Eles não prestam. São todos iguais e, na hora da paquera, querem partir logo para os “finalmentes”, sem flores e, muito menos, uma ligação no dia seguinte. Como caçadores incansáveis, fazem suas famosas “gavetas” e , em hipótese alguma, pensam em levar adiante algo mais sério. Certo? Cara belo-horizontina, esse estereótipo do macho garanhão começa a dar sinais de cansaço. Está caindo por terra toda aquela história de que em Belo Horizonte eles não querem um domingo com cinema, pipoca e passeios de mãos dadas. Querem, e muito! Apesar de ainda haver aqueles que fogem de compromissos, não está tão difícil assim encontrar homens solteiros que procuram se apaixonar. Eles pertencem a todas as faixas etárias e com uma busca em comum: mulheres companheiras, compreensíveis e, acima de tudo, parceiras.
Apesar de não ser harém, convenhamos, quase 150 mil mulheres a mais em um município é algo considerável. Mas, diante da oferta, vem a pergunta: por que homens solteiros, bem resolvidos, que não são do tipo ‘galinha’ e querem encontrar um certo alguém, estão dando sopa por aí?. “De caçador, eles estão se percebendo como caça”, responde a psicóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) Ester Jeunon, que diz que, em termos de processo de decisão, quando há muitas ofertas o nosso cérebro tende a bloquear. “Vamos pensar no consumo. Andamos mais insatisfeitos. Diante de tanta variedade, quando escolhemos um não temos certeza de que foi o melhor”, compara, dizendo que são muitas as possibilidades em Belo Horizonte para um homem que não é casado e nem está namorando. “Mas todo e qualquer ser humano tem necessidade de afeto”, diz.
STATUS
Sem desespero ou qualquer sinal de ansiedade, acredite: os homens solteiros em BH se esforçam para mudar de status. Alguns contratam agências de namoro, que nos últimos anos têm recebido mais inscrições do sexo masculino. Outros preferem encontrar esse “certo alguém” pela noite da capital, mas não apostam nas baladas como um caminho certo. E há até quem fez campanha pelo Facebook atrás da mulher que conheceu numa fila de banco. “Os homens que não querem compromisso sério começam a dar sinais de cansaço. Eles percebem que as mulheres estão escolhendo e, agora, é hora de eles também se posicionarem. Elas estão mais ativas, determinadas, e sabem o que querem. Eles estão em busca de cuidados, de colo e de alguém que lhes dê segurança”, comenta o psicólogo clínico e professor do Departamento de Filosofia da PUC Minas, Robson Brito.
Para muitos especialistas, os homens hoje, que passaram, então, a ser a caça, estão confusos e perdidos com uma nova realidade: a independência feminina. Por trabalharem mais e até ganhar mais, elas, segundo apontam os especialistas, estão mais exigentes e, muitas vezes, buscam o imediato, sem dar tempo para a conquista, que, aliás, na opinião deles, está bem diferente e até mais complicada nos dias de hoje. “Tornou-se mais difícil conquistar. Hoje, vale mais uma ‘curtida’ em uma foto no Facebook do que um buquê de flores”, compara o gerente de marketing Douglas Gomides, solteiro em BH. O designer gráfico Vinícius Chagas também abre seu coração e diz adorar namorar, mas quer conhecer alguém que não tenha medo de se entregar. “Quero que ela compartilhe da minha vida. Sem ter medo de nada”, garante. Será? Afinal, o que querem os homens solteiros de Belo Horizonte?
ELES QUEREM SE ENTREGAR
Embora o relacionamento não seja pautado no casamento, como antigamente, os solteiros desejam como parceiras mulheres compreensivas
Pode ser na padaria, na locadora de vídeo ou na fila do cinema. Ele não vai desistir de encontrar a mulher para namorar. Este mês, o publicitário Bernardo Cunha, de 26 anos, ficou famoso na internet, depois de fazer uma campanha no Facebook para reencontrar uma garota que viu na fila de uma agência bancária, no Bairro Gutierrez, Região Oeste de Belo Horizonte. No dia 5, ele publicou na sua página na rede social : “Você, menina bonita, que estava na agência do Itaú do Gutierrez hoje às 14h, na fila do caixa. Vi que você olhou pra mim algumas vezes e você viu que eu olhei de volta. Só que você tava longe na fila e não dava pra puxar papo. Nem sou cara de pau assim. Mas sério, eu queria muito saber quem você era”. Foram mais de 3 mil compartilhamentos, quase 2 mil curtidas, e até a fan page do Itaú publicou a história. Uma torcida imensa. No entanto, ele achou a garota e ela está comprometida. “Chega uma idade em que você quer encontrar alguém bacana. Um dia essa pessoa vai aparecer para mim”, diz.
