A linhaça não foi inventada no século 21. Tampouco a soja ou o noni. Mas novas descobertas ajudaram a voltar os holofotes a alguns alimentos nos últimos anos. Algumas são quase consenso entre especialistas. Outras, nem tanto. Conheça alguns exemplos de novos integrantes do prato do século.
Quinoa
Chia
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Linhaça
Soja
Quinoa
- A FAO, conselho da ONU para Agricultura e Alimentação, está dedicando o ano de 2013 à quinoa. “Considerando que ela tem uma proteína de maior qualidade do que as do arroz e do trigo, além de não conter glúten, queremos promover o seu cultivo”, justifica Alan Bojanic, vice-representante do Escritório Regional da FAO para América Latina e Caribe.
- Cultivada na região dos Andes, a quinoa passou a figurar entre os alimentos adicionado à refeição dos brasileiros há poucos anos. Muitas pesquisa evidenciam e enfatizam ao potencial positivo de grãos, sejam eles leguminosas (feijão, soja e lentilha), sementes oleaginosa (girassol e linhaça), cereais (trigo e milho) e pseudocereais, grupo em que se insere a quinoa.
- De acordo com o engenheiro agrônomo e pesquisador Anthony Fardet, a quinoa é um produto alimentar que combina carboidratos de baixo índice glicêmico, efeito de saciedade e um conteúdo significativo de energia, juntamente com uma alta densidade em fitoquímicos bioativos. Para o nutrólogo Ênio Cardillo, o problema é colocar na quinoa a expectativa de que será um alimento mágico.
Chia
- A chia é uma planta cujas sementes e folhas são aproveitadas para usos culinários. Elas são ricas em cálcio, magnésio, manganês, ômega 3, fósforo, proteína e antioxidantes, portanto, é considerada um alimento funcional de alto valor nutritivo. O uso mais recente da chia, no entanto, foi para fins de emagrecimento, o que despertou a curiosidade de diversos pesquisadores a respeito.
- A ciência e a nutrição estão rodeadas por dúvidas e polêmicas, mas uma pesquisa de 2009 dos departamentos de biologia e de saúde da Appalachian State University, nos Estados Unidos, concluiu que o alimento não promoveria a perda de peso ou diminuiria os fatores de risco de doenças em pessoas obesas.
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Linhaça
- A linhaça entrou na moda nos últimos anos, tratada ainda como um alimento funcional, que faria bem à saúde. Isso porque ela seria rica em ômega-3, o mesmo ácido graxo encontrado nas nozes, castanhas, no óleo de canola e na gordura dos peixes de água fria. A questão, no entanto, ainda não está bem resolvida entre pesquisadores.
- Alguns distinguem os ácidos desses produtos dos ácidos presentes nos peixe e afirmam que a diferença é providencial para que os peixes sejam altamente recomendados na alimentação e a linhaça seja apenas neutra. “Os peixes de água fria são ricos em um tipo de gordura que contém ácidos graxos insaturados que pertencem à família dos ômega-3. No entanto, o ácido graxo que existe nesses produtos vegetais têm 18 átomos de carbono e três duplas ligações (ALA) e os do óleo de peixe contêm 20 a 22 átomos de carbono e cinco e seis duplas ligações, respectivamente”, afirma Ênio Cardillo, nutrólogo e professor de Medicina da UFMG. Segundo ele, a capacidade do metabolismo humano de converter o ALA em EPA e DHA seria de menos de 1%.
Soja
- Uma das protagonistas da alimentação da última década, até o século 19, quando começou a ser usada para fabricação de alimento de animais, a soja nada mais era no Ocidente do que uma planta exótica. No Brasil, segundo José Marcos Gontijo, pesquisador da Embrapa Soja, foi só depois dos anos 1980 que ela passou a ser vista com possibilidades nutricionais.
- Mas o gosto ruim e a falta de prática das pessoas na preparação do alimento —o contato com a água fria, como muita gente instintivamente fazia, desencadeia reações químicas que levam à formação de cheiro e sabor ruins — deixou a soja de escanteio durante anos, até que um grupo especializado da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, descobriu que, se aplicado um choque térmico nos grãos antes do preparo, gosto e odor desagradáveis desaparecem. “Foi o pulo do gato no consumo da soja. Isso foi na década de 1980. E aí então na década de 1990 tem início uma nova era para ela, que até então era considerada alimento de desnutridos, uma coisa para salvar o mundo da fome”, explica Gontijo.
