Quem tem mais de 30 se lembra (emocionado) de Tetris. Talvez tenha jogado o clássico Genius (juventude, dê um Google). Mesmo os veteranos, porém, não estão imunes ao fascínio multicolorido de Candy Crush. Criado em 2012 pela empresa King, o game era, inicialmente, compatível apenas com dispositivos IOS. Hoje, está disponível para Android e roda em PCs via Facebook ou no site do desenvolvedor.
Funciona assim: o jogo é dividido em diversas fases, que, por sua vez, estão divididas em episódios. Para ultrapassar uma etapa, o jogador precisa fazer combinações de três ou mais doces da mesma cor, cumprindo assim o objetivo proposto, que pode ser um número de pontos ou uma missão específica. Já para ir de um episódio a outro, o jogador precisa ter mais paciência. São três as opções disponíveis, pedir que três amigos, conectados via Facebook, enviem tíquetes, cumprir três missões diferentes, uma por dia, ou comprar a sua “passagem” para uma nova etapa do jogo por preços que variam de 99 centavos de dólar a US$ 2,99.
Além dessa particularidade, existem outros aspectos do jogo desenhados para seduzir os jogadores. Entre eles, podemos citar as “vidas” do jogo. Cada pessoa pode acumular, no máximo, cinco vidas — quando o limite ainda não foi atingido, é oferecida uma oportunidade a cada 30 minutos. “O jogo não é montado dessa forma por acaso. Tem uma lógica que busca cativar o jogador, criando a expectativa e a ansiedade”, explica o psicólogo Valmor Borges.
O especialista ressalta que a fórmula é antiga. Jogos que alternam fases fáceis e difíceis são bem conhecidos por sua capacidade de atrair as pessoas. Valmor explica que isso acontece pela sensação da competitividade, pela curiosidade da próxima fase e pelo prazer de se descobrir capaz de vencer mais um desafio. Um dos fatores que mais envolve o jogador, porém, é o fato de que o jogo está sempre incompleto, impulsionando-o para as próximas fases.
Lívia Lins Cardoso Borges, 23 anos, servidora pública, conta que conheceu o jogo por meio de amigos e hoje se considera “viciada”. “É um caminho sem volta”, brinca. A jovem começou a jogar há dois meses, está na fase 103 e joga cerca de três horas por dia. O também servidor público Gregório Borges Machado, 30, é contra a mania da mulher. “Quando nos mudamos, eu não trouxe meu videogame, acho injusto”, argumenta. A jovem se conecta ao Crush após o expediente, das 19h às 22h. A tolerância de Gregório aumentou quando ele próprio se viu fisgado. A dificuldade agora é compartilhar o celular — o casal passou a competir pelo dispositivo e pelas vidas gastas.
O maior atrito trazido pelo jogo aconteceu antes de uma viagem. Lívia e Gregório estavam indo para o Festival Literário de Paraty, um antigo sonho, e quase perderam o avião porque se atrasaram. Lívia estava jogando e acabou perdendo a noção do tempo. “Eu me estressei porque era a viagem dos nossos sonhos, e ela se distraiu, fiquei bravo!”, conta Gregório, que, além de servidor público, é escritor e apaixonado pela festa literária que mobiliza a cidade fluminense. Hoje, os jovens encontraram o equilíbrio: enquanto Lívia está jogando, Gregório aproveita para escrever.
A psicóloga Izabela Maria de Oliveira Pinheiro explica que não há como determinar um parâmetro único para saber se a pessoa precisa de um “detox”. “Não tem um padrão, mas o jogo é saudável quando não altera os outros aspectos da sua vida”, explica. Ela chama a atenção para o fato de que o aplicativo está integrado ao Facebook, o que o torna rotineiro. “A interação que vem com a rede social aumenta o desejo de jogar, toda hora tem alguém te lembrando”, completa.
Esse foi o caso de Lidiane Martins Silva, 32, que recebeu um convite por meio da rede social e se sentiu atraída pela figura colorida dos doces. No início, achava o jogo infantil, mas conforme o nível de dificuldade foi aumentando, foi se sentindo desafiada, o que a impeliu a continuar. A bancária, porém, garante que nunca gastou dinheiro com o hobby. A economia só é possível com a cumplicidade da família inteira. “Quando acabam as vidas, de imediato, mandamos mensagens e ligamos uns para os outros, para enviar mais. Usamos também a tática de mudar de plataforma, uma vez que o progresso do jogo é sincronizado, mas a quantidade de vidas não tem relação”, explica Lidiane, que joga no celular, no tablet e no notebook.
Lidiane, que está na fase 163, reconhece já ter “passado dos limites”. Como, por exemplo, quando deixou de sair de casa apenas para continuar jogando. Outro aspecto sacrificado foi o sono. “Quando jogo antes de dormir, fecho os olhos e vejo os docinhos explodindo, aí volto a jogar até passar de fase”, confessa.
Os casos de Lidiane e Lívia não são críticos como o da americana Ashley Feinberg, que publicou um relato na internet no qual confessa ter gasto cerca de 230 dólares com itens do game. Valmor Borges explica que, em casos como esse, o jogo geralmente está preenchendo espaços ou aspectos da vida da pessoa que não estão funcionando bem, e alerta para a importância do autoconhecimento e da resolução do problema que trouxe a dependência.
