Nesse câncer de medula óssea, a proliferação desordenada dos plasmócitos, uma das células que compõem o sangue, leva a anemia, lesões ósseas, insuficiência renal e hipercaucemia, que é o aumento do cálcio no sangue em decorrência da destruição óssea. Apesar de raro, o mieloma múltiplo é um dos cânceres hematológicos mais comuns, representado ainda pelos linfomas e pela leucemia. Segundo o hematologista Antonio Vaz de Macedo, especialista em transplante de medula óssea, o mieloma múltiplo é um câncer mais comum em idosos, embora também possa acometer pessoas mais jovens.
Marcelo levava uma vida normal até o início do ano. Trabalhava, jogava tênis e fazia caminhadas. O checape anual, feito em janeiro, tinha terminado com sucesso, até que uma dor na coluna começou a incomodá-lo. A fisioterapia funcionou até certo ponto: ele já não conseguia dirigir e amarrar o sapato. Uma ressonância alertou o ortopedista e, em pouco tempo, o diagnóstico foi confirmado. A dor na região lombar e a anemia são sintomas clássicos da doença, que pode ser identificada com exames de sangue, de imagem e procedimentos como o mielograma, uma aspiração da medula, além da biópsia óssea.
Casado, pai de três filhos e às vésperas de ser avô, Marcelo está esperançoso com a recuperação, mas, antes disso, enfrentará pelo menos 20 dias de internação. O transplante autólogo de medula óssea não é uma cirurgia, e sim um procedimento em várias fases. A preparação começou há cinco meses, com as sessões de quimioterapia. Marcelo não teve queda de cabelo, mas emagreceu 10 quilos e sentiu as outras reações clássicas ao procedimento, como febre e dormência na mão. A dor que o impedia de realizar atividades rotineiras passou, dando mais conforto ao paciente.
AVANÇOS
Hoje, o tratamento do mieloma múltiplo é feito com quimioterapia e transplante, em casos elegíveis. Para o Sistema Único de Saúde (SUS), o paciente precisa ter no máximo 70 anos e não ter comorbidades significativas. "Não há possibilidade de cura, a não ser em casos excepcionais de transplantes alogênicos, de maior risco e indicado para jovens. Avanços nos últimos 10 anos, com o desenvolvimento de novas terapias, aumentaram a sobrevida dos pacientes em até 15 anos. É uma doença lenta, mas que pode tomar um curso agressivo", explica o hematologista.
Fila mais curta
A unidade de transplantes de medula óssea do Instituto Mário Penna, no Hospital Luxemburgo, foi inaugurada em julho, embora só hoje realize seu primeiro procedimento. São quatro leitos prontos para o funcionamento, dedicados ao procedimento autólogo, feito com células do próprio paciente, de beneficiados do Sistema Único de Saúde (SUS), convênios e particular. A expectativa da instituição é oferecer também o transplante de medula alogênico, realizado com células de um doador compatível, dentro de um ano. Para isso, será necessária nova vistoria do Ministério da Saúde e mais leitos.
O Instituto Mário Penna fornecerá a infraestrutura de internação, a coordenação dos serviços e os atendimentos complementares, como nutrição, exames, apoio psicológico e odontologia. Os transplantes de medula serão realizados no Hospital Luxemburgo, em parceria com a clínica hematológica, responsável pela coleta e criopreservação (congelamento) das células, além de uma equipe de seis médicos especializados, que prestará atendimento ao paciente durante todo o procedimento, incluindo os períodos pré e pós-transplante.
Atualmente, apenas o Hospital das Clínicas, o Socor e a Santa Casa realizam transplantes de medula óssea em Belo Horizonte, que tem uma demanda reprimida. Como o procedimento é complexo e são poucos os hospitais com o serviço, a oferta de leitos é insuficiente. Em Minas Gerais, estima-se que existam pelo menos 60 pacientes do SUS aguardando a vez para poder fazer um transplante autólogo. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil tem 70 centros cadastrados para realizar o transplante de medula óssea e 20 para transplantes com doadores não aparentados.
CONTROLE
A nova estrutura representa uma maior expectativa de vida para os pacientes. Hoje, muitos chegam a morrer na fila de espera por um transplante desse tipo, por falta de leitos, já que o material a ser transplantado vem do próprio paciente. Segundo o hematologista Antonio Vaz de Macedo, há pessoas que ficam mais de um ano na fila, exigindo, assim, mais sessões de quimioterapia. "A quimioterapia feita no período de preparação para o transplante é para controlar a doença. Se não tem a vaga para fazer o transplante, o paciente continua fazendo a químio."
SERVIÇO:
Instituto Mário Penna
Endereço: R. Guaicuí, 20 - Coração de Jesus, Belo Horizonte - MG, 30380-380
Telefone:(31) 3330-9100
Instituto Mário Penna
Endereço: R. Guaicuí, 20 - Coração de Jesus, Belo Horizonte - MG, 30380-380
Telefone:(31) 3330-9100