Saúde

Pessoas abandonam tratamentos tradicionais e buscam experiências alternativas para aliviar tensões

Técnica do coaching e terapia musical estão entre as opções para aplacar a ansiedade, reduzir o estresse, superar as frustrações e enfrentar desafios

Renata Rusky

Felícia recorreu a uma técnica chamada cura reconectiva: hoje, sente-se muito mais disposta para fazer exercícios físicos e cuidar de suas plantas
Alimentar-se bem, fazer exercícios físicos regularmente, dormir oito horas por dia, morar perto do trabalho e não precisar padecer no trânsito. Tudo isso confere qualidade de vida, é certo. Mas, para a maioria das pessoas, medidas simples como essas não são suficientes para aplacar a ansiedade, reduzir o estresse, superar as frustrações, enfrentar desafios e até injetar mais ânimo no dia a dia. Por essa razão, é cada vez mais comum a procura por experiências que possam restabelecer o equilíbrio sem que seja preciso recorrer às terapias tradicionais ou aos remédios controlados, tão em voga, até para situações que poderiam ser resolvidas com uma boa conversa ou uma simples mudança de hábitos.


Nessa busca, vale tudo — ou quase tudo. Boa parte desse caminho é pavimentada pelas chamadas terapias alternativas ou técnicas terapêuticas, muitas sem respaldo científico, mas todas com testemunhos positivos de praticantes. Algumas já têm a chancela de pesquisas, como a meditação. Outras são baseadas na psicologia, como o trabalho de coaching, uma espécie de treino capaz de redirecionar caminhos, pessoais e profissionais, para tirar o foco do problema e levar à solução.

Felícia Mishimura Carneiro, João Eleuthério de Carvalho e Walesca Bernardes são exemplos de pessoas que saíram da zona de conforto para buscar alternativas que pudessem melhorar a vida, sob aspectos diversos. Recorreram a práticas absolutamente diferentes, mas acabaram conseguindo objetivos semelhantes: deixar a vida mais tranquila e — consequentemente — bem mais leve. De quebra, deram um passo a mais em direção ao autoconhecimento.

“O ser humano carrega dentro de si a capacidade de reinventar e de interditar os aspectos negativos de si próprio”, garante o psicanalista Manoel Thomaz Carneiro. “Para isso, é preciso se conhecer”, complementa. Para ele, as percepções do mundo e da própria pessoa acabam sendo amputadas, o que induz a achar que sempre há um culpado pelas situações enfrentadas, quando, na maior parte das vezes, a responsabilidade é dela mesmo. “Nós precisamos de manutenção contínua. De vontade, da disciplina, do investimento necessário para cumprir metas essenciais”, diz.

Felícia Mishimura, 64 anos, pedagoga, foi criada por pais que sempre ensinaram a resolver problemas e não a alimentá-los. Mas percebia que estava vacilante na hora de tomar decisões, sem coragem nem atitude. “Parecia que eu tinha me desligado daquilo tudo que tinha aprendido, que tinha esquecido o que os meus pais haviam ensinado”, explica. Foi, então, apresentada por uma amiga a um trabalho chamado cura reconectiva e reconexão, feito a partir de frequências eletromagnéticas.

De acordo com a teoria do médico Eric Pearl, norte-americano precursor dessas duas técnicas, um ajuste na grade magnética do planeta — o mesmo que, segundo ele, faria com que animais se perdessem em suas rotas sazonais — está permitindo que certas frequências do campo magnético do universo estejam, pela primeira vez, há algumas dezenas de anos, disponíveis em nosso planeta. A ideia da reconexão e da cura reconectiva é canalizar essas ondas sobre uma pessoa e redesenhar o campo magnético dela, de forma que ele esteja alinhado ao do universo. Isso é feito por meio da imposição de mãos.

“A diferença entre a reconexão e a cura é o objetivo de cada uma delas. A primeira visa a evolução, o desenvolvimento da vida que se deve caminhar, a reconexão com o seu eu esquecido, que não está se manifestando. A segunda é, de fato, curar alguma dor”, explica Karla Kinhirin, habilitada pelo próprio Eric Pearl a ser catalisadora do processo. “A reconexão é como encontrar a si próprio e ter a certeza de que é possível ser pleno sem ser perfeito e que não é necessário passar por dificuldades para evoluir”, afirma Karla.

Felícia passou por ambos os procedimentos. Garante ter sentido os efeitos, inclusive físicos. “Desde criança, sentia uma dor na perna. Os médicos diziam que não era nada e só massagem fazia a dor passar. Quando pequena, minha mãe sofria fazendo massagem de madrugada. Depois da cura reconectiva, passou”, diz. De acordo com Malu Nóbrega, também profissional habilitada, a cura física é apenas um efeito colateral: “Dor é sempre um aviso de que algo está fora do lugar. Uma consequência do sistema fora de equilíbrio, seja emocional, mental ou físico”.

Além do alívio das dores na perna, Felícia, finalmente, criou coragem para fazer sua viagem ao Japão. “Eu tinha muito medo de embolia pulmonar, porque várias pessoas morrem disso”, justifica. Hoje, ela sente que tem mais percepção sobre a vida, além de ter resgatado os valores que sua família lhe passou, incluindo a atitude diante de problemas. “A vontade de resolver os problemas está no meu DNA, de japonês, mas eu não me comportava mais assim”, desabafa.