- A partir de então, começaram a pipocar nas revistas especializadas e universidades estudos e descobertas sobre os benefícios das proteínas e isoflavonas da soja, o que provavelmente justifica o investimento por parte da indústria alimentícia nesse tipo de alimento a partir daí. Um dos mais recentes é do ano passado, e diz que o consumo de soja pode diminuir em até 26% os sintomas desagradáveis da menopausa, especialmente as ondas de calor. “Nosso estudo sugere que o genistein (uma isoflavona específica da soja) — em pelo menos 19mg por dia —, pode funcionar bem para mulheres na menopausa”, diz Melissa Melby, PhD e professora da Universidade de Delaware.
- Os estudos pró-soja não param por aí. “Sabemos que as isoflavonas reduzem o risco de cânceres hormônio-dependentes, como o de mama, de próstata, além do de intestino. Com relação às proteínas, o que se sabe é que elas reduziriam o risco de doenças cardiovasculares, aumentariam a elasticidade das artérias e melhoraria a qualidade de vida dos diabéticos”, enumera o pesquisador da Embrapa.
- Por outro lado, os mesmos nutrientes vistos como mocinhos por alguns estudiosos, assumem ares de vilões para outros. As isoflavonas, por serem estruturas semelhantes a hormônios femininos, são os principais alvos de críticos e já foram acusadas de, no lugar de prevenir o câncer de mama, por exemplo aumentar as chances do seu aparecimento. “A soja é um alimento muito sujeito a reações do organismo e não existe muita informação a respeito. E há o agravante de a soja brasileira ser principalmente transgênica, o que constitui ainda um fator de intolerância. Por causa dessas estruturas semelhantes a hormônios pode fazer com que uma menina menstrue mais cedo ou que o menino tenha atrofia peniana”, alerta o nutrólogo Arnoldo Velloso. “Recomendo apenas produtos de soja fermentada, que têm a proteína K2, preventiva da osteoporose e que ajuda a aumentar o cálcio no organismo”, pondera.
- O noni é uma fruta asiática amarela de cheiro e gosto estranhos proibida pela Anvisa. Popularmente, ficou conhecida por sua ação supostamente anti-inflamatória e antioxidante. Alguns arriscam dizer até que ela seria efetiva na cura do câncer. Segundo a Anvisa, no entanto, faltam estudos científicos no Brasil que provem os efeitos positivos da fruta e descartem os negativos.
- Desconfia-se ainda que o noni causa problemas hepáticos, que podem ser causados simplesmente por sua composição — ainda não definitivamente identificada — ou pelo consumo exagerado. Apesar da proibição, não é difícil encontrar produtos feitos do noni em algumas farmácias ou em sites na internet. Embora os asiáticos consumam o noni naturalmente, alega-se que eles têm estilo de vida diferente do brasileiro, o que interferiria na reação do organismo à fruta.
Flor de sal
- O sal de cozinha há tempos já foi condenado pela comunidade científica pelos males que traz à saúde. Em substituição, têm-se usado sais mais nutritivos, como a flor de sal, que recebe esse nome devido à delicadeza exigida na extração e à aparência dos grãos, também mais delicada. “O uso da flor de sal é ideal porque ele é rico em vários minerais, ao contrário do sal refinado de cozinha, composto só de NaCl”, afirma o nutrólogo Arnoldo Velloso da Costa.
- O tempero é obtido na camada superior das salinas, antes que se depositem no fundo e se transformem, finalmente, no sal marinho, o qual contém tanto sódio quanto o sal refinado de cozinha. De cada 80 quilos de sal marinho produzidos, somente um quilo de flor de sal é extraído, o que explica seu alto valor de mercado e limita o uso indiscriminado pela maioria das pessoas. A flor de sal é considerada gourmet e normalmente colocada na finalização dos pratos. De tão na moda, tem sido usada até em doces.
Amaranto
- Conhecido como feijão dos Andes, nos últimos anos a semente passou a ser falatório como promessa de redução nas taxas de colesterol ruim, o LDL. Um grande incentivo à nova “tendência” em culinária saudável veio de um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), divulgado em 2010.
- Os pesquisadores observaram 18 voluntários portadores de síndrome metabólica, um conjunto de sintomas, como pressão e colesterol altos. Durante um mês, os pacientes consumiram até 30g de farinha de amaranto por dia na forma de biscoito. Ao fim da pesquisa, os níveis de colesterol ruim havia baixado.
- Para alguns especialistas e segundo estudos já um pouco mais antigos com galinhas, a redução estaria associada à inibição de uma enzima no fígado, que seria responsável pela síntese do LDL. O amaranto também foi considerado um alimento funcional, por ser rico em aminoácidos, cálcio, ferro, fósforo, potássio e zinco.