Saúde

Calvície feminina pode desencadear a depressão; veja mitos e verdades sobre queda de cabelo

Segundo especialistas, o problema, que atinge 40% das brasileiras com mais de 50 anos, normalmente tem origem genética

Celina Aquino

Enquanto o cabelo era sinônimo de força para Sansão, é provável que Dalila o enxergasse como símbolo de feminilidade. Ou seja, perdê-lo pode ser algo devastador para as mulheres. Como perder uma batalha. O problema é enfrentado por muitas brasileiras. A estimativa é de que 40% das que passaram dos 50 anos apresentam algum grau de calvície. Em casos mais extremos, a perda de cabelo mexe com a autoestima e pode até desencadear depressão.


Existem mais de 100 causas conhecidas do problema. A mais comum está relacionada com a genética. Apesar de a queda de cabelo não passar necessariamente de uma geração para a outra, a herança familiar tem forte influência. “Se a mulher tem pais, avós, tios ou irmãos calvos, a probabilidade de ter queda de cabelo é maior”, pontua o cirurgião plástico Marcelo Pitchon, especialista em transplante capilar. Ele informa que 95% a 98% dos casos têm ligação com a genética, o que leva a alopecia (nome técnico da calvície) androgenética a se manifestar com mais frequência entre as pacientes.

Geralmente, as mulheres calvas começam a perder cabelo a partir de um a dois centímetros depois da linha que emoldura o rosto. Já os homens costumam apresentar as famosas entradas, até que ficam sem o contorno entre a testa e o couro cabeludo. Pitchon esclarece que há, na linha do cabelo das mulheres, uma enzima chamada aromatase que tem papel protetor do couro cabeludo. A substância não está presente na cabeça dos homens.

Suely Rocha recuperou a autoestima depois que fez um implante
É normal perder até 100 fios todos os dias. Isso porque o cabelo tem um ciclo de vida, que pode durar de dois a sete anos, em que passa pelas fases de nascimento, crescimento e queda espontânea. Em mulheres com tendência genética, os fios vão crescendo cada vez menos, até que ficam praticamente imperceptíveis, deixando o couro cabeludo à mostra.

Quem não tiver paciência para contar fio a fio pode observar outros aspectos que caracterizam a alopecia androgenética. Se o rabo de cabelo começa a afinar, algumas áreas do couro cabeludo estão visíveis ou há fios muito finos entre os normais, é hora de fazer avaliação com um especialista. “Vemos mulheres que compram uma série de produtos, que não são necessariamente ruins, mas não são indicados para o caso delas. Não existe receita de bolo. Queda de cabelo é um assunto médico. A orientação é procurar um dermatologista e não fazer tratamentos caseiros”, alerta o coordenador do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Francisco Le Voci.

Com a escolha adequada, é possível esticar o tempo de sobrevivência dos fios. Le Voci acrescenta que o arsenal terapêutico consegue impedir ou desacelerar o acometimento dos folículos pilosos — estruturas onde nascem os fios e que começam a atrofiar em quadros de calvície. O sucesso do tratamento, no entanto, depende do estágio da alopecia. “Independentemente do resultado, mesmo que não seja o dos sonhos, o melhor é tratar adequadamente do que não tratar. A perda dos cabelos tem efeito devastador. As mulheres ficam extremamente abaladas, muito desconfortáveis, com vergonha e, às vezes, deprimidas”, observa o dermatologista.

Arsenal de cuidados
A autoestima da administradora de empresas Suely Rocha Mitraud Ruas, 58 anos, despencou na mesma proporção em que os fios caíram. “Qualquer mulher que tenha um pouco de vaidade não se sente bem ao se olhar no espelho com pouco cabelo. Vivi muitos momentos de tristeza por causa disso. Você vira alvo de olhares”, lembra. Para disfarçar a calvície, ela cortou o cabelo bem curtinho e passou a usar faixas no cabelo. Suely demorou para procurar ajuda, acreditando que a queda fosse uma situação passageira provocada por estresse. Não sabia que, entre os seis irmãos, havia sido sorteada para puxar a calvície do pai.

Segundo o tricologista Adriano Almeida, de São Paulo, com a ingestão de medicamento, a alopecia pode ser tratada com vitaminas, injeções intralesionais no couro cabeludo, laser (aplicado semanalmente para estimular o desenvolvimento do cabelo) e loções capilares. Os xampus também integram o tratamento, não porque impedem a queda, mas porque tiram a oleosidade dos fios, fator que dificulta o crescimento. As mulheres, normalmente, optam por usar uma prótese de cabelo enquanto os fios não aparecem. Ao contrário da peruca, o implante não cirúrgico, é feito sob medida para as pacientes com fios naturais que se assemelham aos originais.

