"Não tenho força de vontade para fazer uma dieta, então era o único caminho", disse à Revista Time a venezuelana Yomaira Jaspe. Suas decisões alimentares são atualmente ditadas por uma atadura de plástico costurada na língua. Aqui no Brasil, a moda ainda não está disseminada como no país vizinho, mas não faltam exemplos de loucuras para emagrecer.
O mais recente foi o de uma blogueira de moda. Ela postou em seu instagram que, ‘por pura vaidade de me pesar hoje e ver que eu emagreci’, tomou vários laxantes e foi parar no hospital. A autora da foto é magra, mas atribuiu o desejo de perder alguns quilos a uma prisão de ventre. Verdade ou não, vale a pena recorrer a procedimentos drásticos e sem garantia de resultados futuros para emagrecer?
A resposta da endocrinologista Amanda Souza Silva, que recebe em seu consultório pessoas com doenças crônicas, como diabetes; mas também pessoas que têm como único objetivo o emagrecimento, é não. Mas, se não vale, porque as pessoas se arriscam tanto? “Mudar hábitos de vida é muito mais complexo do que as pessoas imaginam. Envolve mudanças comportamentais, atenção aos horários de trabalho, de lazer, das refeições, enfim, exige disciplina. Toda ação gera uma reação e, no corpo, isso não é diferente”, sinaliza a médica. “O emagrecimento saudável é resultado de alimentação equilibrada associada à atividade física regular. As pessoas, em geral, estão em busca de fórmulas milagrosas e com resultado rápido. Os efeitos maléficos para a saúde ficam em segundo plano, diante do fascínio pelas fotos e reportagens sedutoras sobre este tipo de 'milagre' que não exige mudança de rotina”, diagnostica.
Embora a endocrinologista lembre que há casos em que a obesidade e o sobrepeso são ‘efeito colateral’ de outra patologia ou do uso de determinados medicamentos, na imensa maioria das vezes eles são mesmo causados pela má alimentação, sedentarismo e maus hábitos de vida.
Atadura do mal
Lançada em 2009 por um cirurgião plástico de Beverly Hills (EUA), a atadura é um sucesso na Venezuela, país reconhecido pelo culto à beleza à qualquer preço – as mulheres devem ser as mais lindas e se manterem castas, segundo a cultura machista local. Clique aqui e leia a matéria do Saúde Plena sobre os riscos de um procedimento para modelar o bumbum que já matou vários venezuelanos. A atadura em forma de rede e composta por um material cirúrgico abrasivo é fixada com seis pontos à língua, tornando o consumo de alimentos sólidos muito doloroso.
Com dieta líquida forçada, o paciente emagrece na maioria dos casos, mas também tem dificuldades de fala e para dormir. O procedimento custa cerca de US $ 2 mil nos Estados Unidos ou apenas US $ 150 em Caracas. Em sua recomendação inicial só pode ser usado por dois meses, no máximo. Depois disso, o material começa a ser incorporado à língua, se não for retirado em tempo – o próprio criador do método, Nikolas Chugay, adverte sobre isso. Mas o risco vai além. “Os implantes na língua, além de dolorosos e incômodos, podem ocasionar lesões graves, com risco de prejuízo na gustação, que faz parte do processo de alimentação”, alerta Amanda.
A médica adverte que, além de não ter nenhum benefício comprovado, a medida proporciona uma associação negativa da alimentação com algo doloroso e sem prazer. “Geralmente esses ‘milagres’ são mantidos por pouco tempo, pois ninguém consegue levar o radicalismo à frente; e o resultado não é positivo. A pessoa, então, entra num ciclo vicioso e vai em busca de novas promessas”, define a especialista. Os próprios usuários do método radical já enxergam isso, como uma tia de Yomaira Jaspe, que também se submeteu à intervenção na língua: “não vai ser fácil quando a atadura for retirada. É muito fácil não comer quando você é impedido fisicamente”, confessa Vilmaris Ojeda, de 40 anos, na entrevista à Time.
A tal redinha é chamada exatamente de ‘miracle patch’ (atadura milagrosa), mas não tem aprovação de órgãos reguladores norte-americanos e brasileiros e traz consigo ainda o risco de infecção e rejeição pelo organismo. Ainda assim, o procedimento é apresentado no site de seu criador como uma ‘inovação’ que permite a perda de até 13 quilos em um mês e é muito mais barata que a cirurgia bariátrica.
Laxante diabólico
Igualmente enganadores são os laxantes. No caso da blogueira, o relato era de dores abdominais, vômito e desidratação em função do uso desse medicamento, em dosagem errada e sem acompanhamento médico.