Waleska contratou um profissional de coaching e descobriu que exigia de si própria muito mais do que de qualquer outra pesso
"Eu era a pobre menina rica: estava tudo ótimo e, mesmo assim, eu não estava feliz"
Walesca Bernardes, 36 anos, gerente regional de vendas

A gerente regional de vendas Walesca Bernardes, 36 anos, buscou outro tipo de técnica para ajudá-la a tomar as próprias decisões. Resolveu então procurar uma coach. Depois de 12 anos em uma empresa, com uma boa carreira, e com várias promoções no currículo, não se sentia mais motivada nem produtiva. Os filhos estavam entrando na adolescência e não dependiam mais tanto dela, outra situação com a qual tinha dificuldades para lidar. “Eu era a pobre menina rica: estava tudo ótimo e, mesmo assim, eu não estava feliz”, admite. “Foram três meses de trabalho com a coach. Nas primeiras semanas, eu já me sentia mais leve, emocionalmente e fisicamente porque, nas primeiras seis sessões, perdi 7kg”, conta Waleska.

Mais segura para tomar decisões e se cuidar melhor, começou uma reeducação alimentar, fez outro MBA e jogou os 12 anos para o alto. Pediu demissão e aceitou um emprego em uma nova empresa. “Eu sempre gostei dessa sensação de desafio. É um estímulo, tanto que trabalho na área comercial, tenho vontade de bater metas e tudo, mas estava muito pesado querer ser a profissional, a esposa e a mãe perfeita e nem sempre conseguir”, desabafa. Com o tempo, ela recuperou o gosto por isso e entendeu que ninguém exigia a perfeição dela, além dela própria. “Eles aceitavam e ainda aceitam meu estilo de vida. Eu não precisava de toda aquela preocupação.”

O trabalho de coaching tem a função de fazer com que a pessoa reveja suas atitudes diante das adversidades. “A ideia é fazer com que a pessoa saia da inércia e comece a querer testar novas fórmulas, além de promover o autoconhecimento”, afirma Adriana Marques, coach certificada pela Sociedade Brasileira de Coaching. Os três pilares do coaching são o foco no futuro, na ação e a autorresponsabilidade. “O coachee (que contrata o serviço) não pode ficar refém do passado, tem que agir, caso não esteja satisfeito. Deve ser o que propõe a mudança e não o que coloca a culpa nos outros, é quem assume responsabilidades”, explica Adriana.

O diagnóstico, no coaching, é dado pela própria pessoa, por meio dos questionamentos que a coach sugere. “Mudar é difícil, porque envolve sair da zona de conforto. Mesmo que essa zona seja ruim, a pessoa já está acostumada com ela”, afirma o psicanalista Manoel Thomaz Carneiro. Além disso, Adriana ressalta: “É difícil o sentimento de perceber que também se tem culpa pelo que está passando, mas não é nisso que focamos no coaching. Focamos na solução. Queremos respostas que levem para a frente”, esclarece Adriana.

O coaching não é recomendado só para quem se sente mal com a situação em que vive, mas para quem quer mais da vida. “As pessoas não estão acostumadas a se fazer perguntas, então, o processo é sempre revelador. Elas se surpreendem desde o início. Começam a ver a vida por outros ângulos”, garante Adriana.

João Eleuthério escolheu a ioga e, depois, o kântele, um instrumento musical, para mudar sua frequência: do estresse total à tranquilidade
Música para relaxar
Menos focado em mudanças profissionais e mais preocupado em conseguir relaxar das tensões cotidianas, João Eleuthério de Carvalho, 51 anos, funcionário público, encontrou em frequências de ondas emitidas pelo som do kântele, um intrumento musical, um meio de alívio. O estresse do trabalho era tanto que ele somatizou e desenvolveu uma dor no ombro: “Tive uma contração muscular, que atingiu um nervo. Comecei com fisioterapia, fui para a ioga e acabei conhecendo o kântele em uma das aulas”, conta. Ele está certo de que as três atividades foram essenciais para a recuperação.

Em vez de sete notas musicais, o kântele tem apenas cinco, excluindo o dó e o fá. A ausência dessas notas, além de possibilitar que qualquer pessoa toque o instrumento, ainda faz com que o som seja mais relaxante: “A escala pentatônica promove um estado de espírito mais onírico. É a escala de uma criança pequena. O kântele é um convite a esse estado de alma”, afirma Adriana Pirola, terapeuta e professora de kântele. Portanto, seria a solução para o adulto que está sem ânimo, sem vida, diante do ritmo frenético do cotidiano. “Quando tenho aqueles dias de cão, é muito importante pra mim tocar um pouco à noite. Tem dias que chego em casa, depois da aula, e estou tão relaxado, que basta sair com os cachorros e, depois, dormir direto”, admite João, que já chegou a compor com o instrumento.

“A música tem a propriedade de trazer a pessoa para o presente. Ela não pode estar ansiosa, lá na frente, nem no passado, se não perde a nota”, explica Adriana Pirola. Na aula, os mais ansiosos começam respirando e desacelerando coração e pulmão. “Apesar de simples de tocar, alguns não conseguem de primeira, só por não conseguir ser devagar”, relata Adriana. Ela, no entanto, adverte: “Cada grupo tem o seu objetivo. Alguns querem só relaxar; outros, aprender a tocar várias músicas; outros querem compôr e se expressar pela arte”.

Do ponto de vista terapêutico, no entanto, não há nenhum tipo de obrigação. O aprendizado da música é consequência e o trabalho em grupo pretende que todos sintam-se acolhidos e que sejam tolerantes com as necessidades e as dificuldades dos outros. A atividade com o kântele tem seus fundamentos baseados na musicoterapia, segundo a qual as células do corpo respondem ao estímulo vibratório das ondas musicais. “É uma experiência espiritual entrar em ressonância com o kântele”, encanta-se João.