Alternativa definitiva, o transplante capilar pode custar de R$ 6 mil a R$ 40 mil. O médico retira a reserva de cabelo da parte posterior da cabeça — região que nunca é afetada pela calvície. O especialista mineiro Marcelo Pitchon criou uma técnica que não necessita da raspagem já que o cabelo da paciente não é raspado. Os fios são transferidos do tamanho em que estão. “Como tenho a possibilidade de mudar o ângulo, aproximar ou afastar mais os fios, consigo cobrir áreas maiores”, explica o cirurgião plástico.

Com o transplante capilar, Suely deu uma rasteira na genética e voltou a sorrir. Ela revela que não tem o mínimo de constrangimento em falar sobre a cirurgia e, agora, fica feliz em saber que nada a impede de deixar o cabelo crescer. “Posso decidir o que quero fazer”, comemora.

Além do DNA
Quando é temporária, a queda de cabelo pode ser provocada por outros fatores que não estão ligados à herança familiar:

- Deficiência nutricional: principalmente de cobre, zinco e ferro, minerais importantes para o crescimento do cabelo

- Distúrbios endócrinos: o hipotireoidismo é um dos problemas que podem interferir no ciclo do cabelo

- Cirurgia bariátrica: impede que a paciente absorva os nutrientes de forma adequada, o que pode levar à queda de fios

- Alopecia areata: tipo de calvície, geralmente causada por estresse, que faz o cabelo cair em pequenas áreas

- Menopausa: a mulher deixa de produzir o hormônio feminino de forma abundante, elevando a concentração do hormônio masculino, responsável pela queda de cabelo

- Doenças autoimunes: é frequente acontecer queda de cabelo em pacientes com lúpus

- Quimioterapia: o tratamento para câncer também ataca as células que dão origem ao cabelo

Fonte: Adriano Almeida, tricologista


Secador muito quente pode causar queda de cabelo
Mitos e verdades

- Xampus antiqueda funcionam:
Mito. A função básica de um xampu é a higienização adequada dos cabelos. Com relação à queda, a ação é muito limitada. No tratamento, ele limpa o couro cabeludo e protege os fios

- O uso de secador e chapinha provoca queda de cabelo:
Verdade. O secador deve ser usado com temperatura de morna a fria para que não haja dano térmico em fios já enfraquecidos. A chapinha também deve ser evitada se os fios estiverem fracos, pois ela pode intensificar a fragilidade

-Os fios caem mais em quem lava a cabeça todos os dias:
Mito. A lavagem diária não provoca mais queda de cabelo

-Dormir com o cabelo molhado influencia na queda de cabelo:
Mito. O hábito pode deixar os fios mais secos e quebradiços, mas não piora a queda

-Caspa está relacionada com queda de cabelo:
Mito. A caspa é uma condição crônica, que não está associada à queda. O que pode acontecer é uma mulher ter mais caspa por alterações hormonais que estejam provocando a perda dos fios

-Uma pessoa estressada pode ficar calva:
Verdade. O estresse pode ser um fator secundário de acentuação da calvície, mas existem alopecias que são causadas primariamente por isso

-A alimentação influencia na queda de cabelo:
Verdade. Uma dieta deficiente de nutrientes pode, sim, causar a queda. Normalmente, isso se dá em casos de quase desnutrição ou um deficit muito significativo

-O cabelo cai mais com o envelhecimento:
Verdade. Os fios podem cair mais com o passar dos anos. Todos teremos algum grau de queda com o envelhecimento, o que não quer dizer que acontecerá uma calvície avançada somente por conta disso

-Antibiótico causa queda de cabelo:
Verdade. Existe a possibilidade de vários medicamentos provocarem a queda dos cabelos. Isso, muitas vezes, está relacionado com a sensibilidade de cada pessoa

-Deixar resíduos de creme pode fazer o cabelo cair:

Mito. Os resíduos normalmente não provocam queda

-O uso de química (escova progressiva e tintura, por exemplo) acelera o processo de queda de cabelo:
Verdade. Os tratamentos cosméticos, de maneira geral, podem acentuar a queda em fios enfraquecidos. Em alguns casos, podem até ser a causa primária de uma queda maior

-É normal cair cabelo durante a gravidez:
Mito. O que pode haver é uma queda mais intensa no pós-parto

-Anticoncepcional pode acelerar a queda de cabelo:
Verdade. O anticoncepcional geralmente auxilia no tratamento da calvície, pois regulariza o ciclo menstrual, mas pode ocorrer de a pílula piorar a queda de cabelo em algumas mulheres

Fonte: Francisco Le Voci, coordenador do Departamento de Cabelos e Unhas da Sociedade Brasileira de Dermatologia