De acordo com o músico curitibano Wagner Barbosa, um dos poucos professores certificados pela técnica SLS no Brasil, o abuso vocal está presente em muitas profissões. “Entender melhor o funcionamento da voz pode evitar inclusive o afastamento do trabalho. Há maneiras de usar bem a voz sem que isso cause rouquidão – que é diferente de um simples cansaço vocal, resolvido por uma boa noite de sono”, explica.
Os números confirmam a afirmação do especialista: uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com resultados publicados nos Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz, apontou que 59,2% dos professores brasileiros sofriam com rouquidão e 25,6% tiveram perda temporária da voz. Em outros estudos, publicados em revistas internacionais, o índice foi semelhante: 57% na Espanha e 58% nos Estados Unidos.
Como funciona?
A técnica SLS chegou ao Brasil há menos de cinco anos, mas já conquista adeptos também entre artistas que alcançaram sucesso nacional recentemente, como Marcelo Jeneci e Laura Lavieri, Criolo, Marcelo Pretto, Giana Viscardi e Verônica Ferriani. Criado pelo maestro norte-americano Seth Riggs, o método é inusitado e diferentes das técnicas tradicionais, porque trabalha com causa e efeito (cause and effect).
Com um diagnóstico detalhado realizado pelo professor, o exercício é aplicado de forma individual, de acordo com a dificuldade do aluno. Por exemplo: para quem já é cantor ou pretende se tornar um profissional da voz, Wagner explica que o principal erro é achar que precisamos executar muitas tarefas ao cantar. “Isso despende muita energia. Entender o funcionamento do instrumento voz é a grande chave. Assim você percebe que, na verdade, tem que fazer menos coisas ao mesmo tempo e a voz pode soar mais livremente”, afirma o músico.
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Uma questão importante é a autoconfiança. Críticas bem populares, como 'você fala para dentro' fez com que Wagner ganhasse clientes de profissões variadas, como médicos e advogados, que buscam mais clareza e expressão vocal. O professor destaca ainda que o ideal é um trabalho conjunto com o fonoaudiólogo, uma vez que as duas áreas estão intimamente ligadas.
Segundo Juliana, o aprendizado e o treino são constantes. “O processo não é rápido, mas também não é lento. É possível perceber os resultados logo nos primeiros meses de aula. Você aprende a controlar o seu corpo e utilizá-lo a seu favor para facilitar o canto e a colocação da voz”, define. Segundo ela, o SLS ensina a 'manipular' a voz, através da postura, abertura da boca e relaxamento dos músculos faciais. “Você percebe que tudo isso realmente influencia no canto e até na fala. Confesso que fiquei surpresa com os resultados e com a melhora que obtive, pois eu realmente nunca imaginei que conseguiria cantar qualquer coisa!”, comemora a arquiteta.
Mesmo não sendo profissional da música, ela conseguiu observar mudanças em seu dia a dia. Por fazer visitas constantes a obras, Juliana precisa, muitas vezes, se sobrepor ao barulho. “Você aprende a elevar o tom de voz sem forçar ou machucar as cordas vocais. E consegue melhorar também o desempenho quando necessário falar em público, em alto e bom som. Passei a ser mais bem entendida e ouvida”, pontua.
Essa melhora na qualidade e no entendimento das palavras está no cerne da técnica. Como diz o próprio fundador, Speech Level Singing é a capacidade de sempre manter o nível de produção da fala. “Você não canta como você fala, mas precisa manter o mesmo conforto e facilidade produzidos na sua voz falada, sem fazer força excessiva para as notas agudas ou para as notas graves. Um professor precisa saber como levar cada um a cantar por meio de sua extensão vocal, sem mudanças bruscas de qualidade de som”, resume Seth Riggs. No Brasil, as aulas custam R$130/hora. Clique aqui e conheça os profissionais certificados em SLS no país.
Palestra gratuita orienta sobre cuidados com a voz
O projeto 'Quarta da Saúde' promove nesta quarta-feira (21/08) a palestra 'Voz: Cuidado e Prevenção de Lesões', com a professora do Departamento de Fonoaudiologia da UFMG, Letícia Caldas.
A palestra será às 12h30, na sala 150 da Faculdade de Medicina (Av. Alfredo Balena, 190, Santa Efigênia). A participação é gratuita e não é necessária inscrição prévia. Para mais informações: (31) 3409-9651