A história de Bernardo comoveu muitas mulheres do Brasil inteiro, que, inclusive, chegaram a se apaixonar por esse jeito bem-humorado e ousado de paquera. Seu post representa o que se vê hoje entre os homens mineiros: eles também querem se entregar. Solteiro há dois anos, Bernardo diz que é um homem que sai com os amigos, mas não gosta de “pegação”. “Há mulheres bonitas e interessantes, mas elas não são a maioria”, diz, confessando querer namorar, mas “o sino tem que bater”. “Quero namorar alguém que seja inteligente, com bom humor e sem frescuras. O tipo que procuro é aquela que vou gostar dela sem ela saber”, revela, dizendo ainda ter certeza de que essa pessoa vai aparecer casualmente, como em uma fila de banco. Para outro solteiro em BH, o designer gráfico Vinícius Chagas, de 28, também não será na balada que vai encontrar sua parceira.
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Ao mesmo tempo em que elas avançam profissionalmente, de acordo com Ester, também passaram a conquistar e não esperam ser conquistadas. “Muitas estão perdidas, alcançaram um espaço que não estão sabendo manejar. E há um paradoxo: elas adotaram um padrão masculino de paquera, mas ao mesmo tempo querem se casar”, compara, acrescentando que, dentro desse contexto, o homem, por sua vez, cria uma certa desconfiança e insegurança com tudo isso. “É difícil lidar com a liberdade do outro. Agora, eles estão se vendo como a caça e, como tal, estão frágeis e um pouco perdidos. Como essas coisas vão se dar não sabemos, mas é preciso construir uma nova forma desses encontros.” Douglas Gomides, de 26, gerente de marketing e solteiro na cidade, observa essa mudança. “Tem muita mulher bonita em BH, mas a grande maioria quer curtir. Atualmente, querem a lei do desapego”, revela.
PERFIL
Como trabalha com redes sociais, Douglas tem percebido que é cada vez mais comum o “ser social no virtual”. Para ele, a conquista passou, então, a ser no meio digital. Ao mesmo tempo em que quer encontrar uma parceira, Douglas conta que tem planos para viajar para fora. “Estou em uma idade que quero ser livre. Para namorar, a mulher tem que ser parceira, compreensível e lhe dar força nas suas escolhas e ambições. Ela tem que empurrá-lo e não prender”, diz. Essas características, citadas por Douglas e também por outros entrevistados, lembram, de acordo com psicólogo clínico Robson Brito, a figura materna. “Eles querem o cuidado, o colo. Todos nós, seres humanos, queremos ser amados e reconhecidos.”
Para Robson, hoje, os homens querem uma relação simétrica que seria de igual para igual. “Antigamente, as coisas eram muito prontas e estabelecidas pelo homem. Um paciente me disse certa vez que só iria aceitar se casar com a namorada se as coisas fossem divididas de igual para igual. Isso nos chama a atenção, eles querem uma relação simétrica e não assimétrica . Quando uma mulher tem mais poder que eles, eles ficam recuados. Eles estão percebendo que elas estão escolhendo e eles também têm que escolher. Vem o vazio e a angústia”, comenta o psicólogo, que há 20 anos tem um consultório e percebe que, nos últimos anos, o público masculino é maior. “Hoje, eles são 60% dos meus clientes e, durante as consultas, falam de suas procuras e angústias. Falam do desejo de se relacionar e das dificuldades que encontram diante da nova identidade feminina”, revela.
EM BUSCA DE COMPROMISSO
Gerente de agência de namoros diz que os homens se cansaram de baladas e agora querem ser cuidados e constituir família
A procura delas pelo imediato, a perda da conquista demorada, a ousadia feminina e a exigência das mulheres em não querer mais alguém só fofo e cheio de dengo, mas capaz de dar soluções, ter “pegada” e ser companheiro. “Outro dia escutei, adorei e repasso: ‘Homens precisam se tornar ogro-doces’, ou seja, precisam mesclar a força com a sutileza, equilibrar a rudeza nata do gênero masculino com a sensibilidade dos homens intitulados alfa”, aponta a psicóloga e hipnoterapeuta Janina Alckmim. Fácil para eles não é. Acostumados a ser caçadores, eles agora têm que aprender a lidar de igual para igual, mas muitos não gostam e nem querem isso. E confessam: estão assustados. Mesmo assim, preferem arriscar. E buscam até em agências uma mulher para namorar em Belo Horizonte.