Fique atento aos sinais
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Além dessa particularidade, existem outros aspectos do jogo desenhados para seduzir os jogadores. Entre eles, podemos citar as “vidas” do jogo. Cada pessoa pode acumular, no máximo, cinco vidas — quando o limite ainda não foi atingido, é oferecida uma oportunidade a cada 30 minutos. “O jogo não é montado dessa forma por acaso. Tem uma lógica que busca cativar o jogador, criando a expectativa e a ansiedade”, explica o psicólogo Valmor Borges.
O especialista ressalta que a fórmula é antiga. Jogos que alternam fases fáceis e difíceis são bem conhecidos por sua capacidade de atrair as pessoas. Valmor explica que isso acontece pela sensação da competitividade, pela curiosidade da próxima fase e pelo prazer de se descobrir capaz de vencer mais um desafio. Um dos fatores que mais envolve o jogador, porém, é o fato de que o jogo está sempre incompleto, impulsionando-o para as próximas fases.
Lívia Lins Cardoso Borges, 23 anos, servidora pública, conta que conheceu o jogo por meio de amigos e hoje se considera “viciada”. “É um caminho sem volta”, brinca. A jovem começou a jogar há dois meses, está na fase 103 e joga cerca de três horas por dia. O também servidor público Gregório Borges Machado, 30, é contra a mania da mulher. “Quando nos mudamos, eu não trouxe meu videogame, acho injusto”, argumenta. A jovem se conecta ao Crush após o expediente, das 19h às 22h. A tolerância de Gregório aumentou quando ele próprio se viu fisgado. A dificuldade agora é compartilhar o celular — o casal passou a competir pelo dispositivo e pelas vidas gastas.
O maior atrito trazido pelo jogo aconteceu antes de uma viagem. Lívia e Gregório estavam indo para o Festival Literário de Paraty, um antigo sonho, e quase perderam o avião porque se atrasaram. Lívia estava jogando e acabou perdendo a noção do tempo. “Eu me estressei porque era a viagem dos nossos sonhos, e ela se distraiu, fiquei bravo!”, conta Gregório, que, além de servidor público, é escritor e apaixonado pela festa literária que mobiliza a cidade fluminense. Hoje, os jovens encontraram o equilíbrio: enquanto Lívia está jogando, Gregório aproveita para escrever.
A psicóloga Izabela Maria de Oliveira Pinheiro explica que não há como determinar um parâmetro único para saber se a pessoa precisa de um “detox”. “Não tem um padrão, mas o jogo é saudável quando não altera os outros aspectos da sua vida”, explica. Ela chama a atenção para o fato de que o aplicativo está integrado ao Facebook, o que o torna rotineiro. “A interação que vem com a rede social aumenta o desejo de jogar, toda hora tem alguém te lembrando”, completa.
Esse foi o caso de Lidiane Martins Silva, 32, que recebeu um convite por meio da rede social e se sentiu atraída pela figura colorida dos doces. No início, achava o jogo infantil, mas conforme o nível de dificuldade foi aumentando, foi se sentindo desafiada, o que a impeliu a continuar. A bancária, porém, garante que nunca gastou dinheiro com o hobby. A economia só é possível com a cumplicidade da família inteira. “Quando acabam as vidas, de imediato, mandamos mensagens e ligamos uns para os outros, para enviar mais. Usamos também a tática de mudar de plataforma, uma vez que o progresso do jogo é sincronizado, mas a quantidade de vidas não tem relação”, explica Lidiane, que joga no celular, no tablet e no notebook.
Lidiane, que está na fase 163, reconhece já ter “passado dos limites”. Como, por exemplo, quando deixou de sair de casa apenas para continuar jogando. Outro aspecto sacrificado foi o sono. “Quando jogo antes de dormir, fecho os olhos e vejo os docinhos explodindo, aí volto a jogar até passar de fase”, confessa.
Os casos de Lidiane e Lívia não são críticos como o da americana Ashley Feinberg, que publicou um relato na internet no qual confessa ter gasto cerca de 230 dólares com itens do game. Valmor Borges explica que, em casos como esse, o jogo geralmente está preenchendo espaços ou aspectos da vida da pessoa que não estão funcionando bem, e alerta para a importância do autoconhecimento e da resolução do problema que trouxe a dependência.
Fique atento aos sinais
- Preocupação excessiva em continuar jogando.
- Agressividade e descuido de si mesmo enquanto joga.
- Mudanças emocionais e fisiológicas ao se afastar do jogo.
- Tentativas frustradas de parar de jogar.
- Esconder ou minimizar o tempo que joga de amigos e familiares.
- A atividade começa a prejudicar outros aspectos da vida, como trabalho, relacionamentos e lazer.
Curiosidades coloridas
- A página oficial do Candy Crush no Facebook tem aproximadamente 42 milhões de fãs.
- O perfil do jogo no Twitter tem cerca de 29 mil seguidores.
- Candy Crush é, atualmente, o segundo jogo mais popular na App Store (loja de downloads da Apple).
- O site Distimo, que faz análises de aplicativos e suas rentabilidades, indicou que o Candy Crush foi o aplicativo que mais gerou renda na App Store e na Google Play (loja de aplicativos dos dispositivos Android) em julho passado.
- Existem grupos no Facebook nos quais as pessoas fazem amizade com desconhecidos para obter ajuda no jogo.
- O cantor Psy, autor do hit Gangnam style, lançou o clipe de sua nova música, no qual aparece jogando Candy Crush.
- De acordo com a desenvolvedora do jogo, o Candy Crush tem cerca de 9 milhões de usuários ativos, por dia, no Facebook.
- 69% dos jogadores são mulheres, 30% são homens e 1% não foi possível identifi]car.