Pesquisa suíça acha evidências de que a Lua Cheia prejudica a qualidade do sono

Apesar dos resultados do estudo científico, insônia lunar é tema que gera controvérsia

por Correio Braziliense 24/08/2013 10:00

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

RECOMENDAR PARA:

INFORMAÇÕES PESSOAIS:

CORREÇÃO:

Preencha todos os campos.
Cícero / CB / DA Press
Clique para ampliar e saber quais foram os dados colhidos pelos pesquisadores durante as fases da lua (foto: Cícero / CB / DA Press)
A Lua Cheia é cercada de mitos. Além das histórias de lobisomens, há quem diga que as noites de céu mais claro têm o poder de deixar as pessoas enlouquecidas. Crendices à parte, a ciência encontra evidências de que o satélite pode mesmo influenciar o comportamento das pessoas. Um dos estudos mais recentes nesse sentido foi feito na Universidade de Basileia, na Suíça, que constatou alterações no sono de acordo com o calendário lunar.

“Ele causa efeitos mesmo quando a pessoa não ‘vê’ a Lua e não está ciente da sua fase atual”, diz o pesquisador Christian Cajochen, do Hospital Psiquiátrico da universidade. Os dados da pesquisa, publicados na revista Current Biology, mostram que, perto das noites de Lua Cheia, a atividade cerebral relacionada ao repouso profundo cai 30%. As pessoas, nesses dias, levam cinco minutos a mais para dormir e, em média, dormem 20 minutos a menos do que o usual. “Os participantes do estudo relataram sentir que o sono ficava pior durante o período e mostraram níveis menores de melatonina”, revela Cajochen.

A ideia para realizar a pesquisa surgiu de forma descontraída, quando membros da equipe estavam em um bar. Sob uma noite clara e a influência de alguns drinques, os cientistas se questionaram se o satélite realmente exerceria influência sobre o sono humano. Decidiram, então, buscar dados sobre o assunto, e encontraram um estudo realizado em 2003. “Foi pura curiosidade que nos motivou a buscar os dados registrados durante aquela pesquisa”, explica Sylvia Frey, integrante da equipe.

“O estudo tinha o objetivo de entender como as variações do dia mudam as funções cognitivas e regulam o ciclo de atividades diárias do organismo em grupos de jovens e idosos”, explica a doutora Frey. Por esse motivo, os envolvidos não tinham como saber que, um dia, o efeito da Lua sobre o sono seria levado em consideração. Esse fator, que eliminava qualquer possível influência nas respostas dos voluntários, fez com que o grupo decidisse usar os dados colhidos em 2003 para ver se conseguiam relacioná-los com o calendário lunar. “O objetivo de explorar a influência da Lua nunca foi mencionado aos participantes, técnicos e demais envolvidos no primeiro estudo”, ressalta Christian Cajochen, também participante da nova pesquisa.

Na análise de 2003, 17 pessoas de 20 a 31 anos e 16 com idade entre 57 e 74 tiveram o padrão cerebral analisado enquanto dormiam, Além disso, eram monitorados os níveis de hormônio secretados e o movimento dos olhos durante o sono. Outro dado interessante para o novo estudo é que a primeira pesquisa foi realizada em um laboratório fechado, no qual a influência de luminosidade externa havia sido excluída. Ao revisar os dados e compará-los com a fase da Lua nos dias em que eles foram colhidos, o grupo concluiu que as mudanças na qualidade e no tempo de sono e na produção hormonal eram mesmo significativas.

Hipóteses
Para Christian Cajochen, a influência do ciclo lunar sobre o sono é possivelmente uma herança do passado, quando o satélite pode ter sincronizado os comportamentos humanos. Hoje em dia, imagina, “a influência da Lua é mascarada pela luz elétrica e outros aspectos da vida moderna”.

A equipe relata que o satélite natural pode, ainda, influenciar o humor e o comportamento humano. De acordo com os pesquisadores, o ser humano pode ser dotado de uma espécie de “relógio lunar”. “Um mecanismo bioquímico que sincroniza processos fisiológicos”, diz Sylvia Frey.

Contudo, eles ressaltam que ainda não se sabe por que exatamente isso aconteceria. Tampouco há comprovação da existência desse relógio lunar. Segundo Frey, é preciso que haja mais pesquisas na área para determinar sua localização, seu funcionamento e sua base neural. “Nossa descoberta vai motivar cientistas a procurarem mais evidências de um relógio biológico lunar em humanos”, acredita Frey.

Contraponto
Apesar do otimismo da pesquisadora da Universidade de Basileia, o assunto ainda é muito controverso para saber o impacto que o estudo realmente terá. Mesmo porque outros estudos apresentam resultados bastante diferentes. Pesquisa realizada por cientistas da Sociedade Austríaca para a Medicina e Pesquisa do Sono, sob coordenação do doutor Gerhardt Kloesch, examinou 391 indivíduos de vários países da Europa e verificou que apenas 8% deles apresentaram problemas para dormir durante a Lua Cheia. E cerca de 25% dos indivíduos disseram, ainda, que a noite de sono foi particularmente boa durante esse período.

“Quando eu lido com pacientes que têm problemas para dormir, muitos dizem que a Lua Cheia atrapalha o sono. Então, até eu estava esperando que houvesse alguma evidência no estudo”, diz Kloesch. Os resultados, porém, não foram tão significativos assim.

Regulação
A melatonina é o hormônio responsável pela regulação do sono. Em um ambiente escuro e calmo, os níveis da substância no organismo aumentam naturalmente, o que gera a vontade de dormir. Com o passar dos anos, menos hormônio é produzido pela glândula pineal, o que pode causar insônia ou sono leve.

Ciclo circadiano
Ao contrário da Lua, o Sol tem influência comprovada sobre o organismo humano. O chamado relógio circadiano, ou relógio biológico, é responsável pela regulação da química corporal e do metabolismo durante o período de 24 horas aproximadamente, dependendo da pessoa. Esse ciclo é influenciado pela variação de luz ao longo do dia e faz com que a pessoa sinta sono à noite e fique mais ativa durante o dia. Ele é importante para regular outras atividades primordiais, como a fome.

Basicamente, as células corporais estão ajustadas para funcionar de acordo com o ritmo circadiano, sendo a quantidade e a qualidade de sono os fatores que mais influenciam no bom funcionamento do relógico biológico. Pesquisas da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, acharam evidências de que interrupções no funcionamento do relógio interno, além de questões genéticas, estão diretamente ligadas ao aparecimento de câncer.