Saúde

Antropóloga negra nunca pensou em se relacionar com homem branco, mas casou-se com um

Quatro mulheres bem-sucedidas confirmam a tese que alguns estudos já abordaram: negras têm mais dificuldade em engatar romances sérios

Revista do CB

A antropóloga Denise da Costa, 29 anos, nunca pensou em se relacionar com um homem branco. Até esbarrar com aquele que seria seu marido. Casada há três anos, não nega que teve medo de ser apresentada à família dele e, volta e meia, enfrentam juntos algumas situações de preconceito.


"Por eu usar meu cabelo natural, já aconteceu de as pessoas gritarem comigo na rua para eu cortá-lo. Meu marido fica indignado"


  “Antes do meu marido, só tive namorados negros. Não achava que fosse namorar um homem branco por medo de não me aceitarem. Tanto que, assim que comecei a namorar o Daniel, meu maior medo era de a família dele me rejeitar de alguma forma. Não aconteceu. Nós, mulheres negras, sabemos que nem sempre podemos ser aceitas nos ambientes que frequentamos e que isso também acontece nos relacionamentos afetivos.

Meu primeiro namorado, aos 15 anos, era negro. Eu não era muito abordada nessa época. Olhava para as minhas amigas brancas e pensava: ‘Acho que sou mais bonita do que elas, mas os meninos estão olhando mais para elas.’ Hoje me sinto com a autoestima mais elevada.

De maneira inconsciente, evitei me relacionar com homens brancos. Eu circulava por espaços onde a presença do negro era maior. Acho que era uma proteção mesmo, de achar que não era o meu lugar. Mas estava solteira e queria conhecer pessoas interessantes. Foi quando comecei a namorar o Daniel, despretensiosamente. Nós nos conhecemos na faculdade. Para ele, foi uma experiência nova também. Ele nunca tinha namorado uma mulher negra.

A questão racial acabou sendo imposta na vida dele. Por eu usar meu cabelo natural, já aconteceu de as pessoas gritarem comigo na rua para eu cortá-lo. Meu marido fica indignado. Teve também um outro episódio, que aconteceu no condomínio de luxo que a irmã dele mora, em Minas Gerais. Na hora da identificação, o porteiro falou: ‘Seu irmão está aqui com uma morenona’, de um jeito muito agressivo. Por que ele não pensou que eu era mulher dele e respeitou? Existe um0 racismo muito sutil no Brasil, que é tão subjetivo que você não consegue desmascarar e dar nome àquilo que está acontecendo. E existe esse racismo escancarado. Daniel fica nervoso nessas situações, xinga, mas eu digo: ‘Não mexe com isso não.’

Fico pensando como vai ser meu filho com o Daniel. Sei que terão expectativas sobre como ele vai nascer, se será branco, mestiço, com cabelos crespos ou não. Mas o importante é que eu quero ensinar a ele as coisas que aprendi sobre racismo. Tarefa nem um pouco simples.”