Lançado em maio deste ano, Espero Alguém (Bertrand Brasil) reúne 100 crônicas do escritor e poeta Fabrício Carpinejar. Os textos são divididos em capítulos entitulados A esperança, O fim, O reinício, Sou assim, Somos assim, Meus outros e O segredo, e dizem respeito a separações do autor. Para a Revista, ele falou sobre o livro e o seu ponto de vista sobre as diferentes formas de lidar com o fim de um relacionamento.
O livro é autobiográfico, mas trata de um término específico ou de todos os seus términos de modo geral?
Acabei trazendo a experiência de dois términos: um casamento de 13 e um de quatro anos. No primeiro, eu tinha filho, teve culpa. De uma certa forma, vi o ideal despedaçado de uma família. Nesses casos, já tem outros componentes, você não quer perder a proximidade com a criança e isso independe da relação. No segundo, a gente não tinha nenhuma partilha.
Qual a primeira providência a se tomar quando o relacionamento acaba?
No primeiro dia, você precisa não fazer nada, não se mexer. Não tomar nenhuma atitude precipitada, como apagar foto no Facebook, deletar e-mail… Tudo está tenso e resoluto, sem chance de reconciliação. A pessoa pode acabar assumindo um disparate e se arrepender. Você quer se vingar do outro pela ruptura, seja lá qual for o motivo que levou ao término. Eu recomendo ficar quieto, digerindo com amigos. Conversar muito com todos os amigos. Sem ter os amigos a favor e ao contrário. Os amigos precisam ter a sensibilidade de entender qual o seu rumo, fazer com que o outro possa transparecer sua vontade. Às vezes, você tem todos os motivos para não ficar casado, mas quer ficar. Os amigos têm que entender isso. O que eu destaco é realizar uma lista de intenções, abastecer a personalidade. Manter-se ocupado. Segundo o manual de psiquiatria, você pode ficar deprimido duas semanas. Isso é muito pouco! A gente precisa evitar pensar pelo outro. Quando estamos com a ausência, passamos a querer saber o que o outro está sentindo, e na verdade ele não está falando nada. A pessoa diz que não te ama mais e você acha que ela ama e não sabe, mas, se ela diz que não ama, não ama. Você vai criando atenuantes.
Qual lista de intenções você seguiu após o término?
Tomei atitudes diferentes. No (término do casamento) de 13 anos, fui eu quem me separei e saí. Sofri muito. Foi todo o processo da convivência. Quando eu estava me separando, ela sempre deixava a toalha na escada. Na maior parte das vezes, eu levava a toalha para cima e a estendia. Quando me separei e tive que ver aquela toalha e não mexer nela, foi muito difícil, terrível, eu diria. A gente precisa se desvencilhar do condicionamento. Você passou 13 anos com uma pessoa fazendo aquilo, é um hábito, está cristalizado. Toda separação é muito difícil. No caso dela, foi difícil em função de todo legado. Eu não era ninguém quando ela me conheceu, construí a carreira junto com ela, ela viu meu crescimento profissional. A gente não tinha nada em casa, só um colchão, copos de requeijão, foi um relacionamento bonito. Na medida em que se separa com filhos, o casal tem a obrigação de ser amigo. Precisa ser amigo. Você vai precisar manter a ligação, é importante que não fique estressado — todas as coisas básicas. No caso da (ex) mais recente, não somos amigos. Depois de uma relação sem filho é difícil ser amigo. No meu caso, tem essa coisa italiana estourada, “ou me ame ou me odeie”. Isso é uma espécie de limitação da minha parte, até porque só vai ser amigo se ambos decidem terminar o relacionamento. Se só um quiser, amizade é provocação, fingimento. O que eu fiz na separação foi tomar atitudes para me fortalecer. Eu me aproximei dos amigos, tenho muito mais amigos hoje. Evitei isolamento, fiz cursos que queria fazer, parei de fumar, de tomar refrigerante, entrei na musculação... O que mais importa na separação é a disciplina. Como a sua vida mudou, você tem que regrar horários.
Mas você conhece casos de ex que se tornaram amigos?
Conheço, e acontece muito de a pessoa ter que sofrer em silêncio, aconselhar e aguentar os novos relacionamentos. Querer ser melhor do que se realmente é: é doença. A gente precisa se igualar ao que sentimos, tem sentimento bom, ruim, contraditório e é natural senti-los. Ser melhor para o outro e ser pior para você não é bom, a gente precisa ter educação sentimental. Um relacionamento são dois. Se é um só, é obsessão. Não adianta mandar carta, mensagem. Se quer saber se ela te ama, ela vai se sensibilizar com seu desespero, vai ter recaídas. Se é intransigente e fica irritada com seu sofrimento, ela não te ama. Se ela fica comovida, não quer te ver chorando, ruminando, vai te apoiar, vai se importar mais com seu sofrimento que com o próprio. Se não tem interesse, vai ficar com raiva do seu sofrimento. É um movimento natural da separação se abater, espernear, jogar objetos pela parede. É muito natural, não tem como condenar. Você não está no período de recessão, você está sofrendo não pelo passado, mas pelo futuro.
PARA LER: