Diante da realidade mineira, em que apenas 170 municípios têm em suas estruturas de saúde o mamógrafo, 10 caminhões com o equipamento móvel vão percorrer novamente o estado. No ano passado, eles estiveram em 99 cidades, onde 45 mil mulheres foram examinadas, sendo que 39% delas nunca haviam feito o procedimento. O coordenador do Programa de Câncer de Mama e Colo de Útero da Secretaria de Estado de Saúde (SES/MG), Sérgio Bicalho, explica que o projeto deve ajudar a salvar mais pacientes. “Essa atitude é inédita em Minas. A gente espera detectar casos no momento inicial da doença. Mas esse processo é longo. Nossa luta é manter o serviço e estamos investindo R$ 20 milhões no projeto”, diz.
Minas Gerais está em segundo lugar no país na realização de mamografias, mas isso não impede que a incidência da doença aumente. Em Belo Horizonte, foram registrados 309 novos casos em 2012, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Atualmente, 147 centros de saúde da capital realizam o exame pelo Sistema Único de Saúde (SUS), além de hospitais, clínicas e laboratórios credenciados. Lançado no ano passado, o Programa Estadual de Controle do Câncer de Mama autorizou o exame às mulheres da faixa etária prioritária sem passar por consulta médica. É preciso ir a qualquer posto de saúde e apresentar um documento com foto.
NA PRÁTICA, HÁ DEMORA
Apesar das medidas e investimentos anunciados, muitas mulheres que dependem do SUS ainda reclamam da demora para conseguir agendar um exame em Belo Horizonte. Ontem, dois mamógrafos móveis foram colocados na Praça da Estação, onde 150 pessoas conseguiram fazer o teste. Foi o caso da paciente de 47 anos, Simone Gonçalves Campos, que havia feito a primeira e única mamografia oito anos atrás. “É difícil agendar. Acho essa iniciativa super importante porque o aumento da incidência da doença tem assustado a gente. Uma parente minha morreu após lutar oito anos contra o câncer de mama. Ela ficou anos sem fazer o exame”, lembra
A especialista pela Sociedade Brasileira de Mastologia Soraya Moukhaiber Zhouri, professora-adjunta da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, diz que o governo apenas passou a seguir recomendações internacionais de saúde, que já estipulam a idade de 40 anos para a realização anual da mamografia. “O problema é que a Secretaria Estadual e o Ministério da Saúde não têm recursos para atender todas as mulheres”, atesta. Segundo a médica, cânceres em estágio inicial chegam a 80% de cura, mas no Brasil isso ainda não ocorre com frequência. “O tumor é detectado tardiamente. Muitas vezes, a chance de sobrevida de cinco anos não chega a 50% dos casos”, completa.
Para quem tem medo de fazer exame devido à dor ou à radiação, Soraya alerta que ele não é “nada” comparado à devastação que um câncer pode causar. “Não é danoso à saúde da mulher. Estudos mostram que o autoexame não tem impacto na diminuição da mortalidade. Mas num país como nosso, deve ser estimulado como autoconhecimento. Muitas vezes, os maridos detectam um nódulo. A mulher precisa conhecer a própria mama”, ensina.
Detecção e tratamento com especialista
Em maio, a atriz americana Angelina Jolie suscitou um debate em torno do câncer de mama ao revelar que havia se submetido a uma dupla mastectomia preventiva para reduzir seu alto risco de ter a doença. Jolie é portadora de uma mutação genética que representava 87% de chance de desenvolver o tumor. Depois da cirurgia, seu risco caiu para 5%. Especialistas são muito cautelosos ao indicar um procedimento como este, por ser muito invasivo, e alertam que casos extremos assim só devem ser levados adiante depois de amplamente discutidos entre médico e paciente que tem histórico grave na família e apresente grandes possibilidades de ser acometida pela doença.
Os cânceres de mama genéticos são apenas 15% dos casos registrados, o que revela a necessidade de avaliar outros fatores, como terapia hormonal, estresse da vida moderna, alimentação desregrada e abuso de bebida alcoólica. O consumo de mais de 30g de álcool por dia é um risco para a mulher. “Estatísticas mostram que as cidades mais desenvolvidas têm índice maior de câncer que os mais atrasados. Aí, vemos a influência do novo estilo de vida das pessoas na saúde”, explica a mastologista do Hospital Alberto Cavalcanti Cláudia Avelar.
Nos casos mais comuns, ou seja, de mulheres que fazem o autoexame ou a mamografia e detectam alguma situação anormal, como o surgimento de um nódulo ou cisto, o mastologista vai examiná-los cuidadosamente, podendo pedir um exame de ultrassom da mama e também uma biópsia, primeiramente para identificar seu teor. Geralmente, é feita uma punção no próprio nódulo, com anestesia local na mama. Daí, é feita a biópsia, exame que vai indicar se o nódulo é benigno ou maligno. Somente a partir desse resultado é que o especialista poderá dar à paciente um diagnóstico mais preciso e indicar o tratamento adequado para seu caso.
Se o nódulo for benigno, o acompanhamento periódico pelo mastologista geralmente é o mais indicado. No caso de um tumor maligno, normalmente a mulher passará por tratamento com rádio ou quimioterapia, e a retirada do tumor. Mas tudo isso vai depender de cada caso, da extensão do câncer, etc. “Se houver necessidade de retirada da mama, na maioria dos casos, a reconstituição do seio é imediata”, conta Cláudia Avelar, que ressalta a importância da reintegração da mulher na sociedade após vencer a doença. “É importante um acompanhamento psicológico e de fisioterapia para uma recuperação ainda melhor”, acrescenta.
De peito aberto
Haverá palestra hoje sobre a autoestima de mulheres que tiveram câncer de mama no Itaú Power Shopping (Avenida General David Sarnoff, 5.160, Cidade Industrial, Contagem) e abertura da exposição De peito aberto, com fotografias e depoimentos dessas mulheres. A mostra fica aberta até o dia 9.