Se a herança genética é um fator considerável, os ambientes socioeconômico, cultural e familiar também influenciam. A mesma Vigitel detectou que a obesidade é maior entre as pessoas com menor tempo de estudo. Enquanto os obesos somam 21,7% entre aqueles que estudaram até oito anos, na população com mais de 12 anos de estudo o índice cai para 14,4%. O consumo de frutas e hortaliças reflete essa situação. Elas estão presentes regularmente no cardápio de 45% dos brasileiros que estudaram no mínimo 12 anos. O percentual cai para 29% entre as pessoas que estudaram até oito anos.
Para o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, como o Vigitel apontou menores frequências de obesidade e excesso de peso entre pessoas com mais anos de estudo, o crescente aumento da escolaridade dos brasileiros registrado nos últimos anos pode representar uma expectativa positiva em relação ao controle a esses fatores de risco. “De 2000 a 2010, a tendência foi um grande crescimento do nível educacional. É uma condicionante importante para a redução da velocidade do crescimento da obesidade e do sobrepeso na população”, avalia.
Na opinião da vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran), Virginia Nascimento, a alimentação do brasileiro mudou muito nos últimos anos. “Já comemos melhor, quando obedecíamos às influências locais, regionais, climáticas, ou seja, a disponibilidade dos alimentos era controlada por leis da natureza. Hoje existem técnicas de aceleração na produção de todos os tipos de alimentos e a disponibilidade de alimentos industrializados, de preparo rápido aumentou”, pondera.
Para ela, o brasileiro tem abusado de carboidratos e gordura saturada. “Os carboidratos, como arroz branco, batata, farinha de mandioca e massas, têm rápida absorção e logo a fome reaparece. A gordura saturada contribuiu para o aumento de colesterol e triglicerídeos no sangue. Precisamos retomar o hábito de comer em casa ou levar a comida de casa para o trabalho. Assim podemos controlar melhor o que se come. Outro cuidado é avaliar a presença de farinhas, no que se come ao longo do dia, pois hoje as pessoas ingerem muitos biscoitos, massas e pães”, ensina.
HÁBITOS
Os hábitos alimentares, evidentemente, são decisivos para o controle na balança. Pais obesos e com alimentação inadequada têm 70% de chances de ter um filho obeso, enquanto pais magros têm apenas 10% de risco de verem o filho enfrentar problemas com a balança. Afinal, em última análise, o ganho de massa gorda está sempre associado a uma ingestão calórica maior do que o gasto energético. Há, entre tanto, pessoas com baixo gasto energético por uma questão metabólica, decorrente de fatores clínicos e endócrinos ou distúrbios hormonais.
Se na faixa etária entre 18 e 24 anos 28% da população está acima do peso ideal, a proporção quase dobra na faixa etária dos 35 anos aos 44 anos, atingindo 55%. O percentual de obesidade acompanha este crescimento e mais que dobra se comparados os dois grupos: 7% e 19%, respectivamente. Com o passar dos anos, os brasileiros também tendem a diminuir a prática da atividade física: 47% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos se exercitam regularmente. Índice que cai para 31% entre 35 e 44 anos.
Aos pacientes, a vice-presidente da Asbran aconselha a diminuir a quantidade de ingestão de comidas que têm tendência a fazer engordar, como farinhas, massas e pães, gradativamente, e não se ficar com mais do que três horas sem comer. Se a fome bater, a recomendação é beber água, que hidrata, sacia e adia a fome. “É preciso lembrar que as células de gordura não morrem com a adequação de quantidade e qualidade dos nutrientes. Elas diminuem de tamanho, mas continuam desejosas de comida. Por isso, se a cabeça não entender bem as novas recomendações, fica fácil voltar a engordar, se a pessoa volta a comer em excesso”, esclarece. E é preciso se cuidar, pois a obesidade abre a possibilidade de novas doenças surgirem. A hipertensão costuma surgir sorrateiramente. Com o tempo, outras doenças cardíacas, renais, hepáticas e a diabetes também podem ser desenvolvidas.
Prevenção e controle são fundamentais
Para prevenir que as pessoas se tornem obesas e venham a sofrer com doenças associadas, o Ministério da Saúde criou a Linha de Cuidados da Atenção Básica para excesso de peso. A atenção básica proporciona diferentes tipos de tratamentos e acompanhamentos ao usuário, inclusive atendimento psicológico. A pessoa com sobrepeso pode ser encaminhada a um polo da Academia da Saúde de sua cidade para a realização de atividades físicas e a um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf) para receber orientações para adotar uma alimentação balanceada. Atualmente, 77% dos 2,1 mil Nasfs no país contam com nutricionistas; 88,6% com psicólogos; e 50,4% com professores de educação física.
Em parceria com o Ministério da Educação, há o programa Saúde na Escola, em que 17 milhões de crianças foram medidas, pesadas e receberam orientação nutricional e aconselhamento para as atividades físicas a serem praticadas.
CIRURGIA BARIÁTRICA
Quando a dieta associada à atividade física não funciona, a cirurgia bariátrica pode ser uma alternativa para os casos mais extremos de obesidade. E o Brasil é o segundo país no ranking dessa intervenção, atrás apenas dos Estados Unidos. René Berindoague, diretor técnico do Instituto Mineiro de Obesidade e cirurgião geral especializado em aparelho digestivo, atesta que a alternativa da cirurgia é indicada para quem tem obesidade mórbida, com índice de massa corporal (IMC) acima de 40. “Essa população vem aumentando muito. Faço de seis a oito cirurgias de segunda a sexta-feira, o ano todo. Por outro lado, as técnicas melhoraram muito. Hoje usamos a videolaparoscopia. É uma cirurgia minimamente invasiva, em que o médico faz pequenos orifícios no abdômen para executar o procedimento. A segurança aumenta muito dessa forma e o paciente tem alta no dia seguinte”, explica.
A técnica, que desvia o trânsito alimentar do estômago, provoca também uma acentuada queda do hormônio da fome, a grelina. O paciente tem menos impulso de comer, além de uma restrição mecânica, já que o estômago será reduzido. A cirurgia também traz benefícios no combate às doenças associadas, em especial o diabetes. Mas a operação ainda não é livre de riscos. Um a cada mil pacientes morrem, 70% dos pacientes apresentam queda parcial de cabelo e, principalmente as mulheres, devido à menstruação, precisarão fazer suplementação alimentar. Além disso, depois de três anos da intervenção, cerca de 20% dos pacientes voltam a ganhar peso. “Mas nunca chegam ao peso que tinham antes”, pondera René.