Ginecologista e membro da Sociedade de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Adriana Lucena faz a seguinte conta: “considerando o ciclo máximo , uma mulher passa 84 dias do ano menstruada. Como a capacidade reprodutiva gira em torno de 42 anos são 3.528 dias de sangramento”. Ou seja, representa 9 anos e meio de vida. Um ciclo menstrual de 4 dias diminui esse tempo para 6 anos e meio.
Apegando-se a esses números, a estratégia de marketing foca nas oportunidades perdidas, mas outras questões estão envolvidas e devem ser levadas em conta. Como o produto ainda não chegou ao mercado brasileiro – a data é 15 de setembro -, a médica Adriana Lucena frisa que não conhece o absorvente pessoalmente, apenas por propaganda, mas que chama a atenção a dificuldade de retirá-lo. “Ele não pode ser comparado com os existentes que têm uma guia que fica externa e não deixa a mulher se esquecer”. A médica frisa que é comum na rotina de atendimento pacientes buscarem atendimento para retirar absorvente ou camisinha “perdidos” dentro vagina.
Outro ponto observado pela especialista está na cultura da brasileira de não se tocar, o que dificultaria ainda mais o processo de retirada do dispositivo. Para ela, esse pode ser um ponto que vai influenciar diretamente na rejeição dessa novidade. Ela cita a Europa como comparação. “Lá, o uso de diafragma e do anel vaginal tem aceitação altíssima como opção de contracepção. As europeias têm uma facilidade de automanipulação muito maior que as brasileiras. Aqui, para se ter uma ideia, o diafragma é o método contraceptivo menos usado”, pondera. Adriana Lucena analisa também o fato de o ato sexual empurrar o absorvente ainda mais para dentro. “Ele vai ficar lá no fundo da vagina, em uma área de pouquíssima sensibilidade. A mulher tem que ter realmente um autoconhecimento muito grande”, diz.
Em relação ao material do produto, a especialista acredita que, por ser esponjoso, pode favorecer a proliferação bacteriana e odores desagradáveis. “Ele pode levar bactérias para a entrada do colo do útero”, afirma.
O produto
O Soft Tampom oferece tamanhos diferentes de acordo com o fluxo da mulher – P, M e G. Apesar de a embalagem sugerir a troca de 4 em 4 horas, alardeia-se a opção de que ele pode ser usado por 8 horas ininterruptas. “Após esse tempo ele começa a descer e a mulher passa a sentir o incômodo”, garante a diretora da Intt Cosméticos, Alessandra Seitz. Para Adriana Lucena, as interessadas devem seguir a orientação da embalagem e não estender o tempo de uso para evitar o risco de infecção.
Farmácias, lojas de conveniência e sex shops vão vender o absorvente íntimo. Em formato de coração, Seitz defende que ele é fácil de colocar e tirar por se adequar às formas femininas. “No meio do coração tem um encaixe para o dedo entrar e facilitar o manuseio”, explica.
Relato
Antes de entrar no mercado, a empresa selecionou algumas brasileiras para testar o absorvente. Assistente administrativo, Renata* tem 33 anos, é adepta do absorvente íntimo e aprovou a novidade. “A gente não sente nada. Não tem incômodo nem sujeira. O pênis sai limpo após o ato sexual”, relata. Ela conta que não avisou o parceiro sobre o teste: “Depois que a gente terminou eu tirei e mostrei a ele”. Ela diz também que o companheiro afirmou ter sentido alguma coisa diferente, mas que não conseguiu identificar o que era. “Ele disse que não incomodou e nem atrapalhou”, assegura. .
Renata disse que seguiu a orientação da embalagem e passou lubrificante antes de introduzir o absorvente na vagina. “Eu uso muito absorvente interno. Pra mim, foi fácil manuseá-lo. Na hora de tirar, eu enfiei o dedo e consegui localiza-lo facilmente. Ele sai no mesmo formato”, avaliza.
Para ela, outro ponto positivo é justamente não ter a cordinha que serve como guia para a mulher puxar o absorvente para fora. “É mais confortável. Não fica aquela cordinha molhada o dia inteiro”, conclui.
* Nome fictício
Ainda tem dúvidas?