Com preço que varia de R$ 9 a 14 mil, principalmente pela qualidade do produto, o balão é inserido vazio no estômago do paciente através de endoscopia, em ambiente hospitalar ou clínico, sob sedação. Em seguida, o balão é preenchido com soro. O procedimento que tem duração média de 20 minutos não tem cobertura do Sistema Único de Saúde (SUS) e nem dos planos de saúde, mas a demanda cresce vertiginosamente.
Membro-titular e secretário da comissão de títulos de especialistas da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED), chefe do Centro de Treinamento em Endoscopia do Hospital Ipiranga, Jimi Scarparo enumera três razões para isso: a proibição pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) da venda de inibidores de apetite, o aumento do índice de obesidade da população brasileira e as complicações e riscos da cirurgia bariátrica. ”Apesar de ser o procedimento mais efetivo para quem perder peso, é um processo irreversível, mutilante e destinado a um público específico”, diz. Para passar por essa cirurgia, exige-se um Índice de Massa Corporal (IMC) mínimo de 40.
O especialista alerta que a obesidade é classificada como uma doença incurável, com tratamento e controle, apenas. “Se a pessoa não muda os hábitos de vida, até a cirurgia bariátrica pode ser inefetiva. Não há garantias. Se a pessoa vacilar, engorda novamente”, alerta. O discurso de Jimi vai ao encontro com a pesquisa divulgada em agosto deste ano pelo Ministério da Saúde que mostra que, pela primeira vez, os brasileiros acima de 18 anos que estão acima do peso são maioria da população. O excesso atinge 54% dos homens e 48% das mulheres.
Entre dieta combinada com exercício e a cirurgia bariátrica, sobra o balão intragástrico
Isabela Grecco colocou o balão intragástrico no dia 20 de setembro e já está 6 quilos mais magra. Comparando-se com a companheira de blog, ela diz que, ao contrário de Nolli, não tem paixão por comida. O problema dela é outro: vida noturna e bebidas alcoólicas. “Já fiz lipo duas vezes, cirurgia nos seios e todas as dietas que você imaginar. Aparece uma clínica com uma novidade para fazer perder peso, eu entro”, conta. Há mais ou menos dois anos ela terminou um relacionamento longo e “caiu na balada”. Mas dessa vez está decidida e deu início a novos hábitos: “No final de semana eu acordava com ressaca e não queria nem ver o dia. Quero resgatar a minha vida de antes, que eu gosto muito: alimentação saudável e prática de esporte. Sinto que é diferente de outras dietas que tentei fazer, já vejo que vai ser diferente”, acredita.
Apesar de a SOBED não ter os números de quantos balões intragástricos são colocados no Brasil anualmente, a alta demanda é sentida pelos próprios médicos. Cirurgião geral, gastroentorologista, endoscopista e especialista em tratamento de obesidade com balão intragástrico, Bruno Sander afirma que a explosão da demanda foi sentida de um ano e meio para cá e coincide com a decisão da Anvisa de proibir os inibidores de apetite. “Desde 2009, a cada ano que se passa, a colocação do balão cresce 50% em relação ao ano anterior. Em 2012, eu colocava 25 balões por mês. Neste ano, são 35 a cada 30 dias”, revela.
Balão intragástrico: entenda o procedimento
Qualquer pessoa que tem o IMC maior que 27 pode fazer a colocação do balão intragástrico que fica 6 meses no estômago do paciente. Bruno Sander explica que é considerado obeso quem tem o IMC acima de 30. Grávidas e pacientes que já fizeram alguma cirurgia no estômago não podem passar pelo procedimento. “Se uma mulher engravidar com o balão, precisa retirá-lo imediatamente”, observa.
A colocação do balão intragástrico pode ser repetida quantas vezes o paciente quiser desde que respeitado um intervalo de dois meses. “É uma proposta de emagrecimento saudável, não há nada que agrida o organismo, é apenas um impulso mecânico para causar saciedade no paciente. É um paliativo”, explica Jimi Scarparo.
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Crianças acima de 12 anos podem colocar o balão intragástrico desde que tenham um laudo psiquiátrico que comprove a maturidade do paciente para entender o procedimento e mudar o estilo de alimentação. É indispensável também o acompanhamento dos pais em todo o processo. “No caso de crianças e adolescentes, pai e mãe são diretamente responsáveis. Se os pais não colaborarem, o resultado não será satisfatório, é preciso uma mudança alimentar da família toda”, afirma Bruno.
Nesses casos, Bruno enumera os fatores principais para realizar o procedimento: “a criança tem que querer perder peso; os pais têm que estar dispostos a mudar os hábitos alimentares e a obesidade”. Segundo ele, uma criança obesa tem 90% de chance de ser tornar um adulto obeso. “Isso pode gerar uma série de problemas de saúde”, explica.
Pode estourar?
O balão é feito de silicone e preenchido com soro e corante azul. “Caso ele se rompa, a urina sai dessa cor. Isso não representa risco. O que precisa ser feito é a substituição”, explica Bruno Sander. O médico alerta, entretanto, que se o balão não for retirado e substituído existe um risco de o material descer para o intestino e obstruí-lo. “Isso é muito raro. A descrição da literatura médica aponta o rompimento em dois pacientes para cada mil”, diz.
Ele conta que o Brasil registrou um caso desses em 2002. “O balão se rompeu, o paciente não procurou o médico porque já estava próximo à data de retirada e precisou passar por uma cirurgia”, explica. Nos raros casos em que o rompimento acontece, o produto é retirado também por endoscopia.
Recuperação
Os sete primeiros dias são considerados período de adaptação e o paciente pode ter vômitos e dor. “Pacientes relatam uma dor parecida com a cólica menstrual, dor em aperto, como se uma mão estivesse apertando e soltando o estômago”, explica. É importante dizer que o limiar de dor é individual e alguns pacientes podem achar o incômodo mais forte.
Quando começar a se exercitar
O paciente pode retornar ao trabalho entre três e cinco dias após colocar o balão. As atividades físicas são recomendadas 15 dias após o procedimento.
Resultados
Jimi Scarparo diz que ainda existem poucos estudos que avaliam a eficiência da colocação do balão intragástrico. “O índice médio de emagrecimento é 20% do peso total. Dos que emagrecem, 60% voltam a engordar”, afirma. Novamente, o especialista aponta a falta de empenho do paciente. “Aquele que não se propõe a mudar a vida e não consegue sustentar hábitos saudáveis vai engordar novamente”.
Bruno Sander diz que os pacientes que conseguem manter o peso perdido por até um ano após o procedimento, a porcentagem de ganho cai drasticamente e a tendência é manter. “A literatura médica mundial aponta que 20% dos pacientes ganham até metade do peso que perderam no primeiro ano após a colocada do balão e 80% tendem a ter um reganho de peso de até 10% do que perderam também no primeiro ano”.