O cardiologista William Davis sabia do grande desafio que tinha pela frente ao escrever o best seller norte-americano 'Barriga de trigo', que acaba de chegar ao Brasil. Nele, o autor propõe uma vida completamente livre do cereal integral, alimento ao qual atribui não apenas a formação dos indesejados pneuzinhos na região abdominal, mas também o estímulo a uma série de outras doenças, entre elas as cardíacas, diabetes, artrite, alguns tipos de urticárias e até câncer. Sem contar os efeitos na pele, como a acne.
Boa parte dos malefícios causados pelo trigo tem como origem as alterações genéticas pelas quais o cereal passou nos últimos 50 anos. O autor explica que para aumentar a produtividade e a resistência da planta à seca e às pragas, a ciência tratou de realizar uma série de cruzamentos e modificações genéticas nas linhagens. O que pouco se questionou foram os efeitos dessas novas propriedades sobre a saúde humana.
Entre eles, William Davis cita os picos exagerados de açúcar no sangue, que acionam ciclos de saciedade alternados com um aumento do apetite, uma das principais justificativas para a formação da típica barriga que dá nome à obra. Segundo William, a elevação do nível de glicose repetidas vezes ao longo de períodos constantes culmina com a deposição de gordura principalmente no abdômen. Nos homens, o efeito se estende para as mamas, que ficam maiores à medida que mais estrogênio é produzido pelo tecido adiposo. Para se ter uma ideia, o autor garante que o consumo de duas fatias de pão integral aumenta mais a taxa de glicose no sangue do que duas colheres de sopa de açúcar branco.
A proposta, portanto, é radicalizar e eliminar o cereal de forma abrupta da dieta, mesmo que a dependência pareça insuperável. Apesar de concordar que o trigo foi geneticamente alterado a partir da década de 1960, a nutricionista e mestre em extensão rural Regina Oliveira garante que hoje a população não tem condições de abrir mão do trigo por completo. “O grão passou por uma mudança de estrutura. Se antes tinha menos de 3% de glúten em sua composição, agora esse percentual chega a 20%. Sem contar que muitas culturas são transgênicas, além de expostas a agrotóxicos”, explica. “Mas para tirá-lo da alimentação é preciso colocar outra coisa no lugar e trazer de volta outros alimentos que foram excluídos da alimentação, como alguns tubérculos”, acrescenta. O trabalho portanto é mais profundo e significa uma mudança cultural que pode levar anos.
Enquanto essa revolução não ocorre, o ideal é reduzir o consumo diário. “Hoje, a população brasileira come de quatro a cinco porções de trigo todos os dias. É, além de tudo, uma dieta pobre e homogeneizada. Com isso, há perdas nutricionais”, avalia. O ideal é tentar restringir o consumo do cereal a duas vezes ao dia. “Se consumido moderadamente, os danos, principalmente no que se refere à diabetes do tipo 2, não serão tão grandes”, garante.
NUNCA MAIS
“Mais esguio, mais esperto, mais ágil e mais feliz” são as promessas de William Davis para quem se propuser a dar o difícil passo rumo a uma vida sem trigo. Ciente da dificuldade que muitos vão enfrentar, o autor pontua quais são os alimentos mais indicados para preencher o amplo espaço vazio que os pães e massas vão deixar. Legumes, verduras, castanhas, sementes, carnes, ovos, abacates, azeitonas e queijos serão os principais aliados nesta mudança drástica de hábitos alimentares. O livro ainda traz algumas receitas para ajudar na diversificação do cardápio.
O que comer sem restrição, segundo William Davis
» Vegetais (exceto batata e milho)
» Castanhas e sementes cruas (amêndoas, nozes, pecãs, avelãs, castanhas-do-pará, pistaches, castanhas-de-caju, macadâmias, amendoins, sementes de girassol e de abóbora, gergelim, farinha de castanhas)
» Óleos (azeite de oliva extravirgem e óleos de abacate, nozes, coco, manteiga de cacau, linhaça, macadâmia e gergelim)
» Carnes e ovos
» Queijos
» Outros: semente de linhaça (moída), abacate, azeitonas, coco, especiarias, chocolate (não adoçado) ou cacau
Fonte: Livro 'Barriga de trigo', de William Davis