Numa época em que não havia facilidade de internet, Patrícia tinha como fonte de informação os próprios pais, as palestras do avô Ulisses Riedel e os livros de teosofia. Rogério e Paulo precisaram pesquisar ainda mais, pois não era costume dos pais conversarem sobre o assunto. “Começamos a estudar muito porque, sempre que dizíamos que éramos vegetarianos, nos enchiam de perguntas e precisávamos saber responder”, conta Rogério, que foi além e, no início deste ano, tornou-se vegano, abolindo do cotidiano qualquer produto de origem animal que submeta animais à exploração. Essa transição na alimentação foi complicada no início, tanto por conta do seu bem-estar quanto pela falta de restaurantes disponíveis. Mas, atualmente, ele se sente muito mais disposto e, assim como Pedro Matos com seu blog, Rogério criou um aplicativo para celular com opções de onde comer, o Guia Vegan Bsb.
Paulo admira a disciplina e a força de vontade do irmão: “Eu não consigo dizer que não vou mais comer tal coisa e, simplesmente, parar. Com o ovo, eu consegui parar porque o gosto virou referência de um filme que assisti, mas eu não deixo de comê-lo se está na receita de um bolo ou em uma massa, por exemplo”. A restrição dele, assim como a do irmão, vai além da alimentação: “Nós só usamos cinto de borracha, nunca de couro. Mas é muito difícil encontrar aqui no Brasil.”
A preocupação deles é com o sofrimento pelo qual a indústria faz os animais passarem. Eles não concordam com a forma como são tratados e lamentam a cultura da carne cultivada no Brasil. O preconceito ainda existe. Quando criança, Rogério passou por uma situação muito desagradável em uma visita a um colega de escola. Certa de que a opção por não comer carne não passava de um capricho, a mãe do colega e dona da casa escondeu pedaços de carne no meio da comida de Rogério. “Ela perguntou se estava gostoso e eu não seria mal-educado de dizer que não, então, ela começou a gargalhar e confessou que havia carne ali”, lamenta.
Viajado, Paulo compara as condições do vegetariano aqui e em outros países: “Em qualquer outro país, é muito mais fácil. Até na África do Sul, um lugar economicamente inferior ao Brasil, tinha opções vegetarianas e veganas em todo restaurante que eu ia”. O irmão, Rogério, critica: “O negócio é que aqui 3% do PIB nacional vem da indústria da carne”.