Na foto postada em redes sociais, é possível observar comentários de seguidoras da jovem confessando que são ‘viciadas em laxantes’. Como o caso ganhou repercussão, a blogueira apressou-se em minimizar o fato, dizendo, em carta: “à noite veio o resultado e no outro dia fui no hospital porque me senti desidratada. Tomei 2 bolsas de soro, um Dramim e pronto, voltei pra casa. SÓ!”.
Mas não é só. De acordo com Amanda de Souza Silva, esse tipo de ‘saída’ pode trazer graves prejuízos para a saúde da pessoa, não só do ponto de vista orgânico, mas também psicológico. “Quando decidem por esses métodos de urgência, os indivíduos realmente acreditam que encontraram a solução do problema e não medem as consequências. O uso contínuo de laxantes, além de causar uma perda de líquidos importante, não reduz a gordura corporal, que é o principal objetivo do emagrecimento saudável. Há uma falsa sensação de emagrecimento”, explica. “Na verdade, ela perde peso em virtude de desidratação, o que pode ser fatal em determinados casos. Além disso, o hábito pode resultar em caquexia, que é um quadro de desnutrição grave”, alerta.
Além de náuseas e vômitos, o uso de laxantes pode inibir a absorção de nutrientes importantes e gerar fraqueza muscular, hipotensão ortostática (queda da pressão arterial ao levantar) devido à perda de líquidos e também de eletrólitos (substâncias conhecidas como minerais que são importantes para o funcionamento normal das células) pelas fezes.
Afinal de contas, existe algum método de emagrecimento rápido? Não. E a obesidade não é um problema apenas estético. Segundo Amanda, o emagrecimento saudável exige mudanças comportamentais e isso deve ser feito de maneira gradual, para que o resultado seja definitivo. “Para pessoas que têm condições de perder peso sem uma intervenção cirúrgica, uma série de modificações nos hábitos de vida, com a supervisão de um profissional habilitado (ou, de forma ideal, de uma equipe multidisciplinar, como médico, nutricionista, educador físico, psicólogo), é o único método confiável para emagrecimento”. A médica deixa ainda aos leitores um princípio valioso, mas esquecido por muitos: “nosso corpo é o resultado de nossas ações e pensamentos. Não há milagres!”. Combinado?
O mais recente foi o de uma blogueira de moda. Ela postou em seu instagram que, ‘por pura vaidade de me pesar hoje e ver que eu emagreci’, tomou vários laxantes e foi parar no hospital. A autora da foto é magra, mas atribuiu o desejo de perder alguns quilos a uma prisão de ventre. Verdade ou não, vale a pena recorrer a procedimentos drásticos e sem garantia de resultados futuros para emagrecer?
A resposta da endocrinologista Amanda Souza Silva, que recebe em seu consultório pessoas com doenças crônicas, como diabetes; mas também pessoas que têm como único objetivo o emagrecimento, é não. Mas, se não vale, porque as pessoas se arriscam tanto? “Mudar hábitos de vida é muito mais complexo do que as pessoas imaginam. Envolve mudanças comportamentais, atenção aos horários de trabalho, de lazer, das refeições, enfim, exige disciplina. Toda ação gera uma reação e, no corpo, isso não é diferente”, sinaliza a médica. “O emagrecimento saudável é resultado de alimentação equilibrada associada à atividade física regular. As pessoas, em geral, estão em busca de fórmulas milagrosas e com resultado rápido. Os efeitos maléficos para a saúde ficam em segundo plano, diante do fascínio pelas fotos e reportagens sedutoras sobre este tipo de 'milagre' que não exige mudança de rotina”, diagnostica.
Embora a endocrinologista lembre que há casos em que a obesidade e o sobrepeso são ‘efeito colateral’ de outra patologia ou do uso de determinados medicamentos, na imensa maioria das vezes eles são mesmo causados pela má alimentação, sedentarismo e maus hábitos de vida.
Atadura do mal
Lançada em 2009 por um cirurgião plástico de Beverly Hills (EUA), a atadura é um sucesso na Venezuela, país reconhecido pelo culto à beleza à qualquer preço – as mulheres devem ser as mais lindas e se manterem castas, segundo a cultura machista local. Clique aqui e leia a matéria do Saúde Plena sobre os riscos de um procedimento para modelar o bumbum que já matou vários venezuelanos. A atadura em forma de rede e composta por um material cirúrgico abrasivo é fixada com seis pontos à língua, tornando o consumo de alimentos sólidos muito doloroso.
Com dieta líquida forçada, o paciente emagrece na maioria dos casos, mas também tem dificuldades de fala e para dormir. O procedimento custa cerca de US $ 2 mil nos Estados Unidos ou apenas US $ 150 em Caracas. Em sua recomendação inicial só pode ser usado por dois meses, no máximo. Depois disso, o material começa a ser incorporado à língua, se não for retirado em tempo – o próprio criador do método, Nikolas Chugay, adverte sobre isso. Mas o risco vai além. “Os implantes na língua, além de dolorosos e incômodos, podem ocasionar lesões graves, com risco de prejuízo na gustação, que faz parte do processo de alimentação”, alerta Amanda.
