Frequentador assíduo da biblioteca do Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais, na 612 Sul, o aposentado voltou a “ler” novos romances graças a um projeto brasiliense criado neste ano pela escritora e artista Adriana Ribeiro. A página da internet Purpurinar convida leitores voluntários de todo o país a gravar, em voz, poesia, ficção, romances e outros gêneros literários. “O projeto tem esse nome, porque acredito que somos todos poeira no ar, mas, com o voluntariado, viramos purpurina, nos iluminamos ao nos ajudar”, explica Adriana. As obras são disponibilizadas no site para aqueles que, assim como Aurélio, querem saber, do começo ao fim, a história de muitos livros que ainda não foram adaptados para o braile. Para divulgar essa ação, o link de download do audiolivro ou do texto é enviado às entidades de pessoas com deficiência de todo o Brasil.
O funcionário público aposentado Luiz Mourão, de 63 anos, abraçou a ideia e se tornou um voluntário on-line. Acostumado ao formato presencial há 15 anos, desde que saiu do mercado de trabalho para atuar no terceiro setor, Luiz viu na nova ferramenta a possibilidade de ajudar. “Há flexibilidade em termos de tempo e de mobilidade para os voluntários”, destaca. Por enquanto, o aposentado já gravou poesias e orações. “O importante é ajudar de alguma forma e isso me traz felicidade. Pretendo continuar gravando audiolivros e adianto: o benefício é recíproco.”
O músico Daniel Sarkis, de 43 anos, também é voluntário do Purpurinar. Editor das gravações que vão para a página, Daniel nunca havia trabalhado antes como voluntário. A vantagem de poder fazer algo em qualquer horário e lugar do mundo foi o pontapé necessário para que ele compartilhasse o conhecimento como músico nesse projeto. “Esse momento apareceu na minha vida, agora, para que eu visse que nunca é tarde para ser voluntário.”
Para o vice-diretor do Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais, Airton Dutra de Farias, a iniciativa de Adriana e dos outros voluntários do Purpurinar é um convite para que mais pessoas possam aumentar o acesso de deficientes visuais à literatura. Na audioteca do centro, por exemplo, o acervo é pequeno: aproximadamente, 700 audiolivros. Aurélio e outros alunos acham pouco. “Há quem escute o mesmo livro quatro vezes por falta de novas opções”, conta. Para mudar esse cenário, Airton aposta em ações como o Purpurinar. “Acredito que esse projeto seja uma forma de dar acessibilidade e cidadania aos deficientes visuais.”
Perfil do voluntário:
73% têm ensino superior e/ou pós-graduação
68% são mulheres
48,1% têm entre 21 aos 30 anos
Fonte: Voluntários Online
Um por todos e todos pela causa73% têm ensino superior e/ou pós-graduação
68% são mulheres
48,1% têm entre 21 aos 30 anos
Fonte: Voluntários Online
ENTREVISTA
Adriana Ribeiro
Como você teve a ideia do projeto Purpurinar?
Após a publicação do meu segundo livro, eu senti que estava faltando algo, que não bastaria mais escrever, publicar e ver meu livro na estante. O meu trabalho precisaria alcançar quem não tem acesso fácil à literatura. Sem dispor de muito tempo livre, pois tenho filha, marido, casa sem empregada, arte, pós-graduação e trabalho, tive a ideia de criar CDs com as minhas poesias e de distribuir gratuitamente para grupos de deficientes visuais. Sentei-me em frente ao meu computador, baixei um programa de gravação de voz e, da 0h às 6h, produzi meu primeiro audiolivro. Depois disso, a ideia do site foi automática. Assim, o acesso a esse material seria muito maior. Também imaginei que outras pessoas poderiam se sentir motivadas a ajudar sem sair de casa. O que me motiva é a compaixão, é me colocar no lugar do outro, sair do “meu quadrado”, ver que a vida não gira em torno dos meus próprios pequenos e grandes dramas.
De que forma é feita a curadoria dos áudios? E como fica a questão dos direitos autorais?
Nós selecionamos as gravações de acordo com a dicção do voluntário, a qualidade do áudio e o conteúdo, logicamente. Recebemos o material pelo e-mail do projeto, escutamos, fazemos eventuais ajustes e observações aos voluntários e depois de aprovados, inserimos os arquivos no site para download. O uso dos textos é exclusivamente voluntário e não pode ser reproduzido para fins comerciais. Os textos que precisam de liberação de direitos autorais são encaminhados para legalização.
Saiba mais
Adriana Ribeiro
Como você teve a ideia do projeto Purpurinar?
