suplementação alimentar. Além disso, depois de três anos da intervenção, cerca de 20% dos pacientes voltam a ganhar peso. “Mas nunca chegam ao peso que tinham antes”, pondera René.