A médica adverte que, além de não ter nenhum benefício comprovado, a medida proporciona uma associação negativa da alimentação com algo doloroso e sem prazer. “Geralmente esses ‘milagres’ são mantidos por pouco tempo, pois ninguém consegue levar o radicalismo à frente; e o resultado não é positivo. A pessoa, então, entra num ciclo vicioso e vai em busca de novas promessas”, define a especialista. Os próprios usuários do método radical já enxergam isso, como uma tia de Yomaira Jaspe, que também se submeteu à intervenção na língua: “não vai ser fácil quando a atadura for retirada. É muito fácil não comer quando você é impedido fisicamente”, confessa Vilmaris Ojeda, de 40 anos, na entrevista à Time.
A tal redinha é chamada exatamente de ‘miracle patch’ (atadura milagrosa), mas não tem aprovação de órgãos reguladores norte-americanos e brasileiros e traz consigo ainda o risco de infecção e rejeição pelo organismo. Ainda assim, o procedimento é apresentado no site de seu criador como uma ‘inovação’ que permite a perda de até 13 quilos em um mês e é muito mais barata que a cirurgia bariátrica.
Laxante diabólico
Igualmente enganadores são os laxantes. No caso da blogueira, o relato era de dores abdominais, vômito e desidratação em função do uso desse medicamento, em dosagem errada e sem acompanhamento médico.
Na foto postada em redes sociais, é possível observar comentários de seguidoras da jovem confessando que são ‘viciadas em laxantes’. Como o caso ganhou repercussão, a blogueira apressou-se em minimizar o fato, dizendo, em carta: “à noite veio o resultado e no outro dia fui no hospital porque me senti desidratada. Tomei 2 bolsas de soro, um Dramim e pronto, voltei pra casa. SÓ!”.
Mas não é só. De acordo com Amanda de Souza Silva, esse tipo de ‘saída’ pode trazer graves prejuízos para a saúde da pessoa, não só do ponto de vista orgânico, mas também psicológico. “Quando decidem por esses métodos de urgência, os indivíduos realmente acreditam que encontraram a solução do problema e não medem as consequências. O uso contínuo de laxantes, além de causar uma perda de líquidos importante, não reduz a gordura corporal, que é o principal objetivo do emagrecimento saudável. Há uma falsa sensação de emagrecimento”, explica. “Na verdade, ela perde peso em virtude de desidratação, o que pode ser fatal em determinados casos. Além disso, o hábito pode resultar em caquexia, que é um quadro de desnutrição grave”, alerta.
Além de náuseas e vômitos, o uso de laxantes pode inibir a absorção de nutrientes importantes e gerar fraqueza muscular, hipotensão ortostática (queda da pressão arterial ao levantar) devido à perda de líquidos e também de eletrólitos (substâncias conhecidas como minerais que são importantes para o funcionamento normal das células) pelas fezes.
Veja o visual da moça antes do episódio com os laxantes:
Neste caso específico, cabe uma pergunta: por que pessoas que já são magras optam por negligenciar a saúde em função da vaidade? “As pessoas com este tipo de comportamento estão sempre em busca de um corpo considerado ‘perfeito’, influenciadas pela mídia, revistas, pelo modismo criado que o bonito é ser magro. Acredito que há uma distorção da própria imagem corporal e a saúde é deixada em segundo plano”, define a endocrinologista. “Quem disse que o bonito é ser magro? Vale a pena sacrificar a saúde por uma imagem imposta? O bonito é ser saudável, ter uma alimentação equilibrada, praticar atividade física regular, ter uma boa saúde mental. A busca deve ser por uma vida mais tranquila e com menos estresse”, ensina.Afinal de contas, existe algum método de emagrecimento rápido? Não. E a obesidade não é um problema apenas estético. Segundo Amanda, o emagrecimento saudável exige mudanças comportamentais e isso deve ser feito de maneira gradual, para que o resultado seja definitivo. “Para pessoas que têm condições de perder peso sem uma intervenção cirúrgica, uma série de modificações nos hábitos de vida, com a supervisão de um profissional habilitado (ou, de forma ideal, de uma equipe multidisciplinar, como médico, nutricionista, educador físico, psicólogo), é o único método confiável para emagrecimento”. A médica deixa ainda aos leitores um princípio valioso, mas esquecido por muitos: “nosso corpo é o resultado de nossas ações e pensamentos. Não há milagres!”. Combinado?