Após a publicação do meu segundo livro, eu senti que estava faltando algo, que não bastaria mais escrever, publicar e ver meu livro na estante. O meu trabalho precisaria alcançar quem não tem acesso fácil à literatura. Sem dispor de muito tempo livre, pois tenho filha, marido, casa sem empregada, arte, pós-graduação e trabalho, tive a ideia de criar CDs com as minhas poesias e de distribuir gratuitamente para grupos de deficientes visuais. Sentei-me em frente ao meu computador, baixei um programa de gravação de voz e, da 0h às 6h, produzi meu primeiro audiolivro. Depois disso, a ideia do site foi automática. Assim, o acesso a esse material seria muito maior. Também imaginei que outras pessoas poderiam se sentir motivadas a ajudar sem sair de casa. O que me motiva é a compaixão, é me colocar no lugar do outro, sair do “meu quadrado”, ver que a vida não gira em torno dos meus próprios pequenos e grandes dramas.
De que forma é feita a curadoria dos áudios? E como fica a questão dos direitos autorais?
Nós selecionamos as gravações de acordo com a dicção do voluntário, a qualidade do áudio e o conteúdo, logicamente. Recebemos o material pelo e-mail do projeto, escutamos, fazemos eventuais ajustes e observações aos voluntários e depois de aprovados, inserimos os arquivos no site para download. O uso dos textos é exclusivamente voluntário e não pode ser reproduzido para fins comerciais. Os textos que precisam de liberação de direitos autorais são encaminhados para legalização.
Saiba mais
- www.purpurinar.com.br
- projetopurpurinar@gmail.com
Outra ação que impulsiona projetos sociais e o voluntariado pela internet é o crowdfunding (financiamento coletivo). Por enquanto, não há dados que mostrem a parcela de participação dos internautas brasileiros ou se os projetos compartilhados recebem mais investimento que propostas na área de cultura, por exemplo. Mas novas iniciativas pululam na internet. Em Brasília, o Instituto Fight 4 the Poor (Lute pelos pobres) é um desses canais para financiamento de projetos sociais.
Criado por André Luiz Figueiredo Collier, de 25 anos, estudante de administração, e por Guilherme Basso, de 27, consultor administrativo, em fevereiro de 2012, o instituto busca um maior envolvimento dos jovens na sociedade. “Em 2010, quando houve o terremoto no Haiti, fui lá três vezes para ajudar a construir casas. Fiquei muito tocado com aquela realidade e, quando voltei, queria fazer algo no Brasil. Foi aí que chamei o André para criarmos uma página de crowfunding em prol de ações sociais.” O Fight (Lute) não só faz alusão à emergência de uma ação mas também a lutadores de MMA que, como Wanderley Silva, vestiram a camisa da causa e cederam o direito de imagem para divulgar o projeto.
A ideia de André e Guilherme é de que mais ONGs incluam seus projetos sociais na página para que sejam financiados. O Fight 4 the Poor faz desde a pré-seleção, em que é analisada as viabilidades técnica e financeira do projeto, até o acompanhamento e a execução. “A divulgação maior do nosso trabalho ainda se dá pelas redes sociais. E os seguidores no Facebook não curtem por curtir. Eles querem se informar, trabalhar como voluntários”, observa André.
O instituto atua também em ações sociais nas cidades do DF com outros voluntários que participam presencialmente. E conta com voluntários que trabalham virtualmente na própria Fight 4 The Poor. Caso do estudante de direito Gabriel Abreu Ramos, de 22 anos, responsável pela arte das campanhas, da fanpage e do Instagram. O engenheiro agrônomo Rodrigo Ferraz, 24, dedica tempo e compromisso a ações voluntárias. No instituto, cuida da gestão de projetos. “Não tem preço ver que podemos ajudar creches e escolas que não teriam condições de ter parquinho ou sala de aula.”
Sarados e baladeiros, André, Guilherme, Rodrigo e Gabriel derrubam quaisquer estereótipos. Otimistas, acreditam que mais e mais amigos se unirão a eles como voluntários, principalmente porque o voluntariado on-line ganha mais adeptos em bits e bytes todos os dias.
Sites de crowdfunding
Juntos com Você - www.juntos.com.vc
Ulule - br.ulule.com
Impulso - www.impulso.org.br/pt
Bem Feitoria - benfeitoria.com
Indiegogo - www.indiegogo.com
Fight 4 the Poor - www.f4tp.com.br
Poste uma foto e ajude alguém a comer
Na maior rede social de fotografias do mundo, o que não falta é imagem de pratos saborosos de deixar qualquer um salivando. Conscientes desse apelo visual capaz de promover dezenas de curtidas no Instagram, a ONG espanhola Manos Unidas criou o primeiro filtro solidário por 0,89 centavos de euro. A ideia da organização não governamental é que os instagramers possam baixar o aplicativo Food Share Filter para, toda vez que registrarem um almoço, lanche ou jantar, alguém no mundo possa ser alimentado também. Basta fazer o download do app (disponível para iPhones e Androids) e abri-lo. O fitro contorna a imagem, registrada na hora ou da galeria de fotos. Um círculo branco destaca o prato. Abaixo da foto, uma frase: “Esta foto ajuda milhões de pessoas a não passar fome”. Depois, é só publicar no Instagram com a hashtag #foodsharefilter para divulgar a causa entre os seguidores da rede e compartilhá-la em outras mídias sociais para divulgar a ação. Saiba mais no www.foodsharefilter.com.