De acordo com a professora de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenadora do Ambulatório de Hepatites Virais do Instituto Alfa do Hospital das Clínicas, Rosângela Teixeira, há também uma tendência de aumento de cirrose, atingindo boa parcela dos jovens que abusam do consumo do álcool. A boa notícia é que há diversas classes de drogas em estudo avançado e, num prazo de cinco a sete anos, espera-se que tenham 100% de eficácia na cura. “A hepatite C crônica é, atualmente, considerada a única infecção viral crônica que tem cura. Mas isso ainda não é a nossa realidade. É possível que seja nos próximos cinco anos”, afirma a especialista.
A infecção pelo vírus C se adquire por meio do contato do sangue de uma pessoa que tem a doença com outra pessoa que não tem. Assim, o sangue é o principal meio de transmissão do vírus C. “As hepatites agudas têm sintomas inespecíficos e passageiros. Cerca de 75% das pessoas que adquirem a hepatite C aguda têm a doença evoluída para a hepatite C crônica sem sentirem nada por anos e até décadas”, diz Rosângela. Ela explica que a infecção crônica do fígado leva progressiva e lentamente à inflamação e à fibrose, que é a cicatrização. “Em fases avançadas de cirrose há perversão da arquitetura do fígado, que fica endurecido e passa a trabalhar mal, ou seja, ocorre disfunção hepática. É o que ocorre na cirrose.”
Para discutir tratamento, prevenção e novidades em relação à cura da doença, serão realizados, amanhã e depois, no Hotel San Diego, em Belo Horizonte, o 4º Simpósio de Hepatites Virais de MG e o 2º Fórum de Carcinoma Hepatocelular, que reunirá médicos, pesquisadores hapetologistas e infectologistas de várias partes do país. Segundo o médico Eric Bassetti Soares, subcoordenador do Ambulatório de Hepatites Virais do Instituto Alfa de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG), “durante o simpósio, vamos discutir a experiência do nosso centro de referência no novo tratamento da hepatite C crônica, além de políticas públicas em saúde, tratamento da hepatite B e do carcinoma hepatocelular, complicações e manejo de pacientes com cirrose hepática e, apesar de o simpósio ser de hepatites virais, não poderíamos deixar de discutir a doença hepática gordurosa não alcoólica e a esteatoepatite não alcoólica, que é a principal causa de doença hepática, suplantando inclusive as causadas pelos vírus B e C.”
Hepatite significa inflamação do fígado, que se caracteriza, laboratorialmente, por elevação das enzimas hepáticas, podendo resultar em disfunção das células do fígado e, clinicamente, por sintomas inespecíficos, como mal-estar, febre baixa, falta de apetite, dor vaga no abdome. Contudo, é um nome genérico, pois as hepatites têm diversas causas, como as viróticas, que afetam predominantemente o fígado, e as consequentes do abuso do álcool, medicamentos e doenças autoimunes, metabólicas e genéticas. “As hepatites podem ser agudas e crônicas. Entre as crônicas, as causadas pelos vírus B e C têm assumido maior importância, pois, juntamente com a hepatite por álcool, constituem hoje, em todo o mundo, as principais causas de transplante hepático e câncer do fígado. Em geral, as crônicas são silenciosas por anos ou décadas e só são descobertas nas fases mais avançadas quando, por exemplo, a cirrose e suas complicações se instalam.”
A especialista ressalta que há pelo menos cinco tipos de vírus que causam hepatites por vírus. “As A e E são agudas, autolimitadas e, na maioria dos casos, não causam problemas sérios. As B e C têm potencial de evolução para as crônicas e constituem hoje um sério problema de saúde pública em todo o mundo, devido à sua alta prevalência e por serem silenciosas. A hepatite C é causada pelo vírus C, ou HCV. Trata-se de doença também silenciosa que evolui assim por décadas. Há vários estágios, ou seja, diversos graus de inflamação e de fibrose do fígado, ou cicatriz, causados por, pelo menos, seis subtipos de vírus C, sendo que o subtipo 1 é o mais prevalente em todo o mundo, seguido pelos subtipos 2 e 3. O subtipo 1 é mais frequente e difícil de tratar.”
Medicamentos
saiba mais
-
OMS alerta sobre a necessidade de prevenir e tratar tipos de hepatites
-
Especialistas dizem que tratamento de hepatite C no país tem bom nível
-
No Dia Mundial de Combate às Hepatites, nova terapia traz esperança e associações alertam pessoas acima dos 45
-
Cartilhas sobre prevenção da hepatite C serão distribuídas na Copa
-
Nova classe de drogas elimina por completo vírus da Hepatite C
-
Susto e angústia acompanham o diagnóstico da hepatite C; informação pode levar à cura
-
Cura da hepatite C está mais perto graças a um novo coquetel
-
Pesquisa vai indicar como os brasileiros utilizam medicamentos
“Esses medicamentos são a primeira geração do que denominamos DAAs – sigla em inglês para agentes antivirais diretos –, já que os medicamentos anteriormente disponíveis atuam no sistema de defesa do organismo para combater a infecção. Com uma ação direta contra o vírus foi possível aumentar a chance de curar o paciente, que era de aproximadamente 40%, para 65% a 75%. O tratamento novo é uma adição de um desses novos medicamentos ao tratamento já disponível desde 2001, isto é, durante parte do tratamento usaremos três medicamentos. Os dois novos têm eficácias semelhantes, mas diferentes formas de utilizar. O principal benefício dessas novas opções de tratamento é a maior probabilidade de ficar curado da hepatite C, o que denominamos de end point primário. Mas há outros benefícios que podem ser alcançados com o tratamento, como a melhora na inflamação e na fibrose do fígado, além da melhora da função hepática.”