Romântico, esportista e tranquilo, o funcionário público Carlos Alberto de Alencar Guerra, de 49 anos, diz que está tendo dificuldades em encontrar o “certo alguém.” “Hoje está ficando complicado. As pessoas querem uma coisa mais rápida e, se demorar muito e fazer um charme, elas partem para outro.” Solteiro, Carlos diz que está muito fácil ter uma relação sexual, mas um relacionamento sério não. “Fico impressionado com a reação das mulheres. Elas o chamam para sair e já querem ir para os `’finalmentes’. Aí você pergunta: ‘Não vamos nem ao cinema antes?’. Elas dizem não ter tempo para isso”, conta. Este ano, Carlos procurou uma agência de namoro para encontrar uma companheira mais facilmente. “Tem que combinar comigo. Sou corredor, gosto de esporte e de uma vida saudável. Mas mesmo assim está difícil”, comenta.
PAPÉIS
Na opinião da psicóloga Janina, as mulheres, muitas vezes, estão invertendo papéis e “se perdem”. “É claro que um jogo de sedução por parte das mulheres é esperado e desejado. Contudo, elas estão atacando e, assim, vulgarizam e perdem a feminilidade”, acrescenta, dizendo que, por sua vez, os homens têm que ser homens. “Isso não significa ser ogro, rude ou grosseiro. Gostamos de dengos, mimos e gentilezas. Mulher gosta de homem com pegada. O fofo não está com nada no quesito romance, serve para ser amigo, mas não seduz”, avisa, apostando que o fato de homens interessantes, com sucesso no âmbito profissional, estarem sozinhos é decorrente, em grande parte, desse comprometimento nas funções homem/mulher. “Eles buscam companheiras independentes, com autonomia e seguras o suficiente para serem cortejadas e partilhar ideias, planos e sonhos, denotando uma soma, complementando-se, agregando, e não competindo ou tirando proveito”, comenta Janina.
De acordo com Cláudya Toledo, especialista em relacionamentos amorosos e fundadora da A2 Encontros, é cada vez maior a procura do serviço pelo sexo masculino, chegando, em alguns momentos, a 50%. “Mais de 90% dos que nos procuram têm nível superior, renda acima de R$ 3 mil, são informados e avaliam a saúde emocional das mulheres ”, conta.
Autora do livro Eles são simples, elas são complexas, Cláudya define a busca masculina como simples. “A senha de acesso deles são os olhos. Ou seja, a atração visual. Eles têm um estereótipo que os atrai. Depois do perfil físico, ele vai ver os objetivos de vida dela, se ela lhe traz segurança, antes mesmo do envolvimento emocional. Já para as mulheres, a senha é o ouvido. Elas precisam ouvir as coisas que têm relação com elas, que têm uma complexidade de questões. Elas param e se preparam para encontrar o alguém. Já eles entram em um turbilhão de chances e oportunidades e é uma única mulher que vai pará-los”, compara.
AMOR EXIGE MAIS CALMA
Karla Rodrigues, gerente da A2 Encontros, em Belo Horizonte, diz que o mineiro está carente. “Eles se cansaram da balada, querem ser cuidados, alguém para ir ao cinema e construir família. Por outro lado, as mulheres não estão tendo tempo para o relacionamento, querem estudar e trabalhar e muitas não enxergam mais os homens. Querem o imediato, mas o amor exige calma.”
Paciência o analista desenvolvedor Faissal Barbosa Lauar, de 30, diz ter. Ele reconhece que tem muita mulher bonita e interessante em BH, mas não é em uma balada ou durante um evento rápido que ele prefere conhecê-las. “Gosto de namorar e de levar um relacionamento a sério. Não gosto de uns beijinhos e tchau”, confessa, destacando que elas estão mais modernas e já se aproximam dos homens. “Isso pode ajudar até a quebrar o gelo. Não me incomoda”, garante.
Para Faissal, a namorada ideal seria aquela que vai querer participar das coisas que ele faz. “Gosto de ler, de andar de bicicleta, ir ao cinema e outros programas. Mas tem que ocorrer a naturalidade do encontro”, comenta. Esse ‘encontro’ o engenheiro Daniel Andrade, de 41, teve há três semanas. Solteiro há dois anos, ele conta que encontrou alguém apresentado por amigos em comum. “Muitas não estão querendo algo sério. Não sou de balada. É bom ter um relacionamento sério, nos faz bem e dá uma estabilidade emocional”, diz, satisfeito com a mudança de status.