“Minha pesquisa é um braço de várias outras que esse grupo desenvolve. Ela constatou a eficácia do aconselhamento para a não transmissão do vírus (à criança)”, diz Amaranto. O resultado, segundo a estudante, favorece a argumentação para que seja realizada a pesquisa laboratorial do HTLV no pré-natal e para que seja oferecido pelo governo o leite em pó para filhos de mães soropositivas.
Em média, 10% dos indivíduos infectados com o micro-organismo desenvolvem sintomas como leucemia e linfomas de células T, paraparesia espástica tropical e uveíte, entre outros. “A transmissão ocorre por via parenteral, sexual e vertical. Minha pesquisa se relaciona à prevenção da transmissão do vírus por meio da atuação na via vertical. O aconselhamento de mães soropositivas inclui evitar o aleitamento materno e o parto natural.”
O vírus linfotrópico da célula T humana 1 (HTLV-1) é um retrovírus associado com a leucemia de células T do adulto (ATL), doenças neurológicas, dermatológicas e oftalmológicas, entre outras. O vírus pode ser transmitido da mãe para o feto (via vertical), na relação sexual e por compartilhamento de agulhas e seringas contaminadas. “O período de incubação, aliado à alta taxa de portadores assintomáticos e às graves doenças associadas, justifica a atenção à possibilidade de se evitar a transmissão por via vertical”, explica a pesquisadora.
Foram selecionadas para participar do estudo mulheres soropositivas para verificação de indivíduos nascidos antes e depois da participação das mães no estudo do Grupo Interdisciplinar de Pesquisas em HTLV (GIPH), criado em 1997 pela Fundação Hemominas e do qual fazem parte a Faseh, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Fiocruz, a Rede Sarah e a Universidade do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
“Os resultados encontrados são preliminares, mas já foi possível constatar que mães que não amamentaram e preferiram o parto cesáreo transmitiram menos o vírus do que aquelas que não seguiram o aconselhamento”, afirma Amaranto. A estudante ressalta que o interesse em atuar na prevenção é o que a pesquisa traz de maior impacto. “Com os resultados, é possível cobrar do poder público a doação do leite em pó para as mães que não podem amamentar os filhos, por serem portadoras do vírus HTLV. Espero contribuir para a divulgação do conhecimento acerca do vírus no meio da saúde para que a prevenção se torne ampla e eficaz.”
Endêmica
A professora do curso de medicina da Faseh Anna Bárbara, orientadora do trabalho, reconhece que foi ótimo acompanhar a estudante e seus colegas no encontro internacional, organizado pela Sociedade Internacional de Retrovirologia. “A dedicação desses alunos é muito grande, como demonstram os resultados de suas pesquisas, reconhecidas pelos organizadores da conferência. O trabalho foi fundamental para a obtenção dos resultados apresentados na conferência.”
A infecção pelo HTLV é endêmica no Brasil e considerada uma doença negligenciada, com poucas verbas para tratamento e pesquisa. “Temos a sorte de, em Minas Gerais, contar com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e da Fundação Hemominas para essas pesquisas, bem como contar com os alunos da Faseh, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da UFMG, que contribuem para o avanço dos estudos. Com os resultados apresentados, a Prefeitura de Belo Horizonte acaba de incluir os testes para HTLV no pré-natal, pois essa virose pode ser transmitida de mãe para filho por meio do aleitamento materno. Isso é muito importante, porque, atualmente, a transmissão ocorre silenciosamente, sem que as pessoas saibam.”
Além de Anna Bárbara, orientaram o grupo os professores Marina Lobato Martins, Bráulio Gonçalves Marinho e Ana Lúcia Starling, e os especialistas e mestres em ciência da saúde Luiz Romanelli e Sueli Namen. “A professora Ana Lúcia Starling e a pesquisadora Ludimila Labanca são alunas de doutorado da pós-graduação de infectologia e medicina tropical, que é parceira do GIPH, por meio da orientadora Denise Utsch Gonçalves.”