
Além dessa particularidade, existem outros aspectos do jogo desenhados para seduzir os jogadores. Entre eles, podemos citar as “vidas” do jogo. Cada pessoa pode acumular, no máximo, cinco vidas — quando o limite ainda não foi atingido, é oferecida uma oportunidade a cada 30 minutos. “O jogo não é montado dessa forma por acaso. Tem uma lógica que busca cativar o jogador, criando a expectativa e a ansiedade”, explica o psicólogo Valmor Borges.
O especialista ressalta que a fórmula é antiga. Jogos que alternam fases fáceis e difíceis são bem conhecidos por sua capacidade de atrair as pessoas. Valmor explica que isso acontece pela sensação da competitividade, pela curiosidade da próxima fase e pelo prazer de se descobrir capaz de vencer mais um desafio. Um dos fatores que mais envolve o jogador, porém, é o fato de que o jogo está sempre incompleto, impulsionando-o para as próximas fases.

O maior atrito trazido pelo jogo aconteceu antes de uma viagem. Lívia e Gregório estavam indo para o Festival Literário de Paraty, um antigo sonho, e quase perderam o avião porque se atrasaram. Lívia estava jogando e acabou perdendo a noção do tempo. “Eu me estressei porque era a viagem dos nossos sonhos, e ela se distraiu, fiquei bravo!”, conta Gregório, que, além de servidor público, é escritor e apaixonado pela festa literária que mobiliza a cidade fluminense. Hoje, os jovens encontraram o equilíbrio: enquanto Lívia está jogando, Gregório aproveita para escrever.
A psicóloga Izabela Maria de Oliveira Pinheiro explica que não há como determinar um parâmetro único para saber se a pessoa precisa de um “detox”. “Não tem um padrão, mas o jogo é saudável quando não altera os outros aspectos da sua vida”, explica. Ela chama a atenção para o fato de que o aplicativo está integrado ao Facebook, o que o torna rotineiro. “A interação que vem com a rede social aumenta o desejo de jogar, toda hora tem alguém te lembrando”, completa.
Lidiane, que está na fase 163, reconhece já ter “passado dos limites”. Como, por exemplo, quando deixou de sair de casa apenas para continuar jogando. Outro aspecto sacrificado foi o sono. “Quando jogo antes de dormir, fecho os olhos e vejo os docinhos explodindo, aí volto a jogar até passar de fase”, confessa.
Os casos de Lidiane e Lívia não são críticos como o da americana Ashley Feinberg, que publicou um relato na internet no qual confessa ter gasto cerca de 230 dólares com itens do game. Valmor Borges explica que, em casos como esse, o jogo geralmente está preenchendo espaços ou aspectos da vida da pessoa que não estão funcionando bem, e alerta para a importância do autoconhecimento e da resolução do problema que trouxe a dependência.
Fique atento aos sinais
- Preocupação excessiva em continuar jogando.
- Agressividade e descuido de si mesmo enquanto joga.
- Mudanças emocionais e fisiológicas ao se afastar do jogo.
- Tentativas frustradas de parar de jogar.
- Esconder ou minimizar o tempo que joga de amigos e familiares.
- A atividade começa a prejudicar outros aspectos da vida, como trabalho, relacionamentos e lazer.
Curiosidades coloridas
- A página oficial do Candy Crush no Facebook tem aproximadamente 42 milhões de fãs.
- O perfil do jogo no Twitter tem cerca de 29 mil seguidores.
- Candy Crush é, atualmente, o segundo jogo mais popular na App Store (loja de downloads da Apple).
- O site Distimo, que faz análises de aplicativos e suas rentabilidades, indicou que o Candy Crush foi o aplicativo que mais gerou renda na App Store e na Google Play (loja de aplicativos dos dispositivos Android) em julho passado.
- Existem grupos no Facebook nos quais as pessoas fazem amizade com desconhecidos para obter ajuda no jogo.
- O cantor Psy, autor do hit Gangnam style, lançou o clipe de sua nova música, no qual aparece jogando Candy Crush.
- De acordo com a desenvolvedora do jogo, o Candy Crush tem cerca de 9 milhões de usuários ativos, por dia, no Facebook.
- 69% dos jogadores são mulheres, 30% são homens e 1% não foi